“085. Disse Jesus: Adão veio a existir a partir de um grande poder e uma grande riqueza e, ainda assim, não se tornou digno de vós, porque se o fosse, (ele) não (teria experimentado) a morte”.
“Adão veio a existir a partir de um grande poder e uma grande riqueza”
Precisamos, primeiramente, entender a figura de Adão. Segundo a Bíblia Sagrada, Adão foi o primeiro “homem” criado por Deus no universo (planeta Terra), cuja afirmativa não consegue respaldo nos acontecimentos posteriores.
Vejamos: Adão e Eva tiveram dois filhos: Caim e Abel. O mais velho (Caim) matou o mais novo e foi expulso por Deus do local onde habitava, indo para a região de Node. Ali encontrou sua mulher e com ela teve filhos (Gênesis – cap. 4).
Se Adão e Eva foram os primeiros seres humanos e só tiveram dois filhos, um dos quais foi morto pelo outro, de onde veio a esposa de Caim? Por que Deus teria feito um sinal em Caim para que quem o encontrasse no caminho não o matasse?
Diante desses fatos estamos, portanto, frente a mais uma simbologia utilizada pelos autores dos livros da Bíblia Sagrada.
Os espíritas, buscando interpretar esta simbologia falam na “raça adâmica”, ou seja, Adão e Eva simbolizariam todo um grupamento de espíritos que formou a primeira “turma” a encarnar no planeta Terra.
50 – A espécie humana começou por um só homem?
- Não; aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único que povoou a Terra. (Livro dos Espíritos)
Esta versão, em se tratando de planeta Terra é verídica, mas ainda não corresponde com a intenção com a qual foi ditado ao mundo dos encarnados o episódio de Adão. Como afirma a Bíblia, Adão e Eva moravam no “paraíso”, ou seja, no reino do céu. A raça adâmica teria sido um grupamento de espíritos vindos de outro planeta (Capela) quando este transformou o seu sentido de encarnação (passou de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração). Portanto, esses espíritos não vieram do “paraíso” (local de moradia de espíritos elevados), mas foram exilados de seu planeta por não terem alcançado a evolução necessária para ali permanecerem.
A história de Adão e Eva se refere aos primeiros espíritos criados no universo e não no planeta Terra e foi trazida aos espíritos que aqui encarnaram como uma lembrança do “trabalho” que deve ser executado para que se possa voltar ao “paraíso”.
Portanto, “Adão” é um espírito gerado por Deus em qualquer época, puro e ignorante (sem conhecimentos). É isso que Jesus afirma: quando Deus gera um espírito: que isso é um grande poder e uma grande riqueza.
“ainda assim, não se tornou digno de vós, porque se o fosse, (ele) não (teria experimentado) a morte”
Podemos comparar o espírito gerado por Deus com um recém-nascido no planeta Terra: possui a pureza sentimental, mas ignora as coisas do mundo que o recebe. Assim como o bebê, o espírito precisa aprender as coisas do universo. No entanto, esta procura não pode causar a perda da sua pureza, como acontece com os seres humanos.
Esta condição para o aprendizado consta da história de Adão e Eva:
“Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore, pois, no dia em que você comer, certamente morrerá” (Gênesis – 2,16)
Como vimos na apresentação deste livro (logia 19), na Bíblia Sagrada a árvore representa o conhecimento e os seus frutos os ensinamentos. Utilizando estas figuras, podemos entender que Deus avisa ao espírito recém-nascido que ele pode obter todos os conhecimentos, menos os que lhe darão os ensinamentos para decidir entre o “bem e o mal”. Se o fizer, certamente entrará no ciclo de encarnações (“morrer”).
“A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de se comer. E ela pensou como seria bom ter este conhecimento” (Gênesis – 3,4)
O espírito recém-nascido que estava na busca do conhecimento perdeu a sua pureza, pois buscou o conhecimento para poder decidir por si próprio o que era “bem ou mal”. A religião católica chamou a esta perda de pureza por parte dos espíritos de “pecado original”.
A transgressão aos desígnios de Deus origina a determinação para que o espírito entre no processo de reencarnações, que acabará quando em uma das encarnações ele conseguir “abrir mão” deste conhecimento. Por isto a religião católica afirma que o batismo (ato religioso realizado algum tempo depois da encarnação) “apaga o pecado original”.
No entanto, apenas ser batizado não garante a elevação espiritual. É preciso que ao longo de sua vida o espírito mantenha a pureza com a qual vem ao mundo. Como já abordado neste trabalho, o poder de definir entre o “bem e o mal” se origina nos conceitos que o espírito forma ao longo da sua vida material.
Para que o espírito mantenha-se puro durante a encarnação, precisa abrir mão de seus conceitos colocando no lugar deles a certeza de que Deus age perfeitamente.
Alcançar este estágio de evolução espiritual é a chamada “reforma íntima”, ou seja, a mudança de sentimentos.
Não é o batizado ou qualquer cerimônia religiosa que pode conseguir o fim do “pecado original”, mas somente a mudança dos sentimentos de um espírito para o amor universal ensinado por Jesus.
Esta mudança determinará o fim da “morte”, ou seja, o fim do processo da “transformação” de ser humano em espírito. Enquanto isto não acontecer, este espírito não será digno da coletividade espiritual, porque buscará a sua felicidade individual com prejuízo da felicidade do todo universal.