O evangelho segundo Tomé

Logia 84 - Vaidade

“084. Disse Jesus: quando vedes vossa aparência, vós vos rejubilais. Mas quando virdes vossa imagem, aquela que existe antes de vós, a que não morre e nem se manifesta, quanto podereis suportar?”

“quando vedes vossa aparência, vós vos rejubilais”

“APARÊNCIA – o que se mostra à primeira vista” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

Ao buscar a definição da palavra “aparência” pode se compreender sobre o que Jesus nos ensina: o corpo físico. O ser humano, aquele espírito que imagina que o corpo é ele, possui adoração por essa figura física. Desde a antiguidade se realizam cerimônias onde o culto ao corpo físico é exercido.

Cuidar do corpo físico é amealhar bens na Terra, o que é contrário ao ensinamento que o Mestre nos deixou. O grande culto que o espírito deve fazer na sua existência é às coisas espirituais.

Nos dias de hoje este culto é mais acentuado. Além da beleza estética (ginásticas, medicamentos, etc) o ser humano ainda procura o culto ao corpo sob a forma de saúde física. São diversos nutrientes, exercícios, cuidados e até cirurgias que o espírito encarnado usa para o seu corpo físico no sentido de prolongar a sua rigidez e aparência.

O sentimento que leva o ser humano a esta busca é conhecido como “vaidade”.

Procurando-se na mesma fonte da citação anterior encontraremos a seguinte definição para o sentimento “vaidade”: “Desejo moderado de atrair admiração”. No entanto, no mesmo dicionário encontramos também a seguinte definição: “Qualidade do que é vão, ilusório”.

A vaidade que leva o ser humano a cuidar de seu corpo físico é vã, pois a essência desta busca não contempla o todo, mas busca alcançar a fama e o elogio individuais.

Como já afirmado, todo sentimento utilizado para o individual é negativo.

Cultuar o corpo físico com o sentido de parecer mais belo ou mais jovem, é um ato movido por um sentimento com polaridade negativa. Cultuar a saúde com a simples intenção de prolongar a vida material sem que esta tenha nenhum objetivo espiritual, também é um ato negativo.

Tudo aquilo que o ser humano pratica que não leve em consideração a elevação espiritual é em vão e ilusório. Em vão porque a decadência do corpo físico é inexorável. Por mais cuidados que se tenha com o corpo, um dia uma doença se instalará e tanto o “forte” como o “fraco” serão desligados dessa matéria densa.

A vaidade negativa é a que é utilizada para fins materiais (individualistas), mas existe também a vaidade positiva (que visa a elevação espiritual), pois o espírito tem a obrigação de cuidar de seu corpo físico que é o instrumento que Deus lhe emprestou para a sua encarnação. Este cuidado, porém, nada tem a ver com remédios ou nutrientes materiais, mas sim com as coisas espirituais.

“Mas quando virdes vossa imagem, aquela que existe antes de vós, a que não morre e nem se manifesta”

Jesus nos fala de uma outra imagem: a que existe antes do ser humano, a que não “morre” nem se manifesta aos sentidos do corpo físico. Esta imagem (“corpo”) foi explicada pela espiritualidade a Alan Kardec.

93 – O espírito propriamente dito, tem alguma cobertura, ou está, como pretendem alguns, envolvido numa substância qualquer?

O espírito está revestido de uma substância vaporal para os teus olhos, mas ainda bem grosseira para nós; muito vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e se transportar para onde queira.

150 b – Não tendo mais seu corpo material, como a alma constata a sua individualidade?

Ela tem ainda um fluído que lhe é próprio, tomado da atmosfera de seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.

Durante a vida, o espírito se liga ao corpo por seu envoltório semi-material ou perispírito. A morte é apenas a destruição do corpo e não desse segundo envoltório que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica. (Comentários à resposta da pergunta 155)

(Livro dos Espíritos)

Nestes três textos do “Livro dos Espíritos” encontramos as informações passadas por Jesus nesta logia a respeito desse corpo: anterior ao espírito, sobrevive após o desencarne e não é perceptível pelos espíritos encarnados.

Na verdade o perispírito é formado por diversos “fios” energéticos que possuem o mesmo formato do corpo físico internamente ou externamente, pois possui a mesma forma do corpo, tendo em vista que envolve todas as células deste.

Estes “fios”, além de servirem para “reter” o espírito, transmitem os sentimentos que o espírito recebe através dos chacras. Todas as energias (sentimentos) que penetram por qualquer chacra do corpo espiritual (perispírito) circulam por toda extensão deste antes de serem utilizadas pelo espírito.

“quanto podereis suportar”

O sentimento negativado quando circula pelos “fios” que compõem o perispírito causam um efeito semelhante à oxidação que sofrem os materiais metálicos materiais. Os sentimentos positivos, ao contrário, possuem uma propriedade revitalizante destes “fios”.

Quando existe a oxidação dos metais na matéria, as partes oxidadas vão se desprendendo da peça atingida. O mesmo ocorre com os “fios” que compõem o perispírito. O sentimento negativo ataca estes fios decompondo as “paredes” do mesmo.

Muitos são os exemplos que a literatura espírita traz sobre os efeitos dos sentimentos negativos sobre o perispírito, mas o espírito na carne continua ignorando estes avisos e cultuando a forma do corpo físico e não a do seu corpo espiritual.

Por isto Jesus pergunta se poderemos suportar ao ver a nossa real aparência: o perispírito. Um ser humano atlético, forte, com uma “bela” aparência física, causada pelo sentimento vaidade negativado, não conseguiria se reconhecer através do seu perispírito...

Como foi dito anteriormente, se o sentimento negativo oxida os fios do perispírito, o sentimento positivo os revitaliza. Portanto, a vaidade positiva pode medicar o que a vaidade negativa destrói.

Para se ter a vaidade positiva é necessário que o espírito utilize o amor universal como base para os seus atos. Somente a reforma íntima, que faz o espírito atingir o amor universal, pode garantir a beleza do perispírito!