O evangelho segundo Tomé

Logia 80 - Divina Comédia Humana

“080. Disse Jesus: aquele que conheceu o mundo encontrou um cadáver, mas aquele que encontrou um cadáver, o mundo não é digno dele”.

NOTA:

Todas as citações desta logia foram retiradas do livro bíblico “Eclesiastes” ou “O Sábio”.

Esta logia foi repetida pelo próprio Tomé, pois o mesmo texto encontra-se também na de número 56. Naquela logia falamos do ser humano e nesta abordaremos aspectos da vida carnal do espírito com esta auto-visão.

aquele que conheceu o mundo encontrou um cadáver

“Eu, o Sábio, fui rei de Israel, em Jerusalém. E resolvi examinar e estudar tudo o que se faz neste mundo. Que serviço cansativo é este que Deus nos deu”. (1, 12)

Nesta logia Jesus nos fala sobre a razão de vida de cada espírito durante a sua existência carnal. Alguns vivem a vida material com o sentido da elevação espiritual, mas a grande maioria busca a elevação material. Para estes, vamos pedir o auxílio de Salomão, um dos maiores profetas da antiguidade e que provou toda a sua sabedoria através dos provérbios transcritos na Bíblia Sagrada.

“Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto nem fazer contas quando faltam números. E pensei assim: eu me tornei um grande homem, muito mais sábio do que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o conhecimento. Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e quanto mais sabe, mais sofre” (1, 14)

Buscar conhecer o mundo é querer impor a sua vontade aos acontecimentos e aos outros espíritos, viver para os seus desejos, as suas vontades. Aqueles que vivem desta forma precisam compreender que as todas as coisas materiais são temporárias e que eles não as possuirão por toda a eternidade.

“Todos morremos, tanto os sábios como os tolos. Por isso a vida começou a não valer nada para mim: ela só me havia trazido aborrecimentos. Tudo havia sido ilusão: eu apenas havia corrido atrás do vento”. (2, 16)

O espírito sofre um desgaste de energias positivas querendo “organizar” o mundo de acordo com suas vontades, mas quando chega o desencarne, tudo permanece no mundo material e, neste momento, aqueles que continuaram na carne agirão “livremente”, independentemente da vontade do desencarnado...

Todas as coisas e as situações que existem são temporárias e existirão apenas enquanto o espírito necessitar delas para as suas provas, expiações ou missões. Sempre que elas não forem mais necessárias, Deus providenciará que as coisas se transformem.

Se o espírito não estiver aberto às Verdades Universais, não verá estas transformações e, mais uma vez, sofrerá. Este é o “prêmio” para aqueles que procuram uma vida material: sofrimento antes, durante e depois de cada episódio da vida.

A vida carnal é como um filme, uma peça de teatro ou uma novela de televisão. Todas as coisas materiais que existem não passam de “cenários” e os acontecimentos são “tramas” temporárias. Todas estas coisas são criadas para que o ator (espírito), possa representar seu personagem (ser humano) de acordo com os atos e falas que o Autor (Deus) escreve para cada um...

Dentro de qualquer interpretação o ator não pode alterar as situações de seu personagem nem mudar suas falas, sem correr o risco de “estragar” a representação. Assim também o espírito não pode mudar as situações de sua vida

“Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia de nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar. E ele poderia ser um sábio ou um tolo – quem é que sabe? No entanto, ele seria dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão. Então eu me arrependi de ter trabalhado tanto e fiquei desesperado por causa disso. A gente trabalha com toda a sabedoria, conhecimento e inteligência para conseguir alguma coisa e depois tem de deixar tudo para alguém que não fez nada para merecer aquilo” (Eclesiastes – Sábio – 2,18)

Todas as posses materiais que o espírito tem durante a sua vida carnal permanecerão no planeta. Veículos, imóveis, posição social, riquezas materiais, tudo só existirá como posse do espírito enquanto Deus julgar conveniente para as provas que ele veio realizar.

Quando novas provas começarem e o espírito não mais precisar destas coisas, Deus as colocará à disposição de outros com a mesma finalidade. Criar elementos materiais para depois descarta-los simplesmente não seria obra de uma Inteligência Suprema.

Todas as matérias do universo estão à disposição dos espíritos para a sua elevação e não como propriedade eterna.

“Então resolvi me divertir e gozar os prazeres da vida. Mas descobri que isso também é ilusão. Cheguei à conclusão de que o riso é tolice e de que o prazer não serve para nada”. ((2, 1)

Os prazeres da vida carnal causam a felicidade material, ou seja, a satisfação individual. O espírito vem à matéria carnal para provar que é capaz de ser feliz apenas por ser filho de Deus e não para que se satisfaça quando seus desejos são satisfeitos.

Para aqueles que buscam felicidade em determinados acontecimentos, ela só acontece temporariamente. Esta felicidade é tolice, pois é efêmera e enganosa, pois para um ser humano ser feliz com seus conceitos, quem tem conceito diferenciado sofre. Desta maneira, esta felicidade de nada contribui para a elevação espiritual.

“Neste mundo eu também reparei o seguinte: no lugar onde deviam estar a justiça e o direito, o que a gente encontra é a maldade. Então pensei assim: Deus julgará tanto os bons quanto os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem que acontecer. Aí cheguei à conclusão de que Deus está pondo as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais. No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais. O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois têm que respirar para viverem. Como se vê, tudo é ilusão, pois tanto um como o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para lá. Como é que alguém pode ter a certeza de que o sopro da vida do ser humano vai para cima e que o sopro da vida do animal desce para a terra”? ”. (3,16)

O ser humano em todos os momentos de sua vida está sempre “julgando” os acontecimentos e as pessoas. Busca sempre apontar o “bom e o mau”, o “certo e o errado”, o “justo e o injusto” e age desta forma porque possui o raciocínio, que o diferencia do animal.

Mas estes acontecimentos e pessoas são provas que Deus dá a cada um dos espíritos para que ele utilize o poder do raciocínio para “julgar” dentro dos seus parâmetros individuais, ou se, como os animais, seguem o instinto deixando Deus guiar seus passos.

Os pássaros migram no inverno para encontrar alimentos, outros andam ou nadam quilômetros para procriar ou deixar seus ovos e têm outras fantásticas atitudes que os seres humanos não compreendem. Quem os guia: a inteligência ou a “natureza” (Deus)?

Por isto o Sábio afirma que os seres humanos não são melhores do que os animais.

“mas aquele que encontrou um cadáver, o mundo não é digno dele”

“Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer. Isso também é ilusão. Quanto mais rica é a pessoa, mais bocas têm para alimentar. E o que ela ganha com isso é apenas saber que é rica. O trabalhador pode ter pouco ou muito para comer, mas pelo menos dorme à noite. Porém o rico se preocupa tanto com as coisas que possui, que nem consegue dormir” (5,10)

Todo aquele que possui as coisas, sejam posses sentimentais, morais ou materiais, tem que se preocupar em salvaguardar o seu patrimônio. Além disso, todos os que possuem alguma coisa sempre estão à procura de mais posses, pois por mais que tenha, jamais estará satisfeito.

Estas duas situações (insatisfação e preocupação) são sentimentos enviados por Deus, negativados pelo espírito com a utilização individualista (posse). Por isto Jesus nos diz que aquele que buscar a felicidade material não será digno de viver neste planeta.

Como já vimos, quando um ser humano pratica um “raciocínio” utiliza um sentimento que será depois expelido no universo e este procedimento o transforma em uma torre de amplificação daqueles sentimentos negativados.

Assim, toda vez que um espírito deseja algo por insatisfação com o que já tem ou preocupa-se com o que já possui, está contribuindo para a poluição sentimental do planeta, pois estará colocando mais sentimentos negativados à disposição de outros espíritos, influenciando em futuros processos de raciocínio destes.

Nós somos o sal para a humanidade, mas se o sal perde o sabor será jogado fora. Se o espírito “poluir” o planeta terá de ser arrancado dele.

Este é o alerta de Jesus.