O evangelho segundo Tomé

Logia 79 - Valorização da vida carnal

“079. Uma mulher da multidão disse a ele: bendito seja o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram. Disse-lhe ele: benditos são aqueles que ouviram a palavra do Pai e a guardaram verdadeiramente. Pois haverá dias em que irá dizer: bendito o ventre que não concebeu e os seios que não amamentaram”.

“bendito seja o ventre que te gerou e os seios que te amamentaram”

A mulher que fala com Jesus nestes termos está valorizando o nascimento, a vida carnal, a encarnação. Ao dizer o ventre que gera e os seios que amamentam sejam benditos, ela está louvando a nova chance de vida carnal que um espírito teve.

“benditos são aqueles que ouviram a palavra do Pai e a guardaram verdadeiramente”

Jesus respondeu à mulher que benditos são os que ouvem e guardam a palavra do Pai, ou seja, aqueles que alcançam a evolução espiritual. Aqueles que assim procedem estão livres do processo de reencarnação na sua etapa de evolução, pois alcançam tudo o que podem nele. Só voltarão a este processo por missão específica ou quando iniciarem uma nova etapa de conhecimentos a serem aprendidos.

Conhecidas as essências das duas primeiras frases, podemos entender o significado da lição que Jesus nos traz: bendita não é a vida encarnada, mas a vida espiritual vivida dentro das leis de Deus.

 Quatro Nobres Verdades

No seu primeiro discurso (Rodando a Roda do Darma) depois de alcançar a elevação, Sidarta Guatama, o Buda, nos ensina as “Quatro Nobres Verdades” da vida na carne:

“A Primeira Nobre Verdade é a existência do sofrimento ”

“A Segunda Nobre Verdade versa sobre a origem, as raízes, a natureza, a criação e o surgimento do sofrimento”

“A Terceira Nobre verdade é a cessação da produção de sofrimento”

“A Quarta Nobre Verdade é o caminho que nos conduz à abstenção das coisas que geram sofrimento”.

(A Essência dos Ensinamentos de Buda – Thich Nhat Hanh)

Para Buda existem diversas fontes de sofrimento (velhice, doença, morte, tristeza, etc), mas todas elas começam com “nascer é sofrimento”. Este é o ensinamento de Jesus nesta logia.

“Monges, quando realizei a Nobre Verdade do sofrimento, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

 Para que o espírito evolua espiritualmente precisa compreender que estar vivo é uma fonte de sofrimentos. Com esta Verdade Universal, ele poderá desapegar-se da vida carnal, aceitando-a como um estágio forçado apenas para aqueles que ainda não conseguiram sua evolução espiritual.

Origem do sofrimento “vida”

“Quando realizei que a Nobre Verdade do sofrimento precisa ser entendida, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

Encontrar-se dentro do processo nascimento/morte (encarnação) não é motivo para júbilo, mas deve o espírito entender que isto só ocorre porque ele ainda não alcançou grau de elevação espiritual necessário para não mais encarnar.

Enquanto o ser humano se apegar à vida carnal como a “melhor existência”, como um prêmio concedido por Deus, não alcançará a Verdade Universal sobre ela: estágio forçado na vida de um espírito em evolução.

Viver na carne é um sofrimento para o espírito que se afasta de seu próprio mundo. Como um exilado, para quem até a comunicação com seus entes queridos não é permitida, o espírito transforma as Verdades Universais em verdades individuais por amar aos acontecimentos da vida acima da sua própria existência eterna.

Pelo fato da existência carnal (encarnação) alterar a própria “personalidade” do espírito, ela cria um mundo fictício que o espírito precisa entender como tal para não mais ter que passar por isto novamente.

Enquanto o espírito amar esta “ficção” (vida carnal) não encontrará a felicidade e não extinguirá o sofrimento.

“Quando entendi a Nobre Verdade sobre as causas do sofrimento, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

Cessação do sofrimento

“Quando compreendi que as causas do sofrimento precisam ser abandonadas, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

Para que o espírito cesse o sofrimento em sua existência (vida carnal), é preciso que ele entenda que a personalidade que ele vive nesta vida é fictícia: foi projetada apenas para esta existência.

O espírito não é aquilo que ele imagina que é. Todo o seu auto-conhecimento é produzido a partir dos conceitos que são gerados durante a vida carnal. Para cessar o sofrimento de nascer, ele precisa abrir mão de todos estes conceitos (o que ele imagina que é) para se tornar apenas um espírito em processo de elevação.

Abrir mão dos seus desejos, das suas verdades, das suas vontades: este é o caminho que pode levar o espírito ao fim do ciclo de sofrimento nascer/morrer.

“Quando compreendi que as causas do sofrimento haviam sido abandonadas, surgiram em mim a visão, a intuição , a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

Caminho para o fim do sofrimento

“Quando realizei a Nobre Verdade do fim do sofrimento, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação as coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

O caminho para o fim do sofrimento Buda nos ensinou e representou com o nome de “Nobre Caminho Óctuplo”:

“Quando compreendi que o fim do sofrimento precisa ser experimentado, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

 COMPREENSÃO CORRETA

A vida material não é independente da vida espiritual e precisa ser vivida como tal para que cesse o sofrimento do ciclo nascer/morrer.

 PENSAMENTO CORRETO

Todo pensamento deve conter os três pilares básicos do Amor Universal: alegria universal, compaixão e igualdade.

 . ATENÇÃO PLENA CORRETA

Para se conseguir a compreensão correta e o pensamento correto é necessário que se viva o momento atual, ou seja, que não se deixe que os conceitos anteriores interfiram no entendimento deste momento.

 . FALA CORRETA

De posse de uma atenção correta, a vida será vivida com uma fala correta, ou seja, aquela que expresse em palavras os componentes do amor universal.

 . AÇÃO CORRETA

Entender que Deus é a Causa Primária de todas as coisas e por isso todas as ações do universo são perfeitas.

 ESFORÇO CORRETO

Viver esforçando-se no sentido de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e nunca no sentido de buscar o sucesso individual.

 CONCENTRAÇÃO CORRETA

Concentrar-se naquilo que realmente tem valor para um espírito, ou seja, buscar juntar bens no “céu” e não na Terra.

 MEIO DE VIDA CORRETO

Entender que não existe “vida material” a ser construída, mas que ela deve ser vivida para atender a todas as expectativas espirituais.

“Quando compreendi que o Nobre Caminho Óctuplo que conduz ao fim do sofrimento precisa ser experimentado, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

Este “Nobre Caminho Óctuplo” não são passos independentes, mas todos se relacionam como afirma Sidarta Guautama no seu “Discurso sobre os Quarenta Grandes”. Para que o espírito alcance a evolução espiritual e fuja do sofrimento gerado pelo nascer/morrer, é preciso que busque a prática de todos eles ao mesmo tempo. Um dos caminhos jamais será completado enquanto o outro também não tiver sido.

“Quando compreendi que o Nobre Caminho Óctuplo que conduz ao fim do sofrimento havia sido praticado, surgiram em mim a visão, a intuição, a compreensão, a sabedoria e a luz em relação às coisas das quais eu nunca ouvira falar”. (Discurso Girando a Roda do Darma – Samyutta Nikaya V, 420)

“Pois haverá dias em que irá dizer: bendito o ventre que não concebeu e os seios que não amamentaram”

Nos dias de hoje toda esta compreensão, esforço e busca ensinada por Buda são primordiais, pois como Jesus ensina nesta logia haverá o dia em que bendito será aquele que não mais reencarnar.

O planeta passa por um processo de transformação no seu sentido de encarnação. Encerra-se o período de encarnações para provas e expiações e começará a encarnação com a finalidade de alcançar a regeneração, ou seja, a mudança completa dos hábitos, vícios ou seja, da maneira de viver.

Aqueles que não conseguirem sair do ciclo encarnatório para provas e expiações terão que partir do planeta Terra e recomeçar seu processo de evolução em um outro planeta. Como os espíritos exilados de Capela são conhecidos hoje através da literatura, um dia, no novo planeta, se escreverá o livro “Exilados da Terra”.

Neste novo planeta, como foi aqui no início, os espíritos encarnarão em um mundo sem avanços tecnológicos e conviverão com um mundo hostil como o que ficou conhecido neste planeta como “Idade das cavernas”.

Este tipo de mundo gerará encarnações com muito mais sofrimentos físicos que foram eliminados hoje do planeta Terra pelo avanço material. Por isto, o aviso de Jesus:

“chegará a hora em que todos os espíritos não mais quererão reencarnar para provas e expiações”

A busca da evolução se faz mister neste início de século XXI e todo esforço neste sentido é pouco para que se saia do ciclo de sofrimento nascer/morrer para provas e expiações.