O evangelho segundo Tomé

Logia 78 - Busca da Verdade Universal

“078. Disse Jesus: porque ides ao deserto? Para ver o junco sacudido pelo vento? E para ver um homem envolto em finos panos? (Vede, vossos) reis e os altos dignatários são aqueles que vestem finas (roupas), no entanto, não conseguirão conhecer a Verdade”.

Para entendermos melhor esta logia, precisamos partir da afirmação de Jesus:

“não conseguirão conhecer a Verdade”

Podemos entender por esta última frase de Jesus que todo o resto do texto fala a respeito da busca da verdade.

Como já falado neste trabalho, existem dois tipos de verdades: a individual e a universal.

A verdade individual é aquela que cada espírito possui, pois representa apenas o seu “modo de ver” a questão. Esta verdade está impregnada por conceitos e não representa o conhecimento autêntico sobre o assunto.

A verdade universal é a que contêm o conhecimento profundo e perfeito sobre o assunto. Apenas Deus, Aquele que possui as propriedades do ser elevadas ao expoente máximo pode alcançá-la, pois não possui conceitos ou verdades individuais. Esta verdade não será alcançada por nenhum espírito, pois para tanto é necessário que ele possua a Inteligência Suprema, a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

Analisando as informações iniciais da logia, podemos entender que Jesus nos fala aqui do lugar para a busca da verdade universal, ou seja para a compreensão das coisas isentas de conceitos.

 “porque ides ao deserto?”

A região que Jesus viveu era cercada por desertos. Os pregadores de então, aqueles que ensinavam os valores espirituais, muitas vezes perseguidos, habitavam estas regiões e ali faziam as suas pregações.

Por isto entendemos que a pergunta de Jesus se refere ao lugar da busca para o conhecimento dos ensinamentos espirituais: “Porque procuras em um lugar material os ensinamentos espirituais?”

Para alcançar a verdade universal sobre as “coisas” do planeta, não há necessidade de nenhum local físico. Os seres humanos acreditam em “locais santos” que formem a morada de Deus. No entanto, as igrejas, centros, templos, não são os detentores das verdades universais: o mundo de Deus está em toda parte.

Como Jesus nos ensinou, o Templo de Deus está dentro de cada um e de cada coisa. Para conhecer a verdade universal, o espírito precisa voltar-se para si mesmo. Necessita de uma profunda análise de seu comportamento sentimental isento de conceitos, ou seja, sem a utilização de “certo ou errado”, “bom ou mau”.

Ao expurgar os seus conceitos, restará ao espírito a verdade mais profunda que ele pode conseguir. Esta já será uma verdade espiritual, mas não ainda a verdade universal, pois esta apenas Deus conhece.

A verdade espiritual, aquela que faz o espírito participar do todo universal é alcançada quando o espírito busca dentro de si a sua essência espiritual, eliminando a visão “ser humano”.

“Para ver o junco sacudido pelo vento?”

O junco, (planta típica da região onde viveu Jesus) sacudido pode ser entendido como um “efeito material”. Podemos definir esta pergunta como: “Procuras um ensinamento espiritual analisando os fenômenos materiais?”

Mais uma vez Jesus usa de uma “figura” para transmitir um ensinamento. Buscar a verdade no junco sacudido pelo vento pode ser entendido como buscar a verdade nos conhecimentos científicos ou materiais.

Assim como muitos buscam as verdades espirituais somente em alguns lugares, outros acreditam que todas as verdades do universo têm que estar subordinados aos conhecimentos científicos materiais. Esta busca não leva à verdade universal, pois os conhecimentos científicos não possuem as duas características necessárias para conter a verdade universal: eternidade e universalidade.

Os conhecimentos científicos não são eternos: o que ontem era verdade, hoje pode ser mudado. Tudo que no início do século passado era conhecido como verdade científica, hoje, com o avanço do conhecimento, transformou-se em coisa ultrapassada. Se hoje o conhecimento está ultrapassado, é porque nunca foi verdade universal, mas sim verdade temporária ou individual em outro tempo.

Da mesma forma, as descobertas científicas não possuem a propriedade da universalidade, ou seja, aplicam-se a certas circunstâncias ou ocorrem apenas em determinados momentos: um remédio não cura todas as pessoas que o tomam, uma lei física pode ter momentos em que não produza o fato esperado...

A Verdade Universal das coisas (Deus) não pode se subordinar a condições.

Por isto Jesus diz para não se procurar a verdade universal nas coisas materiais, mas aplicar a estas coisas as verdades que são eternas e universais. Somente quando o ser humano buscar o conhecimento material a partir das propriedades de Deus é que encontrará a verdade universal.

“E para ver um homem envolto em finos panos?”

Além dos pregadores, muitos “professores da lei” hebraica também pregavam nos desertos. Mais uma vez podemos entender a pergunta de Jesus da seguinte forma: “Procuras Deus através dos ensinamentos de outros homens?”

Deus é apenas uma palavra que representa o Pai. Portanto, quando o ser humano busca a compreensão de Deus (Verdade Universal) através de ensinamentos de outros seres humanos não conseguirá encontra-la, pois, para tanto, necessitaria ter exatamente o mesmo conjunto de conceitos daquele que está ensinando.

A verdade universal não é para ser compreendida, mas sim sentida. Deus não é para ser entendido, mas amado acima de todas as coisas. Enquanto o ser humano quiser encontrar Deus através de uma lógica, não o encontrará. A Verdade Universal está acima de todas as lógicas humanas e para alcançá-la são necessários diversos conhecimentos que o espírito encarnado não possui.

Deus deve ser sentido, ou seja, deve ser alcançado pelo sentimento e não pela razão. Por isto Jesus nos ensinou: “Louvado seja Deus que ensina aos simples aquilo que esconde dos sábios”.

“(Vede, vossos) reis e os altos dignatários são aqueles que vestem finas (roupas), no entanto, não conseguirão conhecer a Verdade”

O ensinamento de Jesus no final do item anterior, aqui fica bem claro. Os sábios, aqueles que buscam ensinar aos outros a verdade universal, nunca conseguirão alcançá-la, pois para isso é necessário amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Enquanto um sábio não praticar o que ensina, não poderá conhecer a verdade universal. Muitos são os que se dizem sábios nas escrituras sagradas (ensinamentos de Deus), mas aplicam os ensinamentos da forma que acham “melhor”, ou seja, satisfazendo os seus conceitos. Assim, estes sábios ensinam as suas verdades individuais e não a Verdade Universal.

De todo este ensinamento do Mestre devemos tirar o seguinte ensinamento: a procura de Deus deve ser de cada um, baseando-se no amor ao Pai acima de todas as coisas e não submetendo este amor às lógicas (conhecimentos) materiais.

Tudo no universo (religiões e ciências) transmitem verdades, mas elas não podem ser consideradas verdades universais. Para alcançar toda a verdade nas coisas universais é preciso submetê-las à Verdade Universal, ou seja, a Deus e a seus atributos (Causa Primária, Onipresença, Onisciência, Onipotência) que são gerados pelas suas propriedades intrínsecas (Inteligência Suprema, Amor Sublime e Justiça Perfeita).

Quando o ser humano procurar a verdade nos acontecimentos a partir da Verdade Universal (atributos e propriedades de Deus) aí a encontrará. Enquanto submeter os acontecimentos ao seu conhecimento (verdade individual) não conseguirá encontrá-la em nenhum lugar, fato ou “sabedoria”.