O evangelho segundo Tomé

Logia 75 - A lei e o Cristo

“075. Disse Jesus: muitos estão à porta, mas somente os solitários entrarão na câmara municipal”.

Esta logia segue o ensinamento da logia anterior: é preciso viver como Jesus viveu para que se alcance a glória espiritual.

“muitos estão à porta”

Muitas pessoas procuram Jesus, o amor, mas poucas estão dispostas a entrar, ou seja, a abrir mão de suas “verdades” e desejos individuais para viver para o todo espiritual.

“mas somente os solitários”

O ensinamento do termo “solitário” foi abordado na logia 49, onde Jesus nos ensina que não devemos viver pensando, analisando as atitudes de outras pessoas. Nesta logia, o Mestre volta a ressaltar a importância de não julgar os outros, impondo ao universo suas próprias verdades, para que se alcance o reino do céu.

“entrarão na câmara municipal”

A simbologia do casamento de Jesus está no livro Apocalipse da Bíblia (Cap. 21, 1)

“Então vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar sumiu. E via a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e pronta, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo”.

O novo mundo, que está prestes a chegar sobre o planeta, será o casamento de Jesus com os espíritos que habitam na Terra, ou seja, o casamento destes espíritos com o amor. Nesta nova etapa da evolução do planeta e dos espíritos a busca da prática do amor universal será o motivo das encarnações. Por isto Kardec denominou este novo mundo como “mundo de regeneração”.

Para que os espíritos possam viver neste novo mundo, no entanto, precisam conhecer o amor universal e praticá-lo. Não bastará apenas conhecer as leis de Deus e aplicá-las como defesa de suas “verdades”, mas será preciso alcançar a “consciência crística”.

Esta consciência, que vem sendo alvo de diversos debates pelas religiões, nada mais é do que atingir a compreensão da frase “EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA”. Possuir a consciência crística é viver como Jesus viveu na sua vida carnal, pois ele foi o verbo, ou seja, ação do amor universal.

Muitos procuram os ensinamentos para uma vida baseada na busca da elevação espiritual, mas não conseguem atingir esta consciência, pois se prendem a objetivos materiais, enxergando as coisas sob o prisma material e não sob a visão espiritual ensinada pelo Mestre.

Atingir a consciência crística não é aprender a leis ditadas, mas viver como Jesus viveu: dando o real sentido à lei. O apóstolo Paulo nos fala muito de perto sobre a questão cumprimento da lei e a prática do amor:

“O que há com você? Você se diz judeu, confia na Lei de Moisés e se orgulha do Deus que você adora. Você conhece a vontade de Deus e aprende na Lei a escolher o que é certo ou errado.

Você está certo que é guia dos cegos, luz para os que estão na escuridão, orientador dos ignorantes e professor dos jovens. Você está certo de que na Lei encontra o conhecimento e a verdade. Você que ensina os outros, porque é que não ensina a você mesmo? Se afirma que não se deve roubar, porque é que você mesmo rouba? Se diz que não se deve cometer o adultério, porque você mesmo comete? Você odeia os ídolos, mas rouba as coisas dos templos. Você se orgulha de ter a Lei de Deus, mas você é uma vergonha para Deus quebrando a sua Lei”. (Romanos – 2, 17).

Atingir a consciência crística é viver o amor universal e não simplesmente colocar parâmetros para que os outros sigam.

Um “professor da lei” de uma religião conhece todos os ensinamentos que o Mestre deixou, mas ainda continua julgando sua religião como a única “certa” e as demais “erradas”, acusando os praticantes das demais religiões como se estes não fossem filhos de Deus.

Os mais fiéis praticantes de muitas religiões acusam e atacam todos aqueles que possuem imagens, mas não vêem que eles idolatram os professores da lei de sua religião ou até o próprio mestre que trouxe a base de sua crença.

“Pois eu afirmo que vocês só entrarão no reino do céu se, ao fizerem a vontade de Deus, forem mais fiéis do que os professores da Lei e os fariseus” (Mateus – 5, 17).

Para se atingir a consciência crística é preciso ser mais fiel a Deus do que a qualquer ensinamento religioso. Jesus foi judeu, pregou nas sinagogas, mas foi fiel a Deus, pois fez a Sua vontade e não se preocupou em seguir os ensinamentos da religião ao fazer cura nos sábados, ao não acusar a mulher adúltera e ao ensinar que deveria ser “dado a César o que era de César”. O Mestre exemplificou todos os elementos do amor universal.

Para se viver como Jesus é preciso esquecer os valores individuais e aceitar toda ação de Deus (acontecimentos da vida) como perfeita, justa e amorosa.

A consciência crística não é viver dentro da interpretação dos textos legais, mas aplicar a todos eles os componentes do amor universal, como Cristo fez durante a sua vida. Esta consciência não se alcança através de julgamentos ou acusações, mas vivendo o amor e sentindo: “Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem”.

“Meus irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que são espirituais devem ajuda-lo a se corrigir. Mas façam isso com humildade e tenham cuidado para que vocês não sejam tentados. Ajudem uns aos outros e assim estarão obedecendo à lei de Cristo” (Gálatas – 6, 1)

Quem possui a consciência crística não acusa o irmão de ter cometido um “deslize”, mas ama-o sempre. Por pior que tenha sido a “falta” do espírito, ele é nosso irmão universal e merece de nós todo amor. Os assassinos e criminosos também são espíritos em evolução e merecem todo o amor mesmo daqueles que se sentiram “ofendidos” com suas ações.

“Quem está aprendendo o evangelho de Cristo deve repartir todas as coisas boas com aquele que o ensina. Não se enganem: de Deus não se zomba. Aquilo que uma pessoa plantar é isso mesmo que colherá. Se plantar o que a sua natureza humana deseja, essa mesma natureza lhe dará a colheita de morte. Porém, se plantar o que agrada o espírito de Deus, do espírito colherá a vida eterna” (Gálatas – 6, 6)

A vida como espírito, aquela que Jesus viveu é voltada para o bem coletivo; a vida do ser humano é aquela que é voltada a satisfazer suas próprias vontades. Quem tem a consciência crística não possui parâmetros para julgar ninguém, pois sabe que apenas o Pai conhece todas as Verdades Universais.

“Porque é por meio da fé que todos são filhos de Deus e estão unidos com Cristo Jesus” (Gálatas – 3, 26)

Apenas a fé (entrega e confiança absoluta) em Deus e nos seus atributos (Causa Primária das Coisas, Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime) pode levar um espírito encarnado a viver como Jesus, ou seja, atingir a consciência crística.