O evangelho segundo Tomé

Logia 72 - Comunhão universal

“072. Um homem disse a ele: diz aos meus irmãos que dividam comigo os bens de meu pai. Ele lhe disse: ó homem, quem nomeou a mim como aquele que há de dividir? Voltou-se aos seus discípulos e lhes disse: não sou aquele que divide, sou?”.

“diz aos meus irmãos que dividam comigo os bens de meu pai.”

Os seres humanos reconhecem o mundo através de binômios, ou seja, em tudo acreditam na existência de dois elementos antagônicos: o “bem” e o “mal”, o “branco” e o “preto”, o “rico” e o “pobre”, o “limpo” e o “sujo”, o “religioso” e o “ateu”. Quando assim agem, os seres humanos dividem o mundo, ou seja, os bens de Deus.

Não importam quais sejam os binômios que o ser humano crie, cada um dos seus componentes estará no grupo dos “certos” e o outro no grupo dos “errados”. Estes grupos (certos/errados) são definidos a partir dos conceitos que o ser humano possui. Desta forma, a divisão do mundo para cada ser um se faz entre os que pensam diferente e os que pensam como ele.

Uma vez que o espírito foi feito à semelhança de Deus (Gênesis – Cap. 1 – vers. 26) existe dentro dele a mesma inteligência, justiça e amor que existem no Pai, apesar destes atributos encontrarem-se ainda em graus muito menores nele. Assim, podemos dizer que, mesmo instintivamente, o espírito utiliza sempre estes três fatores quando raciocina (escolhe sentimentos).

 A utilização destes três atributos no espírito encarnado, no entanto, sujeita-se aos conceitos que ele possui (binômio). Assim, o espírito usa a sua inteligência para dizer o que é “certo”, pratica a justiça contemplando os “conceitos” e busca no amor o seu “prazer”.

É a isto que Jesus está se referindo quando fala em dividir os bens do Pai: utilizar as propriedades intrínsecas que cada espírito possui para seu próprio benefício.

“ó homem, quem nomeou a mim como aquele que há de dividir?”

Uma verdade para ser verdadeira tem que ter dois parâmetros: ser universal, ou seja, aplicar-se a todos e eterna, ou seja, nunca ter sido alterada. Somente quem pudesse estabelecer parâmetros universais e eternos para criar uma escala para separar cada um dos elementos dos binômios poderia dizer que seu binômio era “verdadeiro”.

Para um homem que ganha milhões de reais, quem ganha milhares é pobre, mas para quem ganha apenas centenas, o que ganha milhares é rico, pois os binômios são criados a partir de conceitos individuais e, por isso, não contém a universalidade e eternidade necessária para ser verdade.

Nem Jesus, espírito mais elevado que já viveu no nosso planeta, assumiu o ônus de criar escalas para dividir os seres humanos sob nenhum aspecto, pois sabia que deveria satisfazer a vontade de Deus.

“não sou aquele que divide, sou?”

A mensagem de Jesus não é individualista, mas universal. Ele não veio para trazer ensinamentos para que o espírito satisfizesse a sua vontade, mas para que participasse do universo espiritual que se subordina a Deus.

“Um escravo não pode servir dois donos ao mesmo tempo, pois detestará um e gostará do outro; ou será fiel e um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro” (Mateus – 6, 24)

Nota: Como “dinheiro” no texto acima devemos compreender a materialidade (vida material).

O ser humano, aquele que se acha no direito de dividir o mundo (os bens do Pai), serve apenas a si mesmo, ou seja, aos seus conceitos. Foi para estes que Jesus trouxe a “Boa Nova”, a notícia do amor e fé que se deve ter a Deus.

O universo compõe-se de um todo que funciona como uma orquestra regida por Deus. Todos os músicos desta orquestra preocupam-se para que o som saia uníssono.

Existe uma comunhão universal, ou seja, um objetivo comum entre este todo e os elementos do universo. Esta comunhão baseia-se no amparo mútuo para que a evolução espiritual aconteça.

Todos os elementos do universo se interagem objetivando auxiliar o próximo na sua evolução. Como Jesus nos disse, cada espírito é o “sal” para a existência de todo o universo, ou seja, cada um “tempera” a existência do próximo. Esta é a comunhão universal.

Somente Deus (que possui a Inteligência Suprema, a Justiça Perfeita e o Amor Sublime) pode coordenar as peças do universo para que essa comunhão não se deteriore, desequilibrando a vida universal. Somente o Pai conhece a Verdade de todas as coisas, pois é Onipresente e Onisciente.

Quando um ser humano utiliza algum de seus conceitos no processo raciocínio ele utiliza uma verdade individual que apenas lhe satisfará, o que fere a comunhão universal. É por este motivo que ao longo deste livro apresentamos a Verdade Universal de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas.

Todos aqueles que já compreenderam esta verdade, como Jesus, sempre buscam agir dentro dos ditames de Deus, pois sabem que desta forma estarão colaborando para a comunhão universal.