O evangelho segundo Tomé

Logia 71 - Situações negativas

“071. Disse Jesus: eu destruirei esta casa e ninguém será capaz de reconstruí-la”.

Quando o comando de Deus sobre os acontecimentos satisfaz, pelo menos em parte, os conceitos do espírito, ele o credita ao Pai, mas quando seus conceitos são feridos, o espírito afirma que o ocorrido não foi obra de Deus. Alguns até criam um novo “deus” para estes fatos: o “diabo”.

Demônios

“Se houvesse demônios, eles seriam obras de Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há demônios, eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo e crêem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome”. (Livro dos Espíritos – perg. 131).

A Bíblia Sagrada nos conta a história dos “demônios”. Segundo esta fonte, eles teriam surgido após o ato de rebeldia de Lúcifer contra Deus.

Conta a história que Lúcifer era um dos anjos de Deus. Um dia, ao não acatar uma determinação do Pai sobre os desígnios da vida no Universo, rebelou-se, abandonou o “céu” e veio se instalar nas profundezas da Terra. Junto com ele vieram os seus seguidores. Na Terra se juntaram para guerrear contra Deus, ou seja, para impedir a realização dos desígnios do Pai. É a lenda dos “anjos caídos”.

Kardec, mais afastado da era mitológica, nos diz que os demônios são os “homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo”. Juntando-se as duas informações podemos entender os demônios como:

“Espíritos que se rebelaram contra Deus e vieram para a Terra (homens) por não concordarem com os atos que Deus comanda, ou seja, não considerá-los justos, mas sim maus e vingativos”.

Esta é a definição que se tem dado em todo este trabalho ao “ser humano”. Portanto, aquele que acusa alguém de praticar algo que fira os seus conceitos, está chamando o outro de demônio, pois não vê a justiça de Deus em ação e nem entende o seu Amor Sublime.

Pecado original

“Ser humano” é uma auto visão que o espírito alcança quando tem a sua memória espiritual encoberta pelo véu do esquecimento. O espírito é lançado nesta situação para que possa provar a sua fé (entrega e confiança absoluta em Deus) e o seu amor pelo Pai, que em determinado momento fraquejaram.

A bíblia nos relata a história deste momento de fraqueza: Adão e Eva. Este casal simboliza o espírito no seu nascimento, ou seja, “simples e ignorante”. Eles vivem no “paraíso”, ou seja, no reino do céu. Em determinado momento são tentados (testados) a desobedecer ao Pai e cedem a esta tentação. A esta fraqueza, os católicos dão o nome de “pecado original”.

“A mulher respondeu: podemos comer as frutas de qualquer árvore, menos a fruta da árvore que fica no meio do jardim. Deus nos disse que não devemos comer desta fruta nem tocar nela. Se fizermos isso, morreremos”.

“Mas a cobra afirmou: vocês não morrerão coisa nenhuma! Deus disse isso porque sabe que quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal”.

“A mulher viu que a árvore era bonita e que as suas frutas eram boas de se comer. E ela pensou como seria bom ter este conhecimento”. (Gênesis – 3, 2)

Nesta rápida visão deste ensinamento bíblico, podemos compreender que o ser humano é o espírito que desobedece a Deus e busca para si o poder de decidir o que é “bom” ou “mal”, “bonito ou feio”, “certo” ou “errado”.

Mal

Portanto, o mal não existe a não ser a partir do julgamento de um espírito que possui os “olhos abertos”, que quer enxergar mais do que Deus. As situações negativas, ou seja, aquelas que não agradam os conceitos (leis) de um ser humano não são más, a não ser na própria visão do espírito. É pelo poder imaginário que o ser humano tem de conceituar o que é “bom” ou “mau” que esses conceitos passam a existir.

As situações negativas, assim como todos os acontecimentos do universo, são oriundos de Deus e afirmar que um acontecimento é fruto do mal é dizer que o Pai é capaz de praticá-lo. Se Deus é o Amor Sublime, não poderia jamais praticar o mal!

Aquelas situações que não contemplam os interesses do ser humano são geradas por Deus como uma fonte de amor e não de maldade. Deus não pune o espírito fazendo-o passar por determinadas situações, mas dá essas situações a ele para auxiliá-lo na sua depuração sentimental. É através da utilização da fé que o espírito não sofre (ver o mal) nas situações que lhe desagradam.

“eu destruirei esta casa e ninguém será capaz de reconstruí-la”

É a isto que Jesus se refere nesta logia: as situações negativas da vida de um ser humano (aqui representada pela destruição de uma casa) são administradas pela espiritualidade sob o comando de Jesus e de Deus. Ninguém pratica nada sem que esta cadeia de comando seja contemplada.

Ao utilizar o pronome “eu”, Jesus afirma categoricamente que mesmo o acontecimento negativo é fruto de uma ação da espiritualidade superior respondendo a um comando de Deus. Não é obra de um demônio ou de uma pessoa má (criminosa), mas executada por espíritos elevados.

Jesus nos afirma mais: diz que qualquer coisa que aconteça jamais será alterada, mesmo que contrarie as leis ou desejos dos seres humanos, porque foi executada sob as ordens de Deus e, portanto, são perfeitas (inteligentes, justas e amorosas).

O que Deus constrói, ninguém destrói, mas o que Deus destrói, ninguém consegue reconstruir, pois todo acontecimento é perfeito por sua Causa Primária.