O evangelho segundo Tomé

Logia 70 - Viver para Deus

“070. Disse Jesus: se derdes à Luz o que tendes dentro de vós, o que tendes dentro de vós vos salvará. Se não tendes dentro de vós, o que não tendes dentro de vós vos matará”.

A visão passada no capítulo anterior (“Especial”) facilita a compreensão desta aparentemente difícil logia de Jesus.

“se derdes à Luz o que tendes dentro de vós”

O espírito tem que entregar tudo o que possui dentro dele (sentimentos) a Deus, ou seja, saber que eles só irão gerar atos na forma que Deus quiser.

À primeira vista, os ensinamentos transmitidos por Jesus podem servir de argumentos para julgar os outros. Se Deus dá a cada um o ato de acordo com os seus sentimentos, um ser humano pode acusar o outro de praticar atos raivosos porque possui raiva dentro de si. Desta forma, aquele que pratica o ato será “culpado” pelo mesmo.

A ação de Deus, porém, é mais complexa. Aquele que pratica o ato por possuir sentimentos negativos, na verdade só conseguirá fazê-lo para aquele que precisa e merece. Deus aproveita os sentimentos que um ser humano possui, materializando-os em atos que o reflitam, mas este ato será direcionado para quem precisa ou merece recebê-lo.

 Podemos afirmar que uma pessoa não tem raiva de uma outra, mas simplesmente que “tem raiva”. Por possuir este sentimento dentro dela, Deus o direciona para quem merece e precisa receber esta raiva. Assim, o objeto da raiva de um ser humano é direcionado por Deus.

O espírito, se não conseguir entender o ensinamento por completo, vai se utilizar apenas do que lhe satisfaz: acusar a outra pessoa de praticar atos raivosos por ter sentimentos negativos. Aplicando os ensinamentos verá que se ela recebeu foi porque precisava e merecia...

O ser humano age desta forma para satisfazer os seus conceitos, ou seja, buscar a sua “inocência”. Procura satisfazer o seu “eu” por ter sido caluniado ou recebido uma crítica.

Por isto Jesus afirma que temos que dar à Luz (Deus) aquilo que temos dentro de nós. Ao entregar os seus conceitos na mão de Deus, o ser humano compreenderá o ensinamento passado pelo Pai. Entregar os seus conceitos é aceitar que não existe um culpado, mas que Deus gera os atos por Justiça e Amor.

“o que tendes dentro de vós vos salvará”

Simplesmente abandonar os seus conceitos, mantendo-se “vazio”, não será possível porque no universo não existem vazios.

Por isso, para abrir mão dos seus conceitos o ser humano precisa substituí-los. Para acabar com a sua individualidade, o ser humano necessita colocar a coletividade, ou seja, para acabar com seus conceitos ele tem que colocar Deus na sua vida.

Colocar Deus na vida de cada um é entender que Ele é a Causa Primária de todas as coisas e que rege o universo com a Justiça Perfeita e o Amor Sublime. Todo “achar” (conceitos) do ser humano deve ser trocado por esta Verdade Universal.

Quando isto acontecer, o espírito não mais acusará outro de provocar situações que lhe firam ou lhe magoem, pois entenderá que por trás do ato existe o comando de Deus para que o ato seja praticado daquela forma. Este ato refletirá uma justiça perfeita, ou seja, acontecerá na medida certa para quem o está recebendo. Porém, não será aplicado como uma punição, mas como um ensinamento para que o espírito reaja com amor e, desta forma, eleve-se um pouco mais.

Quando o espírito tiver dentro dele apenas Deus, ou seja, as Verdades Universais e a compreensão dos atributos de Deus, a sua forma de agir o salvará, pois ele terá feito a reforma íntima. Não existe outro meio de um espírito se elevar a não ser trocando do seu “achar” pela Verdade Universal da ação de Deus sobre o planeta.

“Se não tendes dentro de vós, o que não tendes dentro de vós vos matará”

Enquanto o ser humano possuir vontades, desejar qualquer coisa que não servir a Deus ou querer ter compreensão sobre as pessoas ou sobre os acontecimentos, estará morto, ou seja, viverá com sentimentos negativos.

Jesus nos ensinou que devemos amar a Deus acima de todas as coisas, mas o ser humano ama mais a compreensão que ele tem sobre as coisas do que a Deus e não consegue abrir mão do seu suposto comando sobre as situações

É muito mais simples sair acusando a todos de terem agido “errado” e praticado o “mal” do que compreender que os outros espíritos agem de forma justa e amorosa: você é que merece tudo aquilo que acontece e da forma como acontece.

Todos os acontecimentos da vida de um espírito são “escritos” por Deus dentro do merecimento de cada um, objetivando que ele perceba o sofrimento que ele pode transmitir aos outros. Quando alguém consegue fazer a um espírito o que ele não gosta, é porque é preciso mostrar a ele que ele ainda tem escolhas do que “gosta” (“melhor” ou “pior”, “bom” ou “mau”, etc).

Deus escreve os acontecimentos como lições para o espírito entender que ele não pode se satisfazer, ou seja, precisa abrir mão do seu individualismo (felicidade pessoal) e participar da felicidade universal. Para isto é preciso que ele não tenha mais desejos ou vontades, trocando-os pela fé e o amor a Deus.

O que cada espírito não tem dentro de si é Deus. Por mais “religiosa” que uma pessoa seja, ela sempre busca satisfazer as suas “vontades” e não aceita os desígnios de Deus. Aqueles que afirmam amar a Deus desta forma, na verdade estão impondo condições a Deus para amá-lo.

Amar a Deus acima de todas as coisas (viver a felicidade universal) é amar todos os acontecimentos que Ele comanda, pela fé (confiança e entrega) irrestrita. Desejar situações para que este amor exista é impor condições para ser feliz.

A “felicidade” que o ser humano quer nunca será comandada por Deus porque ele não possui a visão do todo universal necessária para que promova a justiça perfeita. Por isso, Jesus nos ensinou: Deus dá a cada um de acordo com suas obras”. Todos as situações são reflexos do merecimento de cada um.

Esta visão das coisas do mundo (ação de Deus), salva o espírito, mas se ela não existir, levará o espírito à “morte”.