O evangelho segundo Tomé

Logia 69a - Auto acusação

“069a. Felizes daqueles que forem perseguidos em seu coração; estes são os que na verdade conhecem o Pai.”.

Neste ensinamento Jesus volta a falar do ensinamento “amar a Deus sobre todas as coisas”. Tanto o texto da logia anterior como este também são apresentados nos evangelhos canônicos sob o título de Sermão da Montanha.

As bem-aventuranças como ficaram conhecidos os oito ensinamentos que iniciaram este discurso de Jesus são um “guia” que Jesus deixou para os seres humanos alcançarem a felicidade universal. Aquele que viver sob os parâmetros destes ensinamentos participarão do reino de Deus, ou seja, da felicidade universal.

“Felizes daqueles que forem perseguidos em seu coração”

Na logia anterior Jesus afirmou que aqueles que passassem por maus tratos físicos sem sofrimentos viveriam com a felicidade universal. Neste ensinamento Ele nos fala que aqueles que forem perseguidos em seu coração, também viverão com a felicidade universal.

O coração, como já falamos, simbolicamente é a sede dos sentimentos. Assim, podemos entender que Jesus nos fala das perseguições que sofrerão aqueles que vivem com o amor universal.

Quando um espírito busca elevar-se, ou seja, praticar atos que reflitam o amor universal, passa a ser alvo da observação de todos aqueles que não estão dispostos a trocar a sua satisfação pessoal pela felicidade universal. Seus atos são medidos e pesados para ver se estão de acordo com os preceitos do amor universal.

Quando um espírito que busca a elevação espiritual pratica um ato que não reflita a alegria, compaixão e igualdade, aqueles que não querem abrir mão de suas verdades o acusam, apontando erros e falhas no seu proceder.

Este procedimento visa desestabilizar o espírito na sua busca da elevação, comprovando que nenhum ser humano pode alcançar a prática do amor universal. Estas acusações podem levar o espírito a se auto-acusar e a abandonar a busca. Por isto o primeiro ensinamento de Jesus foi: “Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar” (logia 002).

No universo só existe a Perfeição (Deus). Nenhum outro espírito será perfeito porque senão seria um “deus”.

A vida do espírito é um caminhar constante com a certeza que um dia tropeçará nos “buracos da estrada” e cairá. Neste momento ele deverá levantar-se rapidamente e continuar a sua caminhada com uma única certeza: cairá novamente e se levantará da mesma forma.

Portanto, muitas vezes o espírito buscará o amor universal para reagir aos acontecimentos, mas não o encontrará. Muitos que gostam de criticar, aproveitar-se-ão destes momentos para induzir o espírito a novas “caídas” e, com isso, afastá-lo do caminho estreito que leva ao Pai...

No livro “Jesus no lar” estão narradas diversas conversas de Jesus com os seus discípulos que não foram registradas em evangelhos. Entre estas o autor espiritual nos transmite um belíssimo ensinamento. O Mestre conta a história de um espírito na carne temente a Deus e que vive com o amor universal. Por diversas vezes os espíritos que ainda não alcançaram esta condição buscam tirá-lo deste caminho. Promovem situações de sofrimento com ele, com a família e com os amigos, mas nada abala a fé do homem crente em Deus. Um dia, porém, estes espíritos começam a mostrar a este homem os seus “erros”. Neste momento ele sente-se envergonhado de seus atos, não mais digno do serviço a Deus e recolhe-se ao seu quarto até desencarnar.

É a este ataque que Jesus está se referindo nesta logia. A auto-acusação que o espírito faz a si mesmo é que destrói a busca da evolução.

Para se alcançar a felicidade universal é preciso saber que a perfeição jamais será alcançada e que ele e todos os outros serão sempre espíritos em desenvolvimento e, portanto, sujeitos a momentos onde não utilizarão o amor universal.

“estes são os que na verdade conhecem o Pai”

Mesmo quando o espírito praticar atos que não reflitam o amor universal não terá havido “erro”. Todos os ensinamentos de Jesus nos levam a entender que todos os atos humanos são comandados por Deus para que aconteçam frente a quem precisa e merece recebê-los. Desta forma, um ato aparentemente negativo é positivo, pois foi direcionado a quem deveria recebê-lo.

Ninguém faz nada errado: nem os outros nem você. Todos os acontecimentos universais são administrados por Deus para que aconteçam apenas àqueles que precisavam daquele ensinamento. Por isto, a auto-crítica pela prática de algum ato é a negação de Deus Causa Primária.

Para se viver a felicidade universal é necessário que o espírito conheça o funcionamento do universo e o aplique em todos os momentos e situações. De nada adianta o espírito desculpar os atos dos outros como justos e necessários para ele mesmo: é preciso que também veja desta forma aqueles atos que pratica. Reagir com amor a qualquer ato que pratique, sem auto-acusação é servir de instrumento para Deus, gozando, assim, da felicidade universal.

Mesmo Jesus praticou atos que não espelhavam o amor universal. Por diversas vezes acusou os apóstolos de falta de humildade e de fé, expulsou os comerciantes do templo sob chicote. No entanto, não foi por isso que se sentiu menos digno da missão que veio executar. Ele sabia que todos os seus atos durante a encarnação eram dirigidos por Deus para aqueles que precisavam e mereciam e entregava-se totalmente ao Pai.

A crítica é a arma daquele que não quer abrir mão da sua individualidade, do seu querer, para aceitar a vontade de Deus. A auto-acusação é a arma daquele que quer ser “deus”, ou seja, perfeito.

Aquele que quer servir a Deus não pode impor condições, ou seja, não pode determinar o ato que irá praticar. Servir a Deus é a abstenção total da individualidade.