O evangelho segundo Tomé

Logia 68 - Felicidade universal

“068. Disse Jesus: Felizes sereis vós quando vos odiarem e vos perseguirem; e não havereis de encontrar um só lugar onde não sereis perseguidos.”

Neste estudo temos visto com insistência que a recompensa daquele que viver apenas com o amor universal é a felicidade universal. Este sentimento é desconhecido do ser humano e, por isso, nesta logia vamos abordá-lo com mais profundidade.

INTERAÇÃO UNIVERSAL

Todas as coisas do universo agem entre si, ou seja, sempre que existe uma causa, o efeito será sentido por todas as demais coisas do universo. Por menor que seja um movimento (material ou não), provocará efeitos em todo o universo.

O simples mexer de uma mão provoca o deslocamento do ar que ocupa todos os lugares chamados “vazios” do planeta. Como uma onda, este deslocamento percorrerá espaços infinitos, mexendo com o ar que existe nestes lugares.

Mesmo o pensamento (gesto imaterial) propaga-se pelo universo e, apesar de não ser detectado por outras pessoas, vagueia pelo universo interferindo no pensamento de outras pessoas.

TODO UNIVERSAL

Por este motivo, não podemos tratar as coisas universais particularmente, pois isto não é possível. O universo é um todo coletivo, cuja história é formada pelos atos individuais.

Quando falamos que a evolução espiritual está na perda dos conceitos que levam à individualidade, observamos justamente este aspecto do universo. É preciso a compreensão de maneira que cada movimento (material ou não) busque a satisfação do todo e não apenas a satisfação individual.

SATISFAÇÃO PESSOAL

Quando o ser humano se deixa guiar pelos seus conceitos, busca a sua própria satisfação, pois, como já vimos, não existe no universo outro espírito com o mesmo conjunto de conceitos que serão supridos com aquele ato.

O espírito precisa amar a Deus acima de todas as coisas para poder gerar atos dentro de Suas leis. Para se viver desta forma é preciso amá-Lo acima sua própria vontade. Quando o espírito ama a Deus acima de tudo, sempre “pergunta” a Ele que Ele quer que seja feito, desta maneira causando os movimentos necessários para outros espíritos (interação).

Quando o espírito ama a si mesmo acima de tudo (individualismo), pode causar acontecimentos que não sejam justos para outros. Por este motivo, enquanto ele não souber o que deve causar é necessário que Deus seja a causa primária dos seus movimentos.

FELICIDADE UNIVERSAL

A felicidade universal, portanto, não é promover acontecimentos que tragam a satisfação pessoal, mas aceitar todos os acontecimentos como causados por Deus. A felicidade universal vem do amor a Deus acima de todas as coisas, ou seja, a aceitação de que o universo existe como um todo coletivo e que é comandado por uma Inteligência Suprema que age sempre com a Justiça Perfeita e o Amor Sublime.

O espírito individualista se coloca à parte do universo, pois não compreende a interação das coisas e, por isso, não imagina que seus atos refletirão no todo. Busca o seu individualismo como forma de se satisfazer, mas não vê que esta sua satisfação causa sofrimento aos outros.

Para se ter a felicidade universal é preciso que o espírito viva para o todo universal e não apenas para si mesmo. Seus atos e os acontecimentos de sua existência deverão produzir uma felicidade em todos e não apenas em si mesmo.

O espírito que vive com a felicidade universal (reino do céu) aceita Deus como Causa Primária das coisas, não discute com os acontecimentos, mas entende que eles são perfeitos pela origem que os causou; sabe que só recebe o que merece, mesmo que desconheça a origem do seu merecimento (positivo ou negativo), confia no Pai que dá a cada um de acordo com suas obras e entende que aquele merecimento não é um castigo ou prêmio, mas fruto de um Amor Sublime que só quer o melhor para o todo.

INSTRUMENTO DE DEUS

Deus causa todas as coisas através dos espíritos. Eles são porta-vozes de Deus para levar o ensinamento merecido e necessário para os outros.

É desta visão de servir ao todo coletivo que o espírito tem que buscar o sentimento necessário para viver na felicidade universal.

A felicidade universal nasce do amor a Deus acima de todas as coisas, na oferenda maior que cada um deve fazer ao Pai: sua própria existência.

Enquanto o espírito se considerar ser humano, autônomo do todo espiritual, não conseguirá entregar-se a Deus e criará um universo onde seja ele o comandante das coisas.

“Felizes sereis vós quando vos odiarem e vos perseguirem e não havereis de encontrar um só lugar onde não sereis perseguidos”

Aqueles que vivem com esta felicidade universal não sofrem com os acontecimentos do mundo, pois sabem que os envolvidos estão servindo de instrumento ao Pai para que o todo espiritual evolua. Por isto Jesus afirma que será feliz aquele que for odiado e perseguido.

Quanto maior o grau de evolução de um espírito, mais vezes ele será utilizado por Deus para levar o ensinamento àqueles que mais precisam. É através do amor que o espírito continuará a sentir que a mudança do outro poderá se fazer mais rapidamente.

Ter o amor universal não significa que todos os acontecimentos da vida do espírito serão felizes, mas que ele encontrará a felicidade nos acontecimentos, sejam quais forem. Esta felicidade que o espírito sente quando passa por situações de sofrimento vem do amor que dedica ao Pai, o causador da situação. Na fé, ou seja, entrega e confiança absoluta em Deus, o espírito retira a convicção de que está sendo útil ao todo coletivo.

“Sinto agora uma grande aflição. O que vou dizer? Direi: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não, pois foi para isto que eu vim. Pai glorifica o teu nome!”

“Então veio uma voz do céu dizendo: Eu já glorifiquei o Meu nome e continuarei a glorifica-Lo”. (João – 12, 27)

Jesus foi o espírito mais puro que encarnou neste planeta. Se um espírito acha que por praticar o amor universal só terá acontecimentos que ele imagina “felizes” (satisfaçam sua individualidade), Jesus deveria ter tido apenas momentos majestosos. Entretanto, não foi isto que aconteceu.

Jesus passou por sofrimentos, humilhações, maus tratos, mas permaneceu feliz em todos os momentos, pois sabia que estava glorificando o nome de Deus, ou seja, amando-o acima dos acontecimentos materiais. Manteve-se feliz porque sabia que com aquela situação estaria criando oportunidades para que outros espíritos evoluíssem.

“Meu reino não é deste mundo! Se ele fosse deste mundo os meus seguidores lutariam para eu não ser entregue aos judeus. Mas o fato é que meu reino não é deste mundo! (João – 18, 36)

O ser humano busca em todos os acontecimentos da vida utilizar os sentimentos que compõem as Quatro Âncoras (Logia 62), mas o espírito busca apenas glorificar o nome de Deus. O espírito não precisa ser satisfeito, pois obtém a felicidade apenas por satisfazer a Deus.

Portanto, a felicidade universal não é alcançada com a satisfação nos acontecimentos, mas sim pela essência destes: amar a Deus acima de todas as coisas.