O evangelho segundo Tomé

Logia 67 - Causa Primária

“067. Disse Jesus: Todo aquele que conhece o Todo, mas não conhece a si próprio, a este falta tudo”.

Este ensinamento de Jesus é muito parecido com outro transcrito nos evangelhos canônicos além de ser uma máxima filosófica. Já na antiguidade um filósofo afirmava: “conhece-te a ti mesmo”.

“Todo aquele que conhece o Todo”

O ser humano aprofunda os conhecimentos nas coisas materiais. Descobre o funcionamento do corpo físico, remove montanhas ou as atravessa, constrói “espigões” que permanecem eretos, desvenda alguns segredos do universo. Apesar de todo este conhecimento, existe a “fatalidade”, ou seja, acontecimentos aos quais o ser humano não sabe atribuir a origem.

A cada nova descoberta, o ser humano imagina que chegou no âmago do assunto. Esta idéia dura até que nova descoberta ponha mais elementos no assunto e aquilo que era verdade absoluta, acaba se transformando em uma verdade relativa. A Terra já foi plana com bordas das quais se caía para o vazio e já foi o centro do universo em torno da qual outros astros, como o próprio sol, giravam.

As doenças tinham causas diversas até que se descobriu o mundo microscópio das bactérias, vírus, etc. Hoje começa-se a compreender que estes micróbios atacam não somente por acaso, mas que existe uma propensão a determinadas doenças já traçadas no DNA.

Sempre que a ciência consegue comprovar o funcionamento de determinadas coisas, logo depois novas descobertas provam que aquilo que se descobriu ainda não era a “verdade absoluta”. Além disto, muitas vezes as descobertas não produzem o efeito esperado, pois para tudo que existe materialmente há uma “causa primária”.

“07 – Poder-se-ia encontrar a causa primeira da formação das coisas nas propriedades íntimas da matéria?”

“Mas então qual seria a causa dessas propriedades? É preciso sempre uma causa primeira.”

“Atribuir a formação das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porque essas propriedades são elas mesmas um efeito que deve ter uma causa”. (Livro dos Espíritos)

O ser humano não busca a causa primária além das próprias coisas materiais: atribui esta causa ao próprio elemento. No entanto, sempre fica a pergunta: como o efeito surgiu pela primeira vez? O cálcio ajuda na formação dos ossos, mas o que causou este efeito primariamente?

“08 – Que pensar da opinião que atribui a formação primeira a uma combinação fortuita da matéria, isto é, ao acaso?”

“Outro absurdo! Que homem de bom senso pode olhar o acaso como um ser inteligente? Aliás, que é o acaso? Nada”. (Livro dos Espíritos)

O ser humano pesquisa todos os “causadores” das doenças (vírus, bactérias, etc). Quando os conhece consegue desenvolver remédios que os combatem, eliminando com a doença. No entanto, o remédio tem cem por cento de eficácia, ou seja, cura todas as pessoas que estão acometidas do mesmo mal?

Quando o efeito não é o mesmo estudado, o ser humano atribui este resultado diferente ao “acaso”, “sorte”, “azar” e nunca imaginou que estas doenças, vírus, bactérias, não são inteligentes... Nada existe no universo por acaso e sempre ocorre o equilíbrio perfeito entre tudo.

“09 – Onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?”

“Tendes um provérbio que diz isto: pela obra se reconhece o artífice. Pois bem! Olhai a obra e procurai o artífice. É o orgulho que engendra a incredulidade. O homem orgulhoso não vê nada acima dele e é por isso que ele se chama de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater”! (Livro dos Espíritos)

Apenas quem possui a Inteligência Suprema do Universo pode ser a causa primária de todas as coisas para que o equilíbrio universal se mantenha. Sempre que o homem busca ser a causa primária das coisas, acontece o desequilíbrio. É por este motivo que a resposta da espiritualidade a Kardec sobre o que é Deus foi: “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”. A resposta é bem clara: Deus é causa primeira de todas as coisas porque possui a Inteligência Suprema do Universo.

É Ele que causa as coisas no universo, mas sempre baseado nos seus atributos, ou seja, Justiça Perfeita e Amor Sublime. A causa sendo comanda por estes atributos mantém o equilíbrio do universo.

Quando se fala em causa primeira das coisas, alguns seres humanos já aceitam que Deus o seja, mas somente nos outros elementos universais: mineral, líquido, gasoso e vegetal. Para ele (ser humano) não aceita esta verdade, pois se considera “inteligente”, ou seja, com capacidade para governar as coisas e “sua vida”.

O ser humano imagina que pode controlar a natureza, as doenças, o destino. No entanto, sempre acontecem as “fatalidades”, ou seja, efeitos contrários ao que ele quis ou planejou. Apesar disto, não se rende às evidências e busca a causa primária das coisas nele mesmo.

Se o ser humano pudesse realmente ser o “causador” dos acontecimentos, o destino de cada um seria apenas o que ele projetasse: não existiriam mais “tragédias”, não aconteceriam mais “desastres” nem acontecimentos contrários aos seus desejos.

Na verdade, o Comandante de todas as coisas do universo é Deus. O homem não possui o conhecimento suficiente das essências universais para que possa causar acontecimentos sem quebrar o equilíbrio (justiça) universal. É preciso que o Pai dirija os seus atos para que ele não utilize seus conceitos para ferir quem não merece.

“mas não conhece a si próprio,”

O espírito não chegou a esta consciência porque não conhece a si próprio. Imagina-se como um corpo vestido (ser humano) e que o mundo material é autônomo do desejo do Pai. Para que ele conheça o universo é preciso, primeiro, que ele se reconheça como espírito.

“17 – É dado ao homem conhecer o princípio das coisas?”

“Não. Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo” (Livro dos Espíritos)

Deus não permite que o ser humano tenha comprovações das verdades universais porque assim a sua prova não seria executada corretamente. Um dos objetivos da encarnação é comprovar a fé que o espírito tem no Pai.

Para isto ele tem que crer sem ver, ou seja, confiar e entregar-se ao Pai sem comprovações materiais. Exigir de Deus estas comprovações é subordiná-Lo ao espírito, satisfazer a individualidade de cada um, quando a evolução espiritual se dá pela perda desta individualidade.

 “Quanto mais é dado ao homem penetrar nesses mistérios, mais cresce sua admiração pelo poder e sabedoria do Criador; mas, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho”. (Livro dos Espíritos – perg. 19)

Somente o espírito, aquele que não possui conceitos ou individualidades a serem satisfeitos pode entregar o comando de sua vida nas mãos de Deus e aceitar uma existência (vida material) destinada a servir de instrumento para que o equilíbrio universal (justiça) se mantenha.

“18 – Um dia o homem penetrará o mistério das coisas que lhe estão ocultas?”

“O véu se levanta para ele á medida que se depura; contudo, para compreender certas coisas, precisa de faculdades que ainda não possui”. (Livro dos Espíritos)

Reconheça-se como espírito e o Todo lhe será revelado.