O evangelho segundo Tomé

Logia 66 - Pedra angular

“066. Disse Jesus: mostra-me a pedra rejeitada pelos construtores; é a pedra angular”.

Para compreendermos as parábolas de Jesus, muitas vezes temos que voltar no tempo, pois Ele falava para os homens daquela época, utilizando-se de exemplos que vivenciados.

No tempo de Jesus, não existiam tijolos. As casas eram construídas com pedras sobrepostas umas às outras. No espaço entre elas, os povos antigos passavam uma massa que as unia e ao mesmo tempo evitava a entrada da água da chuva.

No entanto, esta massa muitas vezes deixava a desejar na impermeabilização e, por isto, as pedras deveriam se encaixar o máximo possível uma nas outras para evitar grandes frestas. Assim, as pedras eram escolhidas pelo seu melhor encaixe com outras. As pedras que não se encaixavam eram rejeitadas, ou seja, não eram utilizadas na construção da casa.

“mostra-me a pedra rejeitada pelos construtores”

Como já vimos, os ensinamentos de Jesus são no sentido que o espírito construa sua evolução espiritual. Por outros ensinamentos do Mestre, entendemos que esta construção se faz por meio do relacionamento do espírito com os outros espíritos encarnados.

Os espíritos sempre dividem seus relacionamentos entre “amigos” e “inimigos”. Os primeiros são aqueles que possuem conceitos semelhantes aos seus, ou seja, aqueles que possuem “idéias” parecidas. Os “inimigos” são aqueles que, ao contrário, não possuem conceitos semelhantes ao do espírito.

Aos primeiros, o espírito procura sempre, mas ao segundo grupo, ele rejeita a presença. É a esta rejeição que Jesus está tratando neste ensinamento.

“é a pedra angular”

A pedra angular era aquela que ficava na base do ângulo formado por uma parede e o chão. Sua importância era grande, pois ela sustentava todo o peso da parede. Esta pedra tinha que ser escolhida com muita atenção e, normalmente, era a primeira a ser escolhida. A escolha das outras sempre dependia do seu encaixe na pedra angular.

Voltando ao ensinamento do Mestre, podemos entender esta parábola: aquele que o ser humano rejeita como “inimigo” é o que deve ser “ouvido” primeiro, pois é a sustentação da evolução do espírito.

Temos estudado que a base para a evolução espiritual está no fim do individualismo, ou seja, no fim dos conceitos que o espírito possui. Somente quando ele não tiver mais conceitos que o faça agir em benefício próprio, conseguirá penetrar no reino do céu e viver na felicidade universal.

A importância do “inimigo” para este processo é preciosa, pois é ele quem mostra ao ser humano a existência dos seus conceitos. Quando alguém pratica um ato (físico ou oral) contrário à idéia do ser humano, está avisando: “Você ainda acha isto certo e aquilo errado”. Esta é a grande importância do “inimigo”: mostrar ao ser humano que ele ainda possui verdades individuais.

Na verdade o “inimigo” é direcionado por Deus (Causa Primária) para praticar um ato sob determinada forma na frente de uma pessoa justamente para isso: avisá-la o que deve ser mudado. O “inimigo”, portanto, é um enviado de Deus para transmitir um ensinamento a um ser humano.

Um ser humano só sabe que possui cores preferidas quando alguém o expõe a todas as cores. Se vivesse em um mundo onde só existissem suas cores preferidas, nunca iria saber se essas eram realmente suas preferidas e diria sempre que amava “todas” as cores. O inimigo de um ser humano é aquele que expõe a ele o seu “não gostar”, ou seja, o “errado”, o “mal”, o “feio”, as “outras cores”...

Se a vida carnal do espírito consiste em provas para que ele responda apenas com o amor, o “não gostar” de alguma coisa, é a reprovação. Por isto, o inimigo do ser humano é a “pedra angular” desta construção.