O evangelho segundo Tomé

Logia 65 - Os necessitados

“065. Ele disse: um homem honesto tinha uma vinha. Ele deu a uns agricultores para que trabalhassem nela e pudessem receber os frutos. Mandou seu servo para que os agricultores lhe dessem os frutos da vinha. Eles prenderam seu servo, bateram-lhe; mais um pouco e o teriam matado. O servo foi e contou ao seu senhor. E o senhor disse: talvez não o reconhecessem. Ele mandou outro servo; os agricultores bateram nele também. Então, o dono mandou seu próprio filho. Ele disse: talvez respeitem meu filho. Assim que aqueles agricultores souberam que era o herdeiro da vinha, sujeitaram-no e o mataram. Aquele que tem ouvidos que ouça.”.

“um homem honesto tinha uma vinha”

A humanidade na época em que Jesus viveu encarnado vivia basicamente da agricultura e da criação de animais. Existiam algumas outras atividades, mas a economia baseava-se quase que exclusivamente nestes dois pilares. Na região onde o Mestre viveu encarnado a plantação de uvas (vinha), era a base da economia.

Pela afirmação de Jesus no início desta parábola, podemos entender que ele está falando de um homem que possuía algo que servia de base de sustento para a vida. Entretanto, sabemos que Jesus sempre usava figuras para passar os seus ensinamentos.

Desta forma podemos entender o homem, o proprietário, como Deus, ou seja, aquele que realmente possui todo o universo. Deus possui a fonte de sustentação da vida, ou seja, o amor universal. É este sentimento que emana de Deus que dá a vida a todas as coisas do universo.

“Ele deu a uns agricultores para que trabalhassem nela e pudessem receber os frutos”

Deus dá o amor universal a todos os seus filhos e espera que eles “trabalhem” este amor para que ele gere frutos, ou seja, espera que seus filhos utilizem este amor em sua vida para que se seja mantido no todo a felicidade universal.

Esta sensação (felicidade universal) é o fruto do amor universal. Aquele que se nutre deste sentimento vive em harmonia, paz e alegria constantes.

“Mandou seu servo para que os agricultores lhe dessem os frutos da vinha”

É por ser o dono da “fazenda” que Deus manda seus servos receberem a parte que lhes cabe da colheita, ou seja, coloca aqueles que precisam do amor frente àqueles que receberam o fruto da vida de Deus.

Os servos de Deus que vêm receber a parte do Pai são aqueles que precisam de ajuda (alegria, compaixão e igualdade). Deus os coloca frente àqueles que a quem Ele deu o direito de “explorar” a vinha com a intenção de que estes “agricultores” entreguem para o servo a parte que Deus mandou.

“Eles prenderam seu servo, bateram-lhe; mais um pouco e o teriam matado”

O servo do Senhor, ou seja, aquele que necessita de ajuda, é alguém que não vive com amor. São as pessoas que vivem à margem da lei de Deus e são eles que Deus encaminha para os “agricultores” que exploram a vinha (vivem dentro da lei de Deus) com a intenção de que eles recebam parte da colheita do fruto da vida.

No entanto, estas são as pessoas que os arrendatários da fazenda do Senhor mais maltratam. Ao invés de serem amados são criticados, acusados pelos atos que praticam.

Jesus disse que se deve amar a todos e não que devemos amar apenas aqueles que estejam dentro da lei.

Amar a todos é manter a alegria sempre. Quando um ser humano se indigna, quando sofre vítima de um roubo, adultério, assassinato ou ainda quando vê alguém cometer a idolatria (mesmo que seja a ele mesmo) está negando o amor que Deus deu a ele.

Quando um ser humano julga e acusa, mesmo que o outro esteja ferindo “leis”, não está utilizando a compaixão, ou seja, está causando ferimentos.

Quem está ferindo as leis de Deus não precisa de acusações mas de mais amor para que possa voltar a “viver”.

Aquele que acusa está sempre se sentindo superior ao acusado e, com isto, destrói todo o amor que o outro precisa. Somente quem compreende a vida a partir das verdades espirituais entende que todos os espíritos estão em evolução e por isso são iguais.

Lembremo-nos da parábola da ovelha perdida:

“Cuidado para não desprezarem nenhum destes pequeninos. Eu afirmo a vocês que os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai que está no céu”.

“O que é que vocês acham? Se um homem tem cem ovelhas e uma delas se perde, o que é que ele faz? Deixa as noventa e nove pastando no monte e vai procurar a ovelha perdida” (Mateus – 18, 10).

Aquele que critica os que quebram as “leis” abandona a ovelha e segue apenas com as outras. Mas, quantas ovelhas ele terá que deixar no caminho?

Entregar a Deus parte da Sua vinha é amar a todos sem distinção alguma. Os anjos dos que quebram a lei estão sempre na presença de Deus mostrando a Ele que o seu “protegido” foi ferido por aqueles que estão explorando a vinha.

“Ele mandou outro servo; os agricultores bateram nele também”

Deus, no entanto, é justo e sempre concede uma nova chance aos seus filhos. Várias são as situações pelas quais o espírito passa onde ele vê pessoas necessitadas, ou seja, aqueles que precisam receber o amor. É esta sucessão de “provas” que forma uma encarnação.

A vida na carne (encarnação) não é um descanso para o espírito que não vem aqui de férias ou a passeio, mas para “trabalhar” (Terceira verdade Universal).

Jesus nos ensinou: “Não vim para os sãos, mas para os doentes”.

Todas estas situações que se sucedem compõem a vida carnal. Em cada uma das pessoas que quebram “leis” encontraremos uma ”prova”.

Quando falamos de “leis” não estamos apenas nos referindo às leis de Moisés ou às leis da justiça terrena, mas também às leis individuais, ou seja, aos conceitos que cada ser humano possui. Quando uma pessoa faz alguma coisa “errada”, ela se transforma numa transgressora das leis de quem apontou o erro.

A estes “transgressores” que devemos entregar a safra da vinha do Senhor. O ser humano deve amar aquele que discorda dele, aquele que o contraria, os servos de Deus que vêm buscar a parte do Dono da fazenda.

O espírito não vem à carne para fazer o que quer ou estar com quem gosta, mas vem para viver com os necessitados, ou seja, aqueles que contrariam os seus conceitos...

“Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos ama aqueles que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu” (Mateus – 5, 46)

Todos os espíritos encarnados são necessitados de amor, porque senão não estariam encarnados. Esta etapa que os espíritos do planeta Terra estão vivendo é a do conhecimento e busca da interiorização do amor universal. Portanto, acusar alguém de alguma coisa “errada” é dizer que esta pessoa é inferior, o que não é verdade, pois todos do planeta Terra precisam de muito amor.

Para receber este amor, é preciso dá-lo antes.

“Então, o dono mandou seu próprio filho. Ele disse: talvez respeitem meu filho”

Todos os espíritos são filhos de Deus e, por isto, não podemos entender aqui que o dono da vinha tenha mandado alguém específico.

Apesar de sermos todos filhos, a maioria dos espíritos encarnados não entende desta forma. Imaginam que são seres humanos, independentes de Deus. Acham que são os causadores das coisas universais.

Para se reconhecer como filho de Deus, é preciso que o espírito ame ao Pai acima de todas as coisas, inclusive da comprovação material do Seu comando sobre as coisas.

Nesta parábola, quando Jesus afirma que o dono mandou seu próprio filho, está falando das almas santas ou benditas, ou seja, espíritos que já interiorizaram o amor universal, mas que aceitam encarnar neste planeta para auxiliar os irmãos em processo de evolução. São espíritos que encarnam para vivificar a vida espiritual na carne e não buscam objetivos materiais, não possuem coisas materiais, mas vivem na felicidade universal.

“Assim que aqueles agricultores souberam que era o herdeiro da vinha, sujeitaram-no e o mataram”

Mesmo os filhos de Deus são atacados pelos agricultores. São chamados de “bobos”, “sonhadores” ou ainda de “fanáticos”. Bobos porque não buscam levar vantagens; sonhadores porque vivem acreditando no futuro onde todos se amarão e fanáticos porque têm “grande dedicação ou amor a algo” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

Porém, mesmo as almas santas ou benditas não podem levar a colheita que vieram buscar. Aqueles que buscam apenas o sucesso da vida material (satisfação pessoal) (agricultores) atacam e acusam os que vivem pela felicidade universal porque sabem que um dia terão que abrir mão da vinha em que estão, pois ela pertence, por sucessão hereditária, àqueles que são filhos do dono.