O evangelho segundo Tomé

Logia 63 - Essência da vida

“063. Disse Jesus: havia um homem rico que tinha muito dinheiro. E ele disse: usarei meu dinheiro para semear, colher e plantar, e encherei meu celeiro de frutas, para que nada me falte. Era isso que ele sentia em seu coração. E naquela noite ele veio a morrer. Aquele que tem ouvidos que ouça”.

“havia um homem rico que tinha muito dinheiro”

Jesus nos ensina, mais uma vez por parábolas, a essência da vida carnal, ou seja, a finalidade das coisas materiais para a obra de Deus. Todas as posses do ser humano são instrumentos que Deus utiliza para as provas que esse espírito vem fazer na matéria densa.

Casa, emprego, dinheiro, roupa, família, amigos, estudo, tudo o que o ser humano possui é dado por Deus para ele como instrumento para que utilize o amor universal para cumprir a Sua lei transmitida por Jesus: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

“usarei meu dinheiro para semear, colher e plantar, e encherei meu celeiro de frutas, para que nada me falte”

Um emprego não é uma fonte de renda para o ser humano, mas serve como instrumento para a ação de Deus, aplicando a Justiça e o Amor para todos os seres humanos. Um médico não trabalha para curar os outros, mas serve de instrumento para uma materialização da ação de Deus.

Como já vimos neste livro, é Deus que causa todas as coisas. Desta forma não será o remédio que curará uma doença, mas sim o merecimento do doente em se curar é que fará Deus acabar com a doença.

Ele poderia fazer isto (a cura) sem haver necessidade de materialização de nenhum gesto, mas desta forma não haveria merecimento dos espíritos encarnados. Para que o amor a Deus acima de todas as coisas seja verdadeiro, é preciso que o espírito tenha fé.

“Certa mulher que fazia doze anos que estava com hemorragia, veio atrás dele (Jesus) e tocou na barra da sua roupa. Ela pensava assim: se eu apenas tocar na roupa dele, ficarei curada. Jesus virou, viu a mulher e disse: coragem, minha filha! Você sarou porque teve fé” (Mateus – 9, 20)

  Não houve necessidade de nenhum ato de Jesus para que esta mulher fosse curada. Como o Mestre afirmou, foi apenas a fé que a curou, ou seja, a crença e a confiança na ação de Deus através daquele “homem”.

Esta deve ser a essência daqueles que se formam em medicina: servir de instrumento para Deus materializando uma cura para aqueles que têm a fé no Pai. O ser humano que compreende esta verdade servirá de instrumento melhor a Deus e por isso merecerá mais acontecimentos positivos.

A partir do conhecimento de Deus Causa Primária, podemos entender que os seres humanos são espíritos que vivem determinados “papéis” em uma grande “peça”, pois não praticam atos de livre e espontânea vontade, mas sim aquilo que Deus (o Autor) ordena, de acordo com o merecimento de cada um.

Este conhecimento nos mostra que o espírito não vem à carne para vencer as suas provas isoladamente, mas que necessita de todos os demais para isso. Não é através da reclusão que o espírito poderá vencer seus desafios nesta encarnação, mas sim com o relacionamento com os outros espíritos.

É através do serviço a Deus com amor, “temperando” a vida dos outros seres humanos, que o espírito conseguirá vencer as suas prova: esta é a essência da vida. As coisas deste mundo não estão aqui para servirem ao próprio ser humano, mas são instrumentos de Deus para que o espírito responda se viverá para si mesmo ou para a humanidade.

Ninguém veio construir a sua vida, mas sim participar da vida dos outros e deixar que os outros participem da sua. O objetivo (essência) da vida é semear o amor a Deus e ao próximo entre todos.

O “lucro” individual é algo material: é amealhar bens na terra onde os vermes comem e a ferrugem destrói. Somente o sucesso de uma coletividade pode levar ao sucesso individual. Buscar apenas para si pode levar à satisfação pessoal, mas nunca à felicidade universal.

Imaginar que existe uma vida individual e viver para servi-la é amá-la acima de Deus. Aquele que busca objetivos individuais ama mais a si mesmo do que ama a Deus.

 ”E naquela noite ele veio a morrer”

Onde ficam os bens materiais depois que há o desencarne? Como fica a “sua vida” depois do desencarne?

Uma encarnação (vida humana) é apenas um lapso de tempo da vida espiritual. Aqueles que constroem apenas vida material, depois do desencarne ficam sem saber como agir, uma vez que descobrem que todos os bens materiais serviram apenas para aquela vida com suas provas e missões.

Aqueles que têm como sentido de vida a construção da felicidade material (satisfação própria) sentem-se perdidos sem o que construíram durante a existência carnal, pois esta posse não os acompanham depois do desencarne...

A essência da vida não é construir “sua vida”, mas responder a Deus que aprendeu a amá-lo acima de todas as coisas. Aquele que luta para construir um patrimônio (bens materiais, fama, etc.) acaba se afastando de Deus.

A vida do espírito como um todo (encarnado e desencarnado) é para louvar a Deus, ou seja, construir a existência universal. Quando fora da encarnação, ou seja, com a visão espiritual das coisas, o espírito se conscientiza da imensidão maravilhosa da obra do Pai e consegue viver com esta essência. Entretanto, quando na carne, imagina-se o “ser superior”, aquele que consegue “causar e fazer as coisas” e, assim, busca apenas satisfazer a si mesmo.

“Aquele que tem ouvidos que ouça”

Jesus ensina aos espíritos nesta logia que, apesar da auto-visão seres humanos, continuem a viver como seres universais, que amam a Deus acima de todas as coisas, inclusive a si mesmo.

A essência da vida não deve ser procurar construir uma vida material digna, mas viver dignamente como espíritos. A vida material não deve ser compreendida como satisfazer as vontades do ser humano, mas sim passar por todas as situações, quaisquer que sejam, com amor. O sucesso material é perene, encerra-se com o desencarne, mas o sucesso espiritual permanece para sempre.

A vida material precisa ser vivida com valores espirituais e não materiais. A busca de cada espírito encarnado deve ser no sentido de amar as situações criadas por Deus e não de alterá-las porque não gosta, não concorda ou quer outra coisa para si.

É amando cada situação de vida que Deus dá, sem desejar outra coisa, que o espírito consegue o sucesso da sua encarnação. A essência da vida é amar a todas as coisas, independente das suas formas, sem desejar nada além do que já tem.

“Quem tem ouvidos que ouça” e busque a reforma íntima abrindo mão de seus desejos para amar tudo o que Deus lhe dá.