O evangelho segundo Tomé

Logia 61 - Imagem e semelhança de Deus

“061. Disse Jesus: dois descansarão em um leito: um morrerá, outro viverá. Perguntou Salomé: Quem és tu, homem, e de quem és filho? Tu te sentaste em meu banco e comes de minha mesa. Respondeu-lhe Jesus: sou o que vem daquele que é Igual; a mim me foi dado das coisas de meu Pai. Disse Salomé: Sou tua discípula. Disse Jesus a ela: por conseguinte te digo: se alguém pertencer ao Igual, será preenchido de Luz, mas se for dividido, estará cheio de trevas”.

“dois descansarão em um leito: um morrerá, outro viverá”

Com esta frase Jesus está falando da “casualidade”, ou seja, aquilo que acontece sem motivo aparente.

Se duas pessoas estão em um mesmo lugar e acontece algum fato que tire a vida material de um deles, o efeito deveria ser o mesmo para todos. No entanto não é isto que ocorre. Mesmo estando lado a lado ao lado de um fato causador de “morte”, muitas vezes um sucumbe e o outro não.

A este acontecimento é dado o título de “casualidade”, “sorte”, “azar”. Entretanto, sempre fica uma pergunta: “Por que um e não outro? Por que a sorte foi “caprichosa”, ou seja, porque escolheu exatamente aquele e não o outro?

Quando utilizou a frase acima, Jesus estava dizendo que Ele sabia o motivo para a ação da casualidade.

 “Quem és tu, homem, e de quem és filho?”

É exatamente esta dúvida que sempre fica sem resposta que faz com que Salomé questione a Jesus quem é Ele para dar respostas e com quem aprendeu para poder ensinar.

“sou o que vem daquele que é Igual; a mim me foi dado das coisas de meu Pai”

Jesus afirmou que recebeu seus ensinamentos de alguém que era igual a Ele e a todos que se encontravam ali.

No livro “Gênesis” da Bíblia Sagrada está escrito que “vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco” (1, 26). Juntando-se as duas informações, poderíamos concluir que Jesus estava dizendo que recebeu este ensinamento de outro ser humano. No entanto, os seres humanos não conhecem o motivo para a casualidade. Com isto compreendemos que Jesus não era um “ser humano”, mas sim um espírito na carne.

O ser humano não se reconhece como espírito: imagina que só se transformará neste ser após a morte. Por este motivo aplica o ensinamento do livro Gênesis em sentido inverso, ou seja, imagina Deus como um ser humano ao invés de saber que ele, ser humano, já é um espírito à semelhança de Deus.

Deus não possui materialidade e não vive para coisas materiais. Ele nunca quer estar certo, porque sempre assim está; não busca a razão, porque sempre a tem. A inversão da auto-visão que um ser humano tem de si (ser espírito já), lhe levará a participar destas verdades universais. Enquanto o ser humano buscar na sua própria imagem a semelhança com Deus, não conseguirá participar do Universo que vive (espiritual).

Portanto, ao afirmar que veio do Igual, Jesus estava dizendo que se sabia um espírito habitando uma carne e não um ser humano. Por este motivo conhecia as verdades universais sobre as coisas.

“Sou tua discípula”

Na logia 15 Jesus afirmou que aquele que não se reconhecer como filho de mulher (ser espírito) poderá ser pai de outras pessoas, ou seja, ensiná-las como viver para alcançar a elevação espiritual. Isto porque quem se reconhece como espírito conhece as verdades universais e não julga ou condena ninguém e mantém a alegria universal.

Por entender que Jesus não se sentia como ser humano, mas sim como espírito na carne, é que Salomé afirmou que queria aprender com o Mestre a “viver”.

“se alguém pertencer ao Igual, será preenchido de Luz”

É preciso que o ser humano se veja à imagem e semelhança de Deus (espírito) para compreender os acontecimentos da vida material. A casualidade não existe no mundo de Deus porque ela não é inteligente, justa ou amorosa.

Achamos que uma bala perdida faz uma “vítima”, ou seja, alguém que pagou pelo erro de outro e foi injustiçado e maltratado. O ser humano não consegue entender porque aquela bala penetrou exatamente na pessoa que isto precisava e merecia e por isto sofre. Não entende os motivos que levaram o “criminoso” a atirar e acertar, casualmente, quem “não tinha nada a ver com isto”.

Quem se sabe espírito sabe também que o criminoso não atira porque quer e que a bala não acerta ninguém a não ser que seja direcionada para aquela pessoa (Deus Causa Primária das coisas). Por isto não vê “bala perdida”, mas sim a “bala achada”. Compreende que aquele tiro foi direcionado por Deus para aquela pessoa que, aparentemente, nada tinha a ver com a situação.

É na Inteligência Suprema que o espírito retira as verdades do mundo. Ele sabe que é filho de Deus, habita em Sua residência e que o Pai é o único e por este atributo pode comandar as coisas para que a Justiça se imponha perfeitamente. Além disto, confia plenamente no Amor Sublime que o Pai dedica a seus filhos e sabe que Ele nunca os castigaria, mas promoveria a sua justiça e evolução.

Por este motivo, o espírito não acusa o outro de ser um assassino, mas sabe que ele serviu de instrumento de Deus para causar o que deveria ser feito. Reconhece os motivos por merecimento ou necessidade que levaram a bala a ser direcionada contra aquela pessoa. Sabe que quem recebeu o tiro não é uma vítima, mas que merecia passar por aquilo para a sua evolução.

“mas se for dividido, estará cheio de trevas”

O espírito, portanto, não sofre. Aquele que reage com sentimentos de sofrimento a qualquer acontecimento da vida humana é porque ainda imagina que Deus é um ser humano, ou seja, a imagem e semelhança dele mesmo.

Aquele que se encontra dividido entre a conquista de bens materiais e espirituais vive nas trevas, ou seja, no escuro, não conhece a razão para os acontecimentos da vida (Deus Causa Primária) e por isto escolhe sentimentos que provocam sofrimento, angustia-se com o amanhã, preocupa-se com os acontecimentos, apavora-se com o destino. Todos estes sentimentos são negativos, ou seja, provocam no ser humano a sensação de sofrimento e originam-se na falta de fé, ou seja, na não entrega e confiança absoluta em Deus.

Aquele que tem fé confia em Deus e sabe que, apesar da forma qualquer que o acontecimento tenha, ele será perfeito, pois foi comandado por uma Inteligência Suprema. Sabe que sempre receberá apenas o que merece, pois confia na Justiça Suprema. Recebe o que vem com alegria, pois sabe que visa a sua melhoria espiritual.

Para se viver desta forma é necessário que o ser humano saiba que ele veio do Igual e que pertence a Ele. Tem que saber que este Igual não é um “ser humano”, mas sim um espírito voltado para as verdades espirituais. É preciso saber que ele (ser humano) foi gerado à imagem e semelhança deste Igual e que, portanto, ele também é um espírito.

Neste momento o espírito abandonará a auto visão ser humano e conhecerá o seu futuro: será como Deus determinar...!