O evangelho segundo Tomé

Logia 6 - Atos

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Logia 6

“006. Seus discípulos perguntaram-lhe e disseram: Queres que jejuemos? Como deveremos rezar, e deveremos dar esmolas? E que dieta deveremos seguir? Jesus disse: Não mintais, não façais aquilo que odiais, pois todas as coisas são manifestadas ante a verdade. Nada há de oculto que não venha a ser desvelado, e nada há de coberto que permaneça sem ser descoberto”.

“Queres que jejuemos? Como deveremos rezar, e deveremos dar esmolas? E que dieta deveremos seguir?”

Os discípulos de Jesus, face ao iminente desencarne do Mestre, preocupavam-se com os ritos e posturas que deveriam seguir depois disto. Iniciava-se a preocupação em estabelecer uma religião a partir dos ensinamentos de Jesus, que servisse para divulgá-los.

Como todos eram praticantes da religião judaica, preocupavam-se com que ritos deveriam seguir para poder louvar o Rabino que haviam seguido, criando uma religião de Cristo.

Os ritos de uma religião são os atos que aqueles que professam a fé em determinada doutrina praticam. Por isto os discípulos de Jesus lhe perguntam sobre o jejum, a oração, o amparo aos mais necessitados e as limitações de alimento que deveriam ter. Era comum aos judeus religiosos a prática destes atos como prova de sua religiosidade.

Praticavam o jejum em ocasiões predeterminadas e com finalidades específicas, oravam nas sinagogas, eram obrigados pelas leis mosaicas a amparar aqueles que viviam em piores condições materiais e tinham restrições quanto a tipos de alimentos que podiam ingerir. Agora que Jesus alterara muitos dos ensinamentos até então conhecidos, a dúvida deles era como “viver” com os novos ensinamentos.

“Não mintais, não façais aquilo que odiais, pois todas as coisas são manifestadas ante a verdade”.

Em resposta, Jesus afirma que não eles devem se preocupar com os atos em si, mas com a essência com a qual os atos são praticados, ou seja, com qual sentimento são movidos para a prática destes atos. Por isto, Jesus não confirma os atos citados, nem lhes acrescenta mais nenhum, mas diz que devem preocupar-se com o sentimento. O Mestre afirma que todos os atos podem ser praticados, mas eles não devem ser feitos com sentimentos negativos.

O primeiro destes sentimentos é a mentira para si mesmo. Muitos praticam o jejum dizendo que o fazem para louvar a Deus, mas o real motivo da prática (sentimento), fica muito longe disto. Alguns o praticam por auto-penitência, ou seja, para aumentar o seu sofrimento de tal forma que Deus deles se compadeça e lhes dê o que desejam. Alcançam o sofrimento máximo com a intenção de “barganhar” ou, ainda, de fazer chantagem com Deus para alcançar o que querem. O jejum praticado por amor, para louvar a Deus não pode conter sofrimentos, mas sim alegria; não pode conter pedidos de vantagens próprias, mas sim ser bendito por Deus.

Apenas desejar fazer algo proibido, já significa tê-lo feito. De nada adianta o ser humano não ingerir determinados alimentos ou bebidas, porque a doutrina não permite, se existe o desejo, a vontade. Seguir a doutrina é não ter este desejo.

O ser humano reza, mas não ora: discursa palavras bonitas afirmando que está “falando com Deus”, mas o seu pensamento está muito longe Dele. Enquanto ora, está preocupado com as coisas de sua vida, reparando em outras pessoas, fazendo pedidos. Ele não ora com amor para falar com Deus, mas para cumprir obrigações.

A caridade praticada pelo ser humano, na maioria das vezes, esquece da afirmação de Jesus de que a mão esquerda não pode saber o que a direita está fazendo. Nos dias de hoje, o ser humano está preocupado em doar para receber “abatimento no imposto de renda”.

A preocupação do ser humano em praticar a caridade é saber o que ele vai ganhar em troca por aquele ato. Muitos não se preocupam com retorno material, mas ainda querem obter vantagens espirituais. Grande parte pratica a caridade com a intenção de “reservar o seu lugar no céu” e não para auxiliar o irmão necessitado.

Praticar a caridade não é dar esmolas, ou sobras, e sim “dar de si”. O ser humano doa roupas velhas que estão no armário, sem uso, com a intenção de sobrar espaço para poder comprar outras roupas novas para si mesmo. Compra dezenas de cobertores que não cobrem o frio de ninguém, apenas para poder dizer que ajudou muitas pessoas.

Doar é comprar uma roupa nova para si e outra igual para dar; é comprar apenas um cobertor, mas que seja igual ao que tem em casa. Desta forma o ser humano estará tirando de si e dando aos outros: estará praticando a verdadeira caridade.

Qualquer ato praticado deve conter os três componentes do amor universal: igualdade, alegria e compaixão. Por isso Jesus afirma que nada deve ser feito sobre a base do ódio. De que adianta você jejuar se está sofrendo por isso, orar sem estar alegre, dar esmolas sem sentir igualdade e impor a si mesmo restrições se elas lhe causam dor?

Todo ato tem que ser praticado com alegria, compaixão e igualdade. Somente o jejum sem sentir fome, a oração com alegria, a esmola com igualdade entre as pessoas e a abstinência sem sofrimento, são válidas.

Jesus afirma que não devemos nos preocupar com os atos que temos que praticar, mas sim com o sentimento que estamos utilizando durante a prática destes.

Se a base que nos leva à prática do ato for o amor universal, todos os atos podem ser praticados. Não existindo esse amor, não adianta fazê-los por obrigação. Deus não vê nossos atos, mas “enxerga” os sentimentos que nos levam a fazê-los, pois estes sentimentos emanam de nosso corpo carnal durante a prática do ato. Por isso, toda a base que utilizamos para praticar os atos é manifestada frente à Verdade que é Deus.

“Nada há de oculto que não venha a ser desvelado, e nada há de coberto que permaneça sem ser descoberto”

O ser humano pensa que “ninguém” está vendo os atos errados que pratica, mas se esquece que Deus está em todos os lugares e a tudo “vê” (Onipresente e Onisciente). Mesmo que mais ninguém possa enxergar o sentimento que você escolheu na hora que praticar o ato, Deus estará vendo e, quando achar necessário, revelará a verdadeira motivação desse ato.

Por mais que um ser humano tente “esconder” dos outros as suas motivações (sentimentos), Deus sempre acabará revelando-as, para que todos compreendam os verdadeiros sentimentos que levaram à prática desse ato.

Qualquer ato praticado sem o amor universal, mesmo que, aparentemente outras pessoas vejam você como alguém muito devotado, Deus providenciará para que você pratique outros atos que mostrarão seus verdadeiros sentimentos ou intenções.

É claro que Deus aproveitará o seu ato, mesmo feito sem o sentimento adequado, para auxiliar o espírito que se encontra necessitado, como nos casos de caridade material.

Enquanto o ser humano não utilizar o amor para atingir a consciência de que não deve praticar determinados atos, nenhuma lei o fará deixar de praticá-los.

O ser humano submete-se às leis, enquanto que o espírito não necessita delas, pois tem a consciência da prática do amor universal.

Lembremo-nos mais uma vez das palavras de Jesus:

“Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino. Não imponhais nenhuma regra além daquela da qual fui o Testemunho. Não ajunteis leis às dadas por Aquele que vos deu a Tora a fim de não vos tornardes seus escravos”. (O Evangelho de Maria – Miriam de Mágdala – Pág. 8 – linha 23)

A única lei que Jesus testemunhou foi o amor universal. Quando fez milagres e alimentou seus discípulos no “sabath”, Jesus estava colocando em prática a compaixão, ou seja, a consciência do sofrimento das outras pessoas, colocando-a acima das leis escritas.

Portanto, espíritos, anunciem, com seus atos, o amor universal, mas sem tentar impô-lo, para que vocês mesmos não alterem seus sentimentos, sendo causa de infelicidade para os outros.

Pela compaixão do próprio amor universal, não se pode criar leis que “obriguem” os outros a segui-lo, pois isto acabaria com a alegria. É preciso praticar todos os atos com a consciência do amor universal para que Deus o revele às outras pessoas. Não é preciso criar leis para ensiná-lo.