O evangelho segundo Tomé

Logia 59 - Personalidade

“059. Disse Jesus: levai em consideração o Vivo enquanto estais vivos, senão morrereis e tentareis vê-lo e não o conseguireis”.

“levai em consideração o Vivo enquanto estais vivos”

O “Vivo” é o próprio Jesus como Tomé apresentou o Mestre (Apresentação).

Neste ensinamento Jesus pede que Ele seja levado em consideração. Não pede que o adorem, mas que considerem a sua existência carnal.

Aqueles que transformam Jesus em Deus contrariam todos os ensinamentos do Mestre. Em todos os seus ensinamentos convidou a buscar o Pai e não a Ele mesmo. Nunca atribuiu durante a sua vida carnal nenhum dos “milagres” à sua própria vontade, mas ao “desejo de meu Pai”. Toda sua existência foi voltada para as coisas de Deus e não para sua própria satisfação.

Jesus quando desencarnou realmente “subiu aos céus”, “sentou-se ao lado direito de Deus” e de lá continua governando o planeta. Entretanto, Ele não é Deus, mas sim nosso Irmão Maior, o Mestre dos ensinamentos de Deus.

Nos evangelhos bíblicos, quando se fala da comunhão de Jesus com Deus após seu desencarne, não deve ser entendido como o Mestre ocupando o lugar do Pai, pois o próprio Jesus nos ensinou que um escravo não pode mandar mais que o patrão.

Ele se tornou trabalhador de Deus porque abandonou o individualismo e trabalhou para a coletividade espiritual. Todos aqueles que abandonarem seus desejos e apenas praticarem os desejos de Deus também estarão na mesma comunhão com o Pai. Jesus não é o filho único de Deus, mas o único que viveu para Deus naquela época.

Desta forma, Jesus não “causou” nada, mas apenas serviu de instrumento do Pai para que Sua obra fosse feita. Quando pede que o levem em consideração, Ele não busca a fama para si, mas espera que cada um tenha ouvidos de ouvir para entender os ensinamentos que transmitiu e que se busque a compreensão e prática dos seus ensinamentos, pois neles está traçado o caminho para a elevação espiritual, objetivo de todos.

O Mestre foi categórico: esta busca deve ser realizada enquanto se está “vivo”, ou seja, preso na matéria carnal. Esta etapa da vida espiritual é a que pode trazer a elevação. Fora dela o espírito busca conhecimentos (estuda) mas precisa comprovar os conhecimentos adquiridos o que só ocorre quando ele está na carne (Terceira Verdade Universal).

Apenas estudar não eleva o espírito: é preciso que ele comprove que realmente aprendeu os ensinamentos do Pai.

 Como afirmado na Quarta Verdade Universal, o estudo do universo é sobre o amor universal. Durante a sua existência fora da carne o espírito aprende este sentimento e quando vem para a carne, apenas com os conhecimentos que ficaram gravados em sua memória espiritual, tem que responder as questões. A prática do amor universal sem motivação específica é a prova de todo espírito na carne.

Na logia anterior compreendemos que é o espírito que deve aplicar um sentimento aos acontecimentos e não os acontecimentos que devem despertar determinados sentimentos no espírito. Desta forma, provar é aplicar a tudo o amor universal durante a vida carnal. Para isto é preciso promover a reforma íntima, ou seja, reformar os sentimentos que existem dentro de cada um.

Ao conjunto de sentimentos que cada espírito possui, chamamos de “personalidade”. Uma pessoa é nervosa ou calma, honesta ou desonesta, incompreensiva ou compreensiva de acordo com os sentimentos que nutre. Por este motivo podemos dizer que uma pessoa que se chame “João da Silva”, na verdade é um conjunto de sentimentos que a levam a fazer determinados atos. O nome (João da Silva) é apenas um rótulo para este conjunto de sentimentos.

Os sentimentos que comporão a personalidade são determinados pelo espírito (junto com outros espíritos que o ajudarão) objetivando as provas que ele irá fazer durante a vida (Livro da Vida). Se o espírito precisa vencer a soberba, este sentimento estará em maior quantidade do que a humildade na formação da sua personalidade. Será a utilização do amor universal que reformará a personalidade deste espírito, ou seja, positivará o sentimento de soberba transformando-o em humildade.

Espiritualmente falando, João da Silva é um espírito em evolução que está fazendo suas provas aprisionado em uma matéria carnal. Podemos então definir o rótulo João da Silva como uma personalidade que o espírito recebe para viver uma vida carnal. Isto é uma encarnação.

Podemos definir encarnação como um conjunto de sentimentos (personalidade) que o espírito assume para provar os conhecimentos adquiridos no mundo espiritual sobre o amor universal.

A encarnação se inicia na transferência dos sentimentos que comporão a personalidade para o espírito que irá encarnar e só terminará quando ele se reformar, ou seja, positivar todos os sentimentos negativos com a utilização do amor universal.

A encarnação não se inicia com o “nascimento” nem acaba com a “morte”, mas dura o exato tempo em que o espírito possuir aquela personalidade planejada e com a qual encarnou. A “vida” como hoje entendida pelos seres humanos (encarnação) vai, portanto, além do falecimento dos órgãos.

“senão morrereis e tentareis vê-lo e não o conseguireis”

Por isto Jesus afirma que não será apenas com a saída do corpo físico que o espírito alcançará o Reino do Céu, ou seja, a felicidade universal, mas é necessário que ele “morra” (acabe com aquela personalidade) para chegar a isto.

Este ensinamento sobre a “morte” nada tem a ver com a matéria à qual o espírito está aprisionado, mas sim com o conjunto de seus sentimentos. Um espírito preso à carne pode alcançar esta verdade e vivenciá-la: basta acabar com o individualismo. Com a positivação dos seus sentimentos, o espírito passará a buscar a felicidade universal e não a conquista de seus desejos pessoais. Enquanto o espírito não morrer (perder o individualismo) ele não encontrará a felicidade plena.

Como comentado na logia 03, o único espaço físico existente é aquele que os seres humanos conhecem. Por este motivo, aquele que morre fisicamente não vai para o céu ou para o inferno: continuará neste mesmo espaço. Estes lugares serão determinados pela personalidade de cada um.

De acordo com os seus conceitos, os espíritos plasmam os locais físicos que habitam. Desta forma, aqueles que ainda possuem sentimentos de nervosismo certamente plasmarão um ambiente que reflita este seu “estado de espírito”. Como os afins se unem, quando sair da carne este espírito permanecerá no mesmo ambiente (planeta Terra), mas plasmará, em conjunto com outros que possuem o mesmo sentimento, um local que reflita esta característica de sua personalidade. Nesse lugar, Deus continuará colocando provas (situações de sofrimento) até que o espírito reforme-se, alterando a positividade de seus sentimentos. Neste momento, com a sua personalidade alterada, ele poderá ser atendido pelos irmãos: esta encarnação acabará.

A personalidade, então, voltará a ser aquela que ele possuía antes da encarnação (seu nível de elevação espiritual). Novamente este espírito voltará aos “bancos escolares” até que tenha novamente que prestar “exames”, quando sua personalidade será novamente alterada.

Passar na prova, então, é vencer a personalidade que o espírito adquire para a encarnação, não importando em que momento (dentro ou fora da carne) isto ocorra. Para isto, devemos compreender os ensinamentos do Mestre.