O evangelho segundo Tomé

Logia 58 - Situações de sofrimento

“058. Disse Jesus: bendito o homem que sofreu porque encontrou a Vida”.

Sofrimento

O objetivo dos ensinamentos de Jesus é que o espírito alcance o reino do céu independente da matéria que ocupe.

Como já vimos (logia 03), este reino não é um lugar físico, mas sim um estado espíritual onde se vive com felicidade plena ou universal. Se o espírito em evolução ainda não está lá é porque ainda vive com tristezas e sofrimentos.

Se a felicidade nos coloca no reino do céu e, como já vimos também (logia 01), é ela que determina se o espírito está “vivo”, podemos afirmar que aquele que ainda sofre não vive no reino do céu e está morto. Com este raciocínio aparentemente o ensinamento de Jesus nesta logia á ambíguo: “bendito o homem que sofreu porque encontrou a vida...”.

Para encontrar o sentido do ensinamento de Jesus, que também faz parte do Sermão da Montanha narrado nos evangelhos canônicos (“Felizes os que choram, pois Deus os consolará”- Mateus 5,4), há a necessidade de se entender o sofrimento.

Existem diversos tipos de sofrimento:

Material – fome, dor física, não possuir o que se deseja

Sentimental – saudade, ser esquecido, abandonado

Moral – contrariedades, desrespeito, discordância

Todos estes sentimentos citados e outros mais causam sofrimento ao espírito. Por este motivo, podemos dizer que o sofrimento não é um sentimento, mas um estado espiritual causado por um grupo de sentimentos. Assim como existem diversos sentimentos que causam a felicidade, também o sofrimento é alcançado a partir da utilização de diversos sentimentos.

Eliminar o sofrimento, portanto, é alterar os sentimentos que se utiliza para perceber os acontecimentos da vida: ao invés de sentir sentimentos do grupo de “sofrimento”, o espírito deve sentir aqueles que compõem o estado de espírito felicidade.

  Este é o trabalho espiritual que todos devem fazer no sentido de alcançar a sua elevação espiritual, ou seja, sua reforma íntima. É necessário reformar a sua forma de “ver” as coisas do mundo para que aconteça a purificação, ou seja, a utilização de sentimentos que contemplem as leis de Deus.

O espírito é motivado a escolher sentimentos pelos acontecimentos da vida criados por Deus. A cada fato que ocorre ele inicia um processo de raciocínio (espiritual) e escolhe um determinado sentimento para reagir àqueles acontecimentos.

Esta escolha é sempre baseada em sentimentos que o espírito já tenha incorporado àquele tipo de acontecimento: uma dor física deve ser sofrida, uma saudade deve ser sofrida. Estes sentimentos pré-determinados são o que chamamos de conceitos, ou sentimentos conceituais.

Porém, eles foram determinados pelo próprio espírito na busca da satisfação individual. Quando um ser humano “morre” aqueles que gostavam dele sofrem, mas quem não gostava alegra-se. Este “gostar” é o sentimento pré-determinado de cada ser humano para outro ser humano ou coisas do universo.

Por isto, para se alcançar a evolução espiritual, é necessário que sejam alterados os sentimentos pré-determinados do grupo do sofrimento para aqueles que pertençam ao grupo da felicidade: utilizar apenas o amor como sentimento único para todas as coisas. Não serão as coisas que se alterarão, pois elas são simplesmente questões de uma prova, mas cada espírito terá que “responder” a elas dentro das leis de Deus.

Aqueles que agirem desta forma conseguirão a evolução espiritual, a purificação, a elevação.

Esta é a reforma íntima que Jesus pediu a todos.

“bendito o homem que sofreu porque encontrou a Vida”

Portanto, encontrar a felicidade (vida) não é não passar por situações que possam gerar a escolha de sentimentos pré-determinados do grupo sofrimento, mas sim não sentir estes sentimentos em momento algum.

Quando Jesus nos ensina que bendito (feliz) será o homem que sofrer, está afirmando que o espírito só será feliz se passar por situações de sofrimento, sem utilizar sentimentos que levem ao estado de espírito “sofrimento”. Será feliz aquele que passar pela situação de sofrimento, sem sofrer.

Foi este o significado da crucificação de Jesus. Se o Mestre houvesse desencarnado de forma natural ou por doença, não deixaria este recado a nós. Jesus passou por todas as situações que imaginamos que passamos no dia a dia: foi caluniado, perseguido, difamado, maltratado, atacado, mas manteve-se firme no seu destino e desencarnou saldando o Pai.

Jesus não sofreu nem reagiu ao seu martírio porque sabia que tinha vindo aqui para isso. Resistiu às tentações do “diabo” porque são elas que formam os sentimentos conceituais. Subiu direto aos céus, porque enfrentou todas as situações de sofrimento com a felicidade que nós hoje podemos alcançar graças às suas lições.

O exemplo do Mestre, aquele que viveu a sua vida material com a ação do amor universal, deve ser seguido: todo espírito deve passar por situações de sofrimento, sem escolher sentimentos de sofrimento, para poder alcançar a vida. Não são as coisas que devem fazer o espírito sentir determinados sentimentos, mas cada um deve escolher com que sentimento reagirá a elas.

Quando cada um utilizar o amor universal como único sentimento, as coisas mudarão para ele não na sua forma, mas sim na sua essência. Quando agirmos assim, só encontraremos o amor em tudo e não será mais necessário que as coisas ocorram da forma que imaginamos “certas” para que possamos amá-las.

Atingindo a plenitude do amor, o espírito receberá qualquer acontecimento de forma amorosa.

Por isto Jesus ensinou:

“Ninguém acende uma lamparina para pôr debaixo de um cesto. Ao contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa. Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai que está no céu” (Mateus – 5, 15).

Portanto, ser feliz não é ver acontecer o que queremos.

Mesmo com a prática integral do amor universal, continuarão os fatos que hoje nos fazem sofrer. Isto ocorrerá porque Deus utilizará quem já interiorizou o amor universal como uma “lamparina” para que a sua luz (amor) sirva para que outros alterem seus sentimentos. Será com a doação do amor aos que ainda escolhem outros sentimentos que os ensinaremos a louvar ao Pai.

Neste momento, o espírito terá encontrado a vida.