O evangelho segundo Tomé

Logia 55 - Igualdade

“055. Disse Jesus: todo aquele que não odeia seu pai e sua mãe não será capaz de ser meu discípulo, e todo aquele que não odiar seus irmãos e suas irmãs, e não tomar a sua cruz no meu caminho não me serve a mim”.

Nota dos autores espirituais:

No cabeçalho desta logia transcrevemos o ensinamento como traduzido para as línguas de hoje. Entretanto, temos que acusar algum problema na tradução original. Um livro onde até agora só se falou de amor, não poderia incentivar o ódio. Na verdade, o ensinamento do Mestre é que apenas aquele que repudia seu pai e sua mãe poderá ser seu discípulo. É com este sentido que faremos a decodificação.

“todo aquele que não repudia seu pai e sua mãe e todo aquele que não repudiar seus irmãos e suas irmãs,”

Apesar de aparentemente chocante, este ensinamento do Mestre também está estampado nos evangelhos canônicos e em outros evangelhos.

“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não serve para ser meu seguidor. Quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não serve para ser meu seguidor”. (Mateus – 10,34)

Vocês pensam que eu vim trazer paz ao mundo? Pois eu afirmo que não vim trazer paz, mas divisão. Porque daqui em diante uma família de cinco pessoas estará dividida: três contra duas e duas contra três. Os pais vão ficar contra os filhos e os filhos contra os pais. As mães vão ficar contra as filhas e as filhas contra as mães. As sogras vão ficar contra as noras e as noras contra as sogras”. (Lucas – 12, 49)

São diversos os ensinamentos onde Jesus afirma: é necessário que se repudiem os laços de família para que possa ser um seguidor de Jesus. Será que o Mestre veio trazer a espada ou a paz?

Jesus, a ação do verbo amar, não poderia nunca insuflar os espíritos para a prática do sentimento negativo contra um irmão, pois Ele que pautou toda a sua vida por este sentimento não poderia em momento algum ensinar a emitir sentimentos negativos. Então, o que nos ensinou Jesus?

Quando Jesus nos pediu que repudiássemos o pai e a mãe, estava falando da figura que se forma a respeito deles: os seres mais perfeitos do mundo, acima de qualquer suspeita, mesmo que firam outros espíritos...

Para nós, nossos pais não cometem erros, não magoam, sempre são bondosos e caridosos. É a figura que se faz desses espíritos que ocupam a figura de “pai”ou “mãe”, “irmãos” e “irmãs” que Jesus pede que repudiemos. Devemos repudiar as figuras e não os espíritos que as ocupam.

“Olhe, a sua mãe e os seus irmãos estão lá fora e querem falar com o senhor.

Quem é minha mãe? E quem são os meus irmãos? Vejam, aqui está minha mãe e os meus irmãos. Pois quem faz a vontade do meu Pai que está no céu é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.(Mateus – 12, 47).

Quando avisado da presença de seus parentes, Jesus ensinou que todos somos parentes de uma mesma família universal: para isto basta que façamos “ a vontade do meu Pai”. Quando colocamos nossos parentes materiais em um patamar acima de outras pessoas, acima da vontade do Pai, deixamos de fazer parte da família universal.

Repudiar a figura de pai e mãe é tratar a todos com igualdade, pois pertencem à mesma família. Louvar estas figuras “acima do bem e do mal” é atribuir a elas a perfeição.

Este ensinamento não é para que os espíritos “odeiem” seus pais e irmãos, mas que convivam com eles em igualdade com as demais criaturas do universo, pois todos são irmãos na família de Deus. Jesus nos ensinou a amar a todos e não apenas àqueles que nos são próximos por parentesco ou afinidade.

Colocar alguém em superioridade a outro é acabar com a igualdade entre todos, criando um sistema de classes que irá privilegiar, com certeza, uns em detrimento de outros. Achar a mãe “santa” e outros “monstros” é criar espíritos de primeira grandeza (mãe) e espíritos de qualidade inferior (assassinos, ladrões).

Colocar essa desigualdade entre as pessoas e entender isso como uma verdade universal é acabar com a Justiça Perfeita de Deus. Se fomos gerados por Deus que ama a todos nós, por que Ele criaria espíritos “melhores” do que outros? Onde haveria justiça nesta forma de proceder?

Espíritas alegam que aqueles que hoje agem de forma negativa, assim o fazem por causa de “débitos” acumulados em vidas passadas. Entretanto, isto os torna diferentes de nós? Será que devemos amar apenas o “puro”, o “respeitável”, o “dentro da lei”?

Jesus nos ensinou a amar a todos, sem exceção e distinção e não apenas aqueles que julgamos merecedores deste amor. Separar espíritos em categorias (os que amo mais, os que posso amar e os que não devo amar), é acabar com a igualdade pregada pelo Mestre, é acabar com o próprio AMOR.

Jesus abandonou seus discípulos, aqueles que procuravam seguir seus ensinamentos, para banquetear com ladrões, prostitutas e cobradores de impostos. Quando questionado, afirmou: “eu não vim para os sãos, mas para os doentes”. Todo aquele que tem o amor dentro de si deve compreender que veio a esta carne para aqueles que estão “doentes”, para amar aqueles que aparentemente fazem atos errados.

Como conseguir amar a todos enquanto houver um “exemplo” de amor a ser seguido? O amor deve ser incondicional e não deve precisar de antecedentes favoráveis para ser sentido. As figuras do pai e da mãe, como vistas hoje no planeta, criam estes antecedentes do exemplo que deve ser seguido para que possamos conceituar quem devemos amar ou não.

Jesus veio trazer a paz, mas esta não pode ser conquistada com a submissão dos outros aos nossos desejos ou conceitos, mas através da utilização do AMOR UNIVERSAL (ver logia 16).

“... e não tomar a sua cruz no meu caminho não me serve a mim”.

Para seguir Jesus é necessário mais do que acabar com os desníveis espirituais criados pelas figuras que o espírito ocupa: é necessário que nos vejamos todos iguais. Nenhum espírito pode ser superior a outro, pois isto ofende a Justiça de Deus e, portanto, ninguém pode sentir-se superior ao bandido, seqüestrador ou assassino.

Achar-se superior aos demais irmãos de caminhada é achar que Deus esqueceu de alguém, é acusá-Lo de causar injustiças, de coisas que não merecíamos receber.

Caminhar com a cruz no caminho do amor é saber que todas as coisas que acontecem são necessárias e merecidas. Enquanto o espírito achar que não mereceu os acontecimentos, estará se colocando em superioridade aos outros espíritos.

Tudo que acontece no universo é comandado por Deus (Causa Primária). Ele é a Inteligência Suprema, ou seja, Aquele que melhor conhece todas as coisas e possui melhores condições de análise. Pauta esta análise com a Justiça Suprema por isso sempre dá aos seus filhos aquilo que eles merecem. No entanto, nunca age por vingança ou punição, mas sempre visando o melhor caminho para a evolução espiritual, pois todas as suas análises são permeadas com o Amor Sublime.

Para carregar a nossa cruz sem lamentações, sem nos considerarmos injustiçados, é necessário que vejamos esta ação de Deus sobre as coisas.

Aquele que se sente injustiçado, imagina-se superior à Inteligência Suprema, capaz de saber o que é a Justiça Perfeita para cada caso. Não procurando o Amor Sublime, mas buscando a satisfação pessoal, acaba com igualdade entre todos.