O evangelho segundo Tomé

Logia 54 - Pobre de espírito

“054. Disse Jesus: benditos os pobres, porque deles é o Reino dos Céus”.

Nota: para a transmissão deste ensinamento, transcrevemos palestra proferida pelo espírito que se intitula “Joaquim”. Buscamos desta forma transmitir todo o sentimento com o qual ela foi impregnada e que é o fundamento deste ensinamento, afastando-nos um pouco da técnica até aqui utilizada para a decodificação do Evangelho de Tomé..

“Bem-aventuranças”

Vamos falar da página mais bonita do Novo Testamento. Esta passagem ficou conhecida como "Sermão do Monte" e é composto de diversas frases pequenas que sempre começam da mesma forma: "Bem-aventurado". Assim, este ensinamento faz parte das bem-aventuranças, que foi o ensinamento que Jesus transmitiu no "Sermão do Monte".

Mas, o que é bem-aventurança?

BEM AVENTURANÇA – Felicidade eterna que os santos gozam no céu (Mini Dicionário AURÉLIO).

Bem-aventurança é viver a vida no reino do céu, no estado de felicidade plena. (ver logia 003). Jesus mostrou nesta frase o caminho para se viver a vida com Deus. É um "mapa do tesouro", um ensinamento onde se mostra o caminho para ser bem-aventurado, ou seja, ser feliz, ser santo. Não santo como o ser humano entende, mas sim no sentido de ser de Deus.

Aquele que é de Deus é santo; o que não é de Deus é “morto” (ver logia 001).

Jesus deixou estes ensinamentos como um caminho a ser seguido por aqueles que querem alcançar uma vida com a glória de Deus. As bem-aventuranças são os ensinamentos que o espírito precisa praticar se quiser viver com Deus. É o caminho, é o “mapa” que vai mostrar o maior tesouro que pode ser alcançado na vida material: viver com Deus. Não existe tesouro maior para um espírito do que viver na glória do Pai, viver com Deus, porque Deus é a alegria e a felicidade eternas.

Os bem-aventurados vivem felizes e alegres para sempre. No bem-aventurado a tristeza não tem morada, o sofrimento não encontra abrigo e a raiva passa muito longe, porque essas não são coisas de Deus (espirituais): são coisas do homem (material). É o ser humano quem busca os sofrimentos negativos e não Deus que lhe manda.

O caminho para viver desta forma (espírito na carne e não ser humano), Jesus traçou no "Sermão do Monte", mostrando qual é a reta que o espírito na carne tem que seguir para encontrar a glória de Deus. Nas bem-aventuranças está o caminho para se receber a honra de ser tratado como o filho pródigo que, mesmo quando “foi embora e gastou todo dinheiro do pai”, este o recebeu como o filho perdido que retornava à casa. As bem-aventuranças são o caminho de retorno à casa do Pai, o caminho que conduz diretamente à casa de Deus.

“benditos os pobres, porque deles é o Reino dos Céus”

Pobre é aquele que passa necessidades porque tem poucas posses. Se a frase é "bendito os pobres de espírito", podemos, com o conhecimento do significado do que é ser pobre, afirmar que o ensinamento de Jesus quer dizer: bendito o espírito que tem pouca posse. Mas, qual a posse de um espírito?

As posses de um espírito são os seus sentimentos, a energia, A única coisa que o espírito possui são os sentimentos que ele nutre. Assim, a frase de Jesus já passou a ser entendida da seguinte forma: "bem-aventurados" os que têm pouca posse de sentimentos porque deles será o Reino dos Céus.

A "pouca posse" de sentimento que um espírito deve ter para viver no Reino dos Céus não deve ser medido em volume de sentimentos, mas na qualidade destes.

O espírito deve possuir um único sentimento em toda a sua existência: o AMOR. Este sentimento é formado pela junção de três outros: alegria, compaixão e igualdade. Portanto, quem tem só três sentimentos é "pobre", possui poucos sentimentos, pois existem muitos outros no universo.

É preciso ter só o amor e não outros sentimentos, como a raiva, a soberba, a desonestidade. É do AMOR que vem os outros sentimentos: a honestidade, humildade, carinho, amizade, etc. Todos estes sentimentos originam-se do AMOR e necessitam dele para existir.

Vamos, então, entender o que Jesus realmente falou:

"benditos aqueles que só têm o amor, porque deles será o Reino dos Céus".

Só o AMOR deve ser a posse do espírito. Só aquele que tem exclusivamente AMOR dentro de si pode viver no Reino do Céu!

Para saber se esta conclusão está certa, basta compará-la às Leis de Deus.

Deus diz que não devemos ter raiva dos outros. Como podemos deixar de ter raiva de uma pessoa que nos machuca, que nos ataca com um tapa? Só com o AMOR. Mas como achar esse AMOR, o que fazer para não ter raiva? "Sentindo" o que está sendo feito e não "vendo" o que está sendo feito... Ou seja, quando uma pessoa nos agride, não devemos ver a agressão física, mas "sentir" o que está motivando a agressão (ação de Deus com Justiça e Amor). Se prestarmos atenção apenas no tapa (físico), não vamos "sentir" os sentimentos de quem “agrediu” e os nossos próprios, para que Deus gerasse o ato físico da agressão. Todo ato físico só acontece porque é determinado por Deus daquela forma e contra quem merece recebê-lo.

Se procurarmos "ver" o tapa não vamos conhecer a Fonte que o motivou. Não entenderemos que há uma Causa Primária dirigindo todos os acontecimentos com Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime. Se não reagirmos com amor (ver a ação de Deus), receberemos o sentimento que deu origem ao ato e ficaremos mais "ricos" (com mais sentimentos) espiritualmente.

Para que se veja acima do ato, ou seja, a ação de Deus, é preciso compreender que quem pratica o ato só conseguirá agir desta forma se o outro merecer sofrer aquele ato.

No exemplo acima, não é a pessoa que está dando o tapa por livre e espontânea vontade, mas sim porque Deus mandou que ela agisse assim, porque ela mereceu se transformar em uma agressora. Você só vai receber o tapa se merecer ser agredido...

Para ser pobres de espírito temos que entender que todas as coisas que acontecem são frutos de momentos anteriores, os quais foram vividos com outros sentimentos que não o AMOR (lei da ação e reação). Tudo o que acontece está programado e reflete uma reação a uma ação anterior. No momento que merecermos e precisarmos do “alerta” para os sentimentos que estamos usando, Deus comandará outra pessoa e ela agirá conosco com o mesmo sentimento que já usamos antes...

Mas, por que Deus faz isso acontecer? Para que sintamos o efeito dos sentimento que já usamos contra outros, para que sintamos a dor que causamos a outras pessoas.

Se não recebermos a “ofensa” com AMOR (alegria, igualdade e compaixão), precisaremos novamente sofrer o mesmo sentimento usado por nós alguma vez. Isto é a Justiça de Deus e é também a única explicação para todas as coisas que acontecem. Todas as "histórias" que tentamos montar sobre as coisas que acontecem são ilusões baseadas nos sentimentos que utilizamos.

Sempre que o espírito encarnado ou desencarnado quer saber ou entender o que aconteceu, está querendo ser Deus, pois só Ele faz tudo acontecer e pode saber porque aconteceu.

Mesmo buscando e analisando fatos para saber onde erramos, nada vai mudar o fato do ato já ter acontecido. Se o que você queremos é não mais “errar” (usar sentimentos que não espelhem o AMOR), é muito simples: basta agir com AMOR sempre, As "histórias" da nossa vida são apenas ilusões que Deus cria para ver se interpretamos bem o nosso "papel", agindo com AMOR ou não...

Benditos são os "pobres" de espírito: aqueles que só usam o AMOR.

Se voltarmos ao passado procurando motivos para entender o enredo da vida, estaremos procurando uma “justiça” que satisfaça os nossos conceitos. Mas a função de promover justiça é exclusiva de Deus, que tudo sabe e tudo vê. Na verdade o que queremos é entender o que Deus está fazendo, querendo adivinhar as Suas vontades.

Lendo o livro da Bíblia "Jó", veremos o quanto ele sofreu procurando entender porque Deus fez tudo aquilo em sua vida e saberemos também a conclusão a que ele chegou.

Pobre de espírito, então, é aquele que usa só o AMOR, sem procurar entender os acontecimentos. Sem isto, continuaremos chorando a “vitima” da "bala perdida", vamos continuar xingando e maldizendo quem nos machuca ou aos nossos entes queridos.

O que não compreendemos é a vida. A vida é viver com AMOR, aconteça o que acontecer.

Viver é passar cada segundo vendo as coisas com alegria, compaixão e igualdade.

Este é o caminho, mas por que o ser humano não o alcança? Porque quer entender a vida... Se não compreender tudo o que está acontecendo, o ser humano acha que perdeu o "domínio" ("Como isso aconteceu?" "Para que isso aconteceu?" "Por que isso aconteceu?").

O ser humano busca responder estas perguntas para poder ter o domínio da construção do seu futuro, mas o futuro só Deus pode conhecer e traçar. O ser humano não tem qualquer controle sobre as coisas que irão acontecer, mas sofre, briga, achando que isso é possível. Esquece-se de que Deus é o único responsável por todas as coisas que vão acontecer na vida de cada um e no universo todo.

O único trabalho do ser humano: receber tudo o que Deus lhe dá com AMOR.

O mundo espiritual é como uma grande família, cujo chefe (Pai) é Deus e se Ele tentasse explicar o porquê das coisas, dificilmente aceitaríamos.

Portanto, devemos aceitar todas as coisas que o Pai nos dá com amor, porque sabemos que Ele é justo e amoroso. Não vemos o que o Pai vê. Na verdade, levamos a vida querendo ser o "homo sapiens", o ser humano, o homem que raciocina, o ser dominador, o rei do universo, aquele que tem todas as coisas abaixo de si, porque é o ser inteligente.

Não foi exatamente isso que Eva fez? A "cobra" disse ao casal que Deus não queria que comessem o fruto da árvore proibida, mas Eva achou que seria bom ter "todo o conhecimento como Deus". O que a Eva fez foi querer ser Deus, ou seja, ter o poder de "criar" as coisas do Universo, ter o comando do destino de sua vida, dominar as situações, julgar o bem e o mal.

O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que vê as coisas acontecendo e não pergunta para quê, como, onde e porquê: só reage com AMOR.

Quando queremos responder às perguntas, já usamos os sentimentos de curiosidade, cobiça, vaidade, raiva, inveja, etc. Já entraram muitos sentimentos diferentes do AMOR...

O pobre de espírito "ganha salário mínimo de sentimentos": “só” o AMOR.

O pobre de espírito não é sábio: não procura respostas para as perguntas do mundo. Abraão não procurou respostas para saber por que Deus mandou-o matar seu filho único. Ele levou o menino para o altar dos sacrifícios, obedecendo a Deus. Deus, porém, disse a Abraão que ele podia levar seu filho porque já tinha provado o que devia provar: o AMOR por Deus acima de todas as coisas.

Se Abraão pode dar seu filho único, por que você não pode dar o seu destino, a sua história, as suas vontades a Deus? Por que você não se desliga deste sentimento de “ser superior” e admite que existe um Ser superior no Universo? Por que você continua procurando outros sentimentos que não o AMOR para viver? Por que você quer dominar, ser "homem grande", capaz de mandar?

Como viver todas as coisas com AMOR sem entender que todas elas são causadas por Deus? Só entendendo que tudo é obra de Deus podemos sentir AMOR por elas, pois pela Sua grandeza, pelo Seu sentido de justiça e pela Sua bondade, só Ele é capaz de fazer as coisas PERFEITAS.

Só entendendo que tudo o que está acontecendo é perfeito, podemos amar cada momento, cada segundo, cada situação. Por isso, não devemos tentar entender tudo o que acontece, porque nos faltam atributos para isso.

Jesus disse:

"Se o seu olho faz você pecar, arranque-o e jogue fora! Pois é melhor entrar na vida eterna com um olho só do que ficar com os dois e ser jogado no fogo do inferno."

Quantos cegos, que não usam a visão da carne, alcançam a felicidade!

Quantos seres humanos, só depois de perder um membro do corpo é que conseguem ser felizes?

O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que reage a todas as coisas com AMOR, mesmo sem entender porquê, para quê. O puro reage com AMOR a qualquer coisa que aconteça.

Foi isso o que Jesus quis dizer quando mandou procurar a riqueza do céu e não a riqueza da Terra: a única riqueza que existe no céu é o AMOR.

Assim, o pobre de espírito é aquele que tem só AMOR, mas não é pobre por isso: é rico. Ele é feliz, aceita tudo com alegria, não vê o "eu", mas o "nós".

O pobre de espírito não consegue achar “certo” ou “errado”: tudo é motivo de alegria, de felicidade.

Só o AMOR pode nos transformar em pobres de espírito. Só o AMOR pode nos levar a sermos bem-aventurados. Só o AMOR pode garantir a entrada no Reino dos Céus. Qualquer outro sentimento vai nos levar a outro lugar, não ao umbral ou inferno, mas a outro estado onde existe o sofrimento.

É isto que é ser pobre de espírito e é isto que Jesus ensinou e deixou muito claro: “só não viu quem não tinha olhos de ver ou ouvidos de ouvir...”