O evangelho segundo Tomé

Logia 53 - Circuncisão espiritual

“053. Seus discípulos disseram a ele: é a circuncisão vantajosa? Respondeu-lhes ele: se fosse vantajosa, vossos pais vos gerariam circuncidados em vossas mães. Mas a verdadeira circuncisão no Espírito, essa se torna vantajosa em todos os sentidos”.

“é a circuncisão vantajosa?”

A circuncisão dos filhos varões dos israelitas foi estabelecida como uma lei a ser cumprida pelos integrantes desse povo. O objetivo era “marcar” aqueles que pertenciam ao povo escolhido de Deus.

Quando os apóstolos perguntaram sobre a vantagem da circuncisão, não estavam falando em termos médicos, uma vez que os avanços da medicina eram poucos naquele tempo, mas buscavam saber do Mestre se a prática deste ato traria vantagens para a evolução do espírito.

“se fosse vantajosa, vossos pais vos gerariam circuncidados em vossas mães”

Jesus afirmou que a circuncisão não traz nenhuma vantagem, pois se houvesse necessidade dela, Deus já teria projetado o corpo humano circuncidado, pois Ele dá aos espíritos todos os mecanismos que podem auxiliá-lo na sua evolução espiritual.

“Agora vamos fazer os seres humanos...” (Gênesis – 1,26)

Deus criou o corpo humano para que o espírito o utilizasse no seu processo de evolução. O corpo humano não é o processo de evolução do macaco, de qualquer outro animal nem muito menos surgido a partir de elementos monocelulares. Ele foi criado e moldado por Deus já completo e não foi gerado paulatinamente a partir da evolução de outros seres.

Cada órgão foi projetado de acordo com a necessidade de cada planeta e todos têm função específica de sustentação da encarnação. Não existe no corpo humano nada que não tenha utilidade ou função específica. Nenhum órgão pode existir isoladamente do conjunto. O corpo humano é um todo harmonioso que se completa.

No corpo humano Deus colocou tudo aquilo que o espírito precisa utilizar durante a sua estada no planeta para a evolução espiritual. Como a vestimenta utilizada pelos astronautas ao saírem deste planeta, o corpo humano “veste” o espírito e tem todos os mecanismos de auto-sustentação e de comandos para serem utilizados pelo espírito.

 Se alguma “peça” deste “equipamento” corpo fosse desnecessária, Deus não a teria colocado. Como toda obra de Deus, o corpo humano é perfeito.

Às vezes, entretanto, aparentemente alguns corpos não parecem tão perfeitos. Corpos deformados por doenças ou propensos a elas, parecem atrapalhar a utilização desta vestimenta pelo espírito. Afirmar isto seria o mesmo que dizer que o corpo que um determinado espírito utiliza veio com “defeito de fábrica”.

Antes da encarnação, o espírito juntamente com outros espíritos superiores, “escreve” os trabalhos que irá executar dentro da vestimenta que irá utilizar encarnado: provas, missões e expiações. Depois de traçados estes objetivos, o corpo humano é então idealizado como instrumento para que o objetivo da encarnação seja alcançado.

Se um espírito encarna em um corpo com alguma deficiência é porque esta é necessária para os seus “trabalhos”. O corpo é programado com essa “imperfeição” para que sirva adequadamente às provas ou missões que o espírito irá enfrentar. Assim, nenhum corpo é deficiente, mas perfeito, pois foi criado para o objetivo da encarnação que o espírito necessita.

Voltando à circuncisão (retirada da pele que envolve o pênis masculino), podemos ter a certeza de que o corpo humano na forma masculina necessita ser como é e por isto Jesus afirma que se ela (circuncisão) fosse necessária, Deus já teria programado o corpo humano masculino sem a pele.

Não nos compete aqui estudar detalhadamente o auxílio que esta matéria carnal pode dar ao espírito no seu processo evolucional. As coisas existentes servem a variadas provas, penas e expiações de acordo com a necessidade do espírito. No mundo espiritual não existe a padronização que o ser humano quer que exista. Perder um dedo em um acidente não revela, necessariamente, a expiação por ter tirado o dedo de alguém em outra vida. Pode ser, mas não se pode tomar como regra.

“a verdadeira circuncisão no Espírito”

Entretanto, vir à carne em um corpo que não funcione bem ou no qual falta algum órgão ou membro, não garante só por isso a evolução do espírito. Não será a deficiência que garantirá a evolução nessa encarnação, mas será apenas o instrumento para que isso aconteça. O que vai levar o espírito a evoluir é como ele reagirá `a deficiência de seu corpo carnal.

Para que a verdadeira evolução espiritual aconteça é necessário que o espírito ame a Deus acima de todas as coisas, acima da sua “incapacidade” corporal. É preciso que o ser humano não se revolte com a sua situação e entenda a necessidade da sua fragilidade corporal na contribuição da sua evolução espiritual.

A verdadeira circuncisão que Jesus fala (“circuncisão espiritual”) é o acordo espiritual com Deus. É a certeza de que cada um é escolhido de Deus na busca da evolução espiritual. Todo espírito que encarna recebe autorização específica de Deus para tanto, bem como aprovação do seu “plano de vida”. Este é o verdadeiro pacto entre Deus e o espírito na carne: “Eu lhe dou a chance e você a aproveita”.

A circuncisão é recomendada pelos médicos sempre que há acumulo de substâncias que possam fazer mal à saúde sob a pele que reveste o pênis do homem. Essa cirurgia visa impedir o acúmulo destas substâncias que podem ser danosas à saúde. A circuncisão espiritual também tem esta finalidade: eliminar substâncias que provocam a doença no próprio espírito. Fazer a circuncisão espiritual é eliminar os sentimentos negativos que o espírito carrega consigo, limpar estas substâncias que prejudicam a evolução espiritual.

Juntando-se os dois conhecimentos podemos entender o que Jesus quis dizer com a figura da “circuncisão espiritual”: entender a “vida” material como um pacto com Deus onde ele assume a responsabilidade de lhe dar todos os meios necessários para a sua evolução e você se compromissa com a limpeza das impurezas que possam atrapalhar esta evolução.

“essa se torna vantajosa em todos os sentidos”

Somente a consciência desta verdade pode ser vantajosa ao espírito, ou seja, pode auxiliá-lo na sua evolução. Apenas a certeza de que tudo nesta vida (corpo e acontecimentos) é resultado de um pacto onde Deus se compromete a mantê-lo, mesmo que no meio do caminho nós peçamos ao contrário.

Praticar a circuncisão material é orar a Deus pedindo a saúde física. Todas as doenças, como vimos, foram programadas e constam do pacto com Deus. No plano espiritual pedimos a doença como alavanca para a elevação. Depois, na carne, sem eliminar as substâncias impuras (sentimentos negativos) buscamos a satisfação material.

Fazer a circuncisão espiritual é compreender a vida neste sentido e orar a Deus pedindo forças para passar pela doença. Essa força resultará de sentimentos positivos que varrem os sentimentos negativos de dentro de nós mesmos. Não se deve buscar a doença, mas aceitar o que Deus nos mandar, como oriundo do pacto que deu início à encarnação.

Orar pedindo o alimento a Deus é buscar a satisfação material. Orar pedindo forças para passar pela fome, sabendo que ela faz parte da programação que você mesmo fez e que consta do pacto com Deus, é praticar a circuncisão espiritual.

Por isto Jesus nos alertou:

“Não ajuntem riquezas neste mundo, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Ao contrário, ajuntem riquezas no céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os ladrões não podem arrombar e rouba-las. Pois, onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês”. (Mateus – 6,19).

Orar pedindo um prato de comida é juntar bens na Terra (satisfação da fome); aceitar a fome sem revoltar-se contra ela é juntar bens no céu. Não é nos acontecimentos materiais da vida que se encontram as riquezas, mas no sentimento com o qual eles são recebidos. Cada um tem a fome e a doença que pactuou com Deus, mas apenas passar por elas não garante a evolução espiritual. É preciso praticar a circuncisão espiritual, ou seja, eliminar as “sujeiras” que atrapalham o cumprimento do pacto.