O evangelho segundo Tomé

Logia 52 - O profeta diário

“052. Seus discípulos disseram a ele: Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos eles falaram de ti. Disse-lhes ele: rejeitai o vivo que está à vossa frente e falais dos mortos”.

“Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos eles falaram de ti”

Os profetas foram espíritos que receberam missões de transmissão de ensinamentos das verdades de Deus.

Foram eles que ao longo das épocas do planeta transmitiram os parâmetros para a vida espiritual na carne. Podemos, portanto, creditar a eles a função de “professores” dos encarnados.

O próprio Mestre, quando queria comprovar um de seus ensinamentos, recorria às transmissões feitas pelos profetas.

Podemos, portanto, afirmar que os profetas foram emissários de Deus para relembrar aos espíritos na carne os ensinamentos necessários para que conseguissem realizar o seu “trabalho” na vida carnal: alcançar a evolução espiritual.

Os profetas bíblicos recebem este título porque transmitiram os ensinamentos necessários para a formação da doutrina que Jesus, posteriormente, iria ensinar e vivenciar. No entanto, existiram profetas desconhecidos, anônimos. Baseando-se na descrição acima feita sobre o que é ser um profeta, podemos afirmar que todos aqueles que auxiliarem seus irmãos transmitindo ensinamentos de Deus são profetas.

Esta é a função descrita por Jesus no ensinamento intitulado “Sal da humanidade”:

“Vocês são o sal para a humanidade: ...” (Mateus – 5,13)

O sal é o tempero que dá o sabor à comida; cada espírito dá o tempero da vida dos outros. É através do relacionamento dos espíritos que Deus transmite a cada um a “lição” particular que ele precisa aprender. Sempre que um espírito se relaciona com outro, os dois exercem a função de transmitir ensinamentos um para o outro. É assim que os espíritos encarnados auxiliam Deus na Sua obra.

Deus comanda os atos da vida de um ser humano (Quinta Verdade Universal) também para que este ato sirva como um alerta para a forma de proceder de quem o está recebendo.

A base para o comando de Deus sobre as coisas não é a pena ou a vingança, mas o Amor Sublime. Assim, cada ato praticado de um ser humano para outro, tem como objetivo levar conhecimentos para que ambos busquem a reforma íntima.

Quando alguém grita com outra pessoa, não está gritando por que quer, mas porque Deus a faz agir desta forma. Quem sofre o grito merece e precisa receber aquele ato e quem gritou, pelos seus próprios sentimentos, merecia gritar. É Deus agindo e comandando as coisas universais para que cada espírito “tempere” a vida do outro, não por castigo ou penalidade, mas objetivando transferir ensinamentos necessários para a evolução de quem recebe e de quem pratica o ato.

O ato do grito direcionado a você não é um castigo ou uma pena de Deus, mas um ensinamento. Quando alguém grita e você sofre, Deus está lhe ensinando o que sofre aquele com o qual você também grita.

A intenção do comando de todos os atos por Deus é para que nos conscientizemos do sofrimento que causamos aos outros e, assim, possamos alcançar a consciência que não devemos “regar a sementinha” de sentimentos que façam Deus transformar-nos em praticantes de atos desta espécie.

“Porque cada um será salgado com o fogo”. (Marcos – 9,49)

Quando o espírito, apesar de todos os ensinamentos que os enviados de Deus trouxeram, não consegue colocá-los em prática espontaneamente (aprender por amor), é preciso que Deus provoque situações em que este espírito escolherá o sofrimento para reagir (aprender pela dor). Não são situações que necessitam serem recebidas com sofrimento, mas Deus sabe que este espírito, pela não prática do amor, reagirá desta forma.

Todos os espíritos encarnados passam por estas situações dentro do seu merecimento e da sua necessidade. Não se trata de criar situações para penalizar, mas sim de transmitir ensinamentos que levem o espírito a buscar a sua reforma íntima.

O pagamento de penas, como são conhecidos hoje estes acontecimentos, não deve ser recebido com sentimentos de sofrimento, mas sim com a alegria de estar recebendo um ensinamento particularizado do Pai. Os espíritos encarnados passam por situações de sofrimento, mas devem passá-las sem sofrer, louvando o nome de Deus.

“Sinto uma grande aflição nesta hora. Mas o que vou dizer: Pai afasta de mim este cálice. Mas eu vim aqui para isto. Pai glorifica o teu nome em mim”. (João -)

Portanto, se cada um é um transmissor de ensinamentos para os outros através dos atos comandados por Deus, podemos então afirmar que todos somos “profetas diários” para a vida daqueles que nos relacionamos direta ou indiretamente.

“rejeitai o vivo que está à vossa frente e falais dos mortos”

No entanto, o espírito ao receber um ato que fere os seus conceitos (o que acha “certo” ou “errado”), julga e acusa o praticante. Para isto utiliza a própria lei de Deus transmitida pelos profetas, dado-se o direito de julgar...

Sempre que um espírito pratica qualquer ato ele se julga “certo”. Faz porque tem motivos, mesmo que estes motivos sejam “certos” apenas para ele mesmo. Um bandido rouba porque acredita que não teve chances de estudo, porque não consegue emprego, etc. Cada um cria os motivos para a prática do ato através do sentimento que escolhe e Deus lhe dá o pensamento que cria os motivos materiais que justificam o ato... Assim, “julgam” os outros com suas próprias convicções, ou seja, utilizam suas medidas para medir os atos dos outros.

É na própria lei transmitida pelos profetas desencarnados que o espírito busca o embasamento para suas acusações, afirmando que houve maldade, injustiça, acusando o praticante de não cumprir o ensinamento de Jesus (“amar aos outros como a si mesmo”), mas se esquece que, ao julgar e acusar alguém, também não o está amando. Jesus não transmitiu o ensinamento de que devemos amar apenas aqueles que são “certos” ou que fazem o que nós gostaríamos, mas ensinou a amar a todos, indistintamente, sejam quais forem os atos praticados por eles.

“Se vocês amam somente aqueles que os amam, porque esperam alguma recompensa de Deus? Até cobradores de impostos amam aqueles que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu”. (Mateus – 5,46)

Amar o inimigo, aquele que é julgado “errado” é difícil para o espírito que não compreender que o seu inimigo não é um oponente, mas o “profeta” diário escolhido por Deus para mostrar a ele o sofrimento que causa os outros.

Por este motivo, o ensinamento de Jesus de que devemos amar a todos indistintamente e não apenas aqueles que nos satisfazem. O verdadeiro amigo é o “inimigo” que nos mostra o que devemos mudar e não o “amigo”, aquele que reafirma nossa posição como “certos”.

Cada “inimigo” é um transmissor de ensinamentos, ou seja, um profeta, mas os espíritos encarnados preferem renegar o “vivo” que está à sua frente e citar o ensinamento dos “mortos”, utilizando-o para julgar o “vivo”.