O evangelho segundo Tomé

Logia 51 - Advento do novo mundo

“051. Seus discípulos disseram a ele: quando sucederá o repouso dos mortos e quando chegará o novo mundo? Respondeu-lhe ele: o que esperais já veio, mas não sabeis”.

“quando sucederá o repouso dos mortos e quando chegará o novo mundo?”

Todas as religiões falam do advento de um novo mundo sobre o planeta Terra e nesta nova situação do planeta, a vida sobre ele se tornará mais amena e agradável. Para todas as religiões, neste mundo não haverá mais guerras, ódios, violências: o planeta será como um “oásis” onde todos alcançarão a harmonia e a felicidade.

Em cada uma das religiões existe uma figura para descrever este novo mundo. Para os católicos, religião criada sobre os ensinamentos de Jesus, este mundo se caracterizará pelo “repouso dos mortos”. Por isto, neste ensinamento, é esta a figura que os discípulos de Jesus fazem.

O objetivo da pergunta é pedir ao Mestre que lhes informe em que momento este novo mundo começará. Quando a paz e a harmonia chegarão? Quando acabarão as disputas e as guerras? Em que momento o ódio e a vingança deixarão de existir?

“o que esperais já veio”

Para que este mundo chegue não serão necessárias mudanças nas coisas materiais. Não será preciso que as matérias alterem sua forma, que vidas sejam extintas, que conhecimentos sejam mudados. Por isto Jesus afirmou que o “novo mundo” já havia chegado.

O ser humano espera que as coisas se alterem para que ele possa encontrar a felicidade. Quer que a violência se encerre para que ele ache a paz, espera que o ódio e a vingança sejam extintos para que a harmonia chegue. Mas, tanto a paz, como a harmonia e a felicidade já se encontram dentro do espírito.

Para o ser humano é preciso que os acontecimentos tragam sentimentos para ele, mas o espírito entende que possui todos os sentimentos dentro de si e que é ele quem deve colocá-los nas coisas. O ser humano imagina que a flor lhe dá beleza, mas o espírito sabe que ele é que escolhe o sentimento de beleza quando vê uma flor.

As guerras materiais não acabarão, mas o espírito é que precisa aprender a entender a ação de Deus com a sua Justiça Suprema e Amor Sublime, para que continue em paz, harmonia e felicidade mesmo durante os conflitos. A violência não se extinguirá, mas o espírito não mais se sentirá violentado porque compreenderá os desígnios de Deus.

É esta alteração de escolhas de sentimentos que marcará o advento do novo mundo em cada espírito e não uma alteração coletiva dos acontecimentos universais. O novo mundo não será vivido por todos de uma só vez, mas será alcançado por cada um individualmente em momentos diferentes. Por isto Jesus afirma que o novo mundo já havia chegado, mesmo há dois mil anos atrás.

Antes do Mestre outros enviados de Deus já haviam trazido a fórmula para se penetrar no novo mundo: a submissão aos desígnios de Deus com o abandono da visão individual. Todos aqueles que alcançaram a verdadeira fé (confiança absoluta no Pai) começaram a viver um novo mundo mesmo estando nesta densidade material. Os fatos continuaram acontecendo da mesma forma, mas aqueles que já viviam no “novo mundo” conseguiam vê-los sob outros prismas: o prisma ação da Inteligência Suprema com Justiça Perfeita e motivada pelo Amor Sublime.

Como podiam aceitar, sem revolta, os primeiros cristãos os martírios e a crucificação sem estarem vivendo neste mundo? Como puderam os “santos” aceitar as humilhações e necessidades que passaram sem entender a ação de Deus em suas vidas?

O novo mundo não se trata de uma mudança física, mas de uma reforma íntima que todos têm que fazer, abandonando a visão ser humano e conhecendo-se como filho do Pai Vivo, oriundo da Luz, sabendo-se como eleito para realizar a Sua obra através dos seus movimentos em benefício da coletividade espiritual.

“mas não sabeis”

Enquanto o espírito considerar-se como ser humano, ele não atingirá o novo mundo. Para que isto aconteça é preciso que ele altere a sua visão sobre os acontecimentos do Universo.

Como disse Jesus, “eu vim ao mundo para que o cego enxergue”. Com a utilização do amor universal, aquele que não vê os acontecimentos do mundo “enxerga” a ação de Deus. Ele não vê mais ódio, mas encontra um emissário de Deus dando a quem precisa o que merece. Não enxerga mais violência, mas vê Deus pedindo a sua colaboração para transmitir um ensinamento a quem precisa. É esta visão das coisas que transforma os acontecimentos.

Entretanto, para se alcançar este estado, é necessário que o espírito se entregue completamente na mão de Deus. Isto ele não conseguirá enquanto ainda tiver vontades individuais que deverão ser satisfeitas. É necessário trocar as vontades pela submissão aos desejos do Pai, abandonando a visão de ser independente de Deus e submetendo-se a Ele.

É preciso acabar com os conceitos individuais, ou seja, com as leis que criam condições para que o sentimento possa existir. Enquanto o espírito tiver conceitos que determinem o que é ódio e o que é amor, precisa que eles sejam satisfeitos para que o sentimento floresça dentro dele.

Viver no novo mundo é não impor condições para a utilização de sentimentos, mas utilizá-los constantemente em tudo o que ocorrer. É preciso não haver condições específicas para que o amor seja utilizado. Aquele que adquire este conhecimento aprende que é ele quem determina o sentimento com o qual quer reagir aos acontecimentos. Quando o espírito junta este conhecimento à entrega completa a Deus (fé), sabe que só poderá optar pelo amor, pois uma fonte de Amor Sublime não poderá produzir o mal, que a Justiça Perfeita não será capaz de premiar um e desmerecer outro e que uma Inteligência Suprema não poderá cometer erros.

Com esta convicção e confiança, o espírito sabe que pode reagir a tudo com amor, não importando o que esteja acontecendo. Quando agir desta forma nada mais lhe causará transtornos ou desconfortos e encontrará a harmonia; nada será capaz de lhe contrariar e encontrará a paz; nada lhe causará sofrimentos e será realmente feliz.

A entrada no novo mundo não depende da “sorte” de um espírito estar ou não encarnado em determinada época do planeta, mas pode ser feita em qualquer encarnação, a qualquer momento. Depende exclusivamente de cada um promover a sua própria reforma íntima, abandonar a visão de ser humano e voltar a ser o espírito que sempre foi.

Para promover esta reforma é necessário quebrar os conceitos e para isto é preciso a fé em Deus e na sua Providência em abastecer cada um e ao próprio Universo com o amor universal. Este sentimento sempre esteve à disposição dos espíritos em qualquer densidade material que habitem e por isso Jesus afirma que o novo mundo já se encontra sobre o planeta: nós é que não sabemos.