O evangelho segundo Tomé

Logia 5 - Visão espiritual

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“005. Jesus disse: Reconhece o que é visível para ti, e o que é oculto te será desvelado. Pois que nada há de oculto que não seja manifestado”.

“Reconhece o que é visível para ti”

Esta afirmativa de Jesus precisa ser profundamente estudada para que se alcance o entendimento do ensinamento.

O espírito possui um processo interno que lhe permite reconhecer, analisar e tomar decisões em face de acontecimentos externos. Chamamos a este processo de raciocínio.

Sempre que alguma coisa é captada pelos órgãos sensores do corpo humano, é encaminhada ao espírito que procederá a um raciocínio.

Este processo possui três partes distintas:

a) análise da percepção;

b) tomada de decisão;

c) comando para a ação.

O reconhecimento das coisas que foram percebidas é a decisão a que o raciocínio chega, depois da análise das percepções. Desta forma, podemos dizer que o que nos é visível é fruto desta análise.

Para fazer esta análise, o espírito na carne utiliza-se de informações anteriores sobre o assunto. Por exemplo, quando ele vê uma cor amarela, vai buscar dentro de si todas as informações que tem sobre esta cor para decidir se comanda a uma apreciação positiva ou não da cor percebida.

A estas informações anteriores existentes dentro do espírito, chamamos de conceitos. Os conceitos são formados por decisões de processos de raciocínios anteriores que ficam arquivados na memória dos espíritos. Assim sendo, dentro do nosso exemplo, a apreciação ou não da cor amarela dependerá de informações anteriores que o espírito tenha do contato com esta cor. Caso tenha “boas” lembranças, apreciará positivamente; caso não tenha, desgostará.

Ampliando o ensinamento e colocando-o no texto de Tomé, podemos afirmar que o reconhecimento de alguma coisa depende do conceito que se tenha sobre ela. Se gostamos anteriormente, reconheceremos a coisa como boa; se não gostamos, o reconhecimento será de coisa ruim.

Entretanto, cada espírito possui um conceito diferenciado sobre a mesma percepção, o que determina a individualidade de cada um. Como saber, então, quem está certo ou errado: quem gosta ou quem não gosta do amarelo?

Podemos chamar o conceito de “verdade pessoal” ou aquilo que é verdade só para uma pessoa. Esta “verdade” dificilmente será a mesma “verdade universal” das coisas, pois o espírito na carne possui uma visão muito limitada sobre as coisas e o Universo.

Continuando ainda no nosso exemplo, todas as cores foram criadas por Deus e por esta origem têm que ser perfeitas, pois Ele é a Perfeição Absoluta. Portanto, não pode haver cor “boa” ou “ruim”...

Aplicando este ensinamento para todas as coisas, podemos afirmar que nada pode estar sujeito a um binômio (feio/bonito, alto/baixo, gordo/magro, primeiro/último), porque todas as coisas foram criadas por Deus que, por ser a Justiça Perfeita, não pode premiar ou desmerecer nada.

Estes binômios surgem do ponto de vista de cada um, ou seja, dos conceitos que cada um possui. Imaginemos um valor em dinheiro: qualquer que seja ele será muito para quem tem menos e pouco para quem tem mais.

Assim, não existe um real reconhecimento das coisas que estão sendo percebidas pelo espírito, mas sim um “reconhecimento pessoal” de cada uma delas. O espírito reconhece as coisas da forma que quer, ou seja, de acordo com os conceitos que norteiam seu raciocínio.

Por isto Jesus avisa: “...reconhece o que é visível para ti”. Quando afirma isto, o Mestre nos ensina que o único reconhecimento que podemos ter é a simples constatação da existência da coisa. Os espíritos nada podem reconhecer além disso, pois estão impregnados de conceitos que deturpam a sua visão.

Foi o que Jesus disse ao abordar a cegueira espiritual:

“Se vocês fossem cegos não seriam culpados – respondeu Jesus. Mas como dizem que podem ver, então ainda são culpados”. (João – 9,35)

Enquanto o espírito achar que tem a capacidade de reconhecer as coisas à sua volta, ainda não estará praticando o AMOR UNIVERSAL.

Quando uma pessoa pratica um ato, quem vê organiza toda uma história para explicar a si mesmo o que está vendo (pensamento). Imagina todos os motivos que levaram a pessoa a praticá-lo, de acordo com os conceitos pré-existentes sobre essa pessoa. Se o espírito “gosta” dela, busca embasamento positivo para o pensamento, mas se não gosta, “monta” toda uma acusação sobre o ato praticado.

Isto é um julgamento; uma corte sem advogados, testemunhas e possibilidades de defesa, pois o “réu” muitas vezes nem sabe que está sofrendo este processo. Por isto, o espírito que se imagina capaz de reconhecer as coisas que estão acontecendo à sua volta, estará sempre julgando através de conceitos anteriores sobre a pessoa, a coisa ou o ato.

“e o que é oculto te será desvelado”

Para aquele espírito que abdicar de reconhecer as coisas e as pessoas, Deus revelará a “verdade universal” sobre elas. A cor será uma obra de Deus para sua ajuda; a outra pessoa, um espírito amigo em processo de evolução que necessita de sua ajuda e não de seu julgamento.

Como ver na agressão um pedido de ajuda, se ainda existe o conceito de que a agressão é para ferir? Aquele que agride está pedindo socorro para ele mesmo, pois possui sentimentos negativos que levaram Deus a dar-lhe a prática daquele ato.

Como não sentir a injustiça em uma agressão, entendendo-a como uma lição? Não reconhecendo um agressor, mas entendendo que a pessoa que lhe agride, apesar de estar usando um sentimento negativo, está auxiliando Deus na sua obra ao dirigir a você (que precisava e merecia passar por isto) este ato e sentimento (Deus estará lhe mandando um recado...).

Estas duas visões sobre agressão não são conceitos, pois não são verdades particulares, mas sim verdades universais. Todo gesto de desafeição entre dois espíritos na carne é o pedido do agressor para que o agredido lhe remeta sentimentos positivos. É também é um aviso de Deus ao agredido de que muitas vezes ele também agrediu alguém.

Jesus afirmou que toda dívida deve ser paga até a última moeda. Se você um dia agrediu alguém, Deus não pode simplesmente perdoá-lo sem que você tenha consciência do sofrimento que causou a alguém. Assim, Ele utiliza outro espírito que tenha, naquele momento, os mesmos sentimentos que você já teve para com outro espírito, para lhe trazer o ensinamento.

Ele assim procede, não por penalidade ou vingança, mas porque precisa ensinar a cada um que, no momento que agrediu, não reconheceu corretamente o que estava vendo.

Só haverá este reconhecimento quando o espírito expulsar os conceitos de dentro de si e reconhecer que nada pode ver.

“Pois que nada há de oculto que não seja manifestado”

Deus não seria Perfeito nem Justiça Suprema se escondesse toda a Sua intenção daqueles que recebem as Suas ações. Ele sempre está revelando aos espíritos a verdade das coisas. Porém, para enxergar estas verdades, o espírito necessita alcançar a cegueira material, ou seja, deixar de reconhecer as coisas pelos seus conceitos e alcançar a visão espiritual, aquela que só é revelada por Deus para quem não enxerga conceitualmente.