O evangelho segundo Tomé

Logia 49 - Solitário

“049. Disse Jesus: bem-aventurados o solitário e o eleito, pois que encontrarão o Reino; porque dele vieram e a ele retornarão”.

Os ensinamentos de Jesus trazidos em todas as logias até aqui estudadas, sempre convergem para o mesmo ponto: o Mestre nos ensina de diversas formas que devemos abrir mão dos nossos conceitos para eliminarmos a fonte dos julgamentos que emitimos sobre tudo.

Quando os conceitos acabarem, acabarão também o bem e mal, o certo e o errado, o bonito e o feio, tornando todas as coisas iguais. Neste momento iremos compartilhar da coletividade universal e encontraremos o amor universal, que traz a felicidade plena.

Entretanto, o espírito na carne nem sabe que possui estes conceitos, pois vive a vida regada por eles e nem percebe que estão presentes. É preciso que alguma coisa contrarie o espírito para que ele perceba isso. Ninguém pode afirmar que existe beleza em algo apenas pelos seus parâmetros,mas é necessário que se conheçam os parâmetros dos outros para saber que o belo pode também ser considerado feio.

Não adianta um ser humano enclausurar-se com a intenção de acabar com os seus conceitos. Enquanto ele não estiver exposto a outras medidas sobre o mesmo assunto, não reconhecerá que aquela forma de ver é exclusiva sua. Portanto, o ser humano necessita do contato com outros seres humanos para aprender a reconhecer que é movido por verdades individuais e não universais.

 “bem-aventurado o solitário”

Nesta logia, Jesus afirma que alcançará a felicidade (bem-aventurado) aquele que se tornar solitário, ou seja, isolar-se dos outros. Apesar da aparente ambigüidade deste ensinamento, ele confirma todos os demais.

O solitário é aquele que “não convive com os seus semelhantes, se situa em lugar ermo, que vive só” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição). Seguindo esta definição, podemos afirmar que o ser humano não é um solitário, mesmo que não mantenha contato físico com nenhum outro ser humano. Isto ocorre porque o pensamento do ser humano está sempre povoado de outras pessoas.

Quando um espírito “pensa” em determinada pessoa, trata-se de um pensamento que Deus lhe dá e que espelha o sentimento dele sobre a pessoa em quem está pensando. Quando alguém, sem contato físico, se lembra de outra pessoa e os momentos bons que tiveram juntos, houve uma emissão de sentimentos positivos até aquela pessoa lembrada. Para materializar esta emissão de sentimentos é que Deus dá a “lembrança dos acontecimentos”.

Da mesma forma quando alguém “pensa” sobre determinados atos de outra pessoa criticando-os, este pensamento reflete a emissão de sentimentos negativos havida naquele momento. Esta emissão alcança o seu “alvo” e conecta os dois espíritos em uma mesma “vibração”, ou seja, faixa de onda eletromagnética (sentimento). Podemos afirmar, então, que houve o contato, apesar de poderem estar a milhares de quilômetros de distância um do outro.

Este contato é tão real que pode passar do inconsciente e atingir o consciente. Quantas vezes começamos a pensar em determinada pessoa e sentimos que precisamos falar com ela. Logo depois o contato físico é providenciado. Neste momento o espírito acha que foi coincidência... Isto não ocorreu por acaso, mas porque ao emitir os sentimentos, o ser humano colocou o alerta de que precisava manter contato com ela.

Os sentimentos emitidos neste contato dependem dos conceitos que o espírito possui sobre a outra pessoa. Se eles forem “bons”, haverá um contato (emissão de sentimentos) positivo. No entanto, se os conceitos arquivados sobre aquela pessoa não forem tão bons, isto ocasionará uma emissão de sentimentos negativos.

É por este motivo que Jesus nos conclama a sermos “solitários”. O mestre nos ensina que enquanto possuirmos conceitos, não devemos pensar nas outras, devemos ser “solitários”.

Para alcançar o reino do céu, a alegria plena, é necessário que o espírito não julgue outros espíritos nem mesmo quando eles estiverem distantes.

834 – O homem é responsável pelo seu pensamento?

Ele é responsável diante de Deus. Só Deus podendo conhecê-lo, o condena ou o absolve segundo sua Justiça. (Livro dos Espíritos)

A justiça terrestre só consegue avaliar um ser humano quando ele comete um ato, pois não consegue penetrar no seu “pensamento”. Entretanto, Deus, que a tudo vê e conhece, pode avaliar a emissão de sentimentos de um espírito para outro, produzindo os atos necessários para que aqueles sentimentos se materializem, se for do merecimento de quem os receberá. Se não for, Ele o poupará de recebê-los. No entanto, para aquele que emitiu o sentimento, Deus terá que providenciar uma “reparação”.

Não devemos imaginar que, apesar do sentimento emitido não se materializar em atos, ele não será captado por Deus.

457 – Os espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos?

Freqüentemente, eles conhecem aquilo que quererieis ocultar a vós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem lhes ser dissimulados.

Quando Jesus nos conclama a sermos solitários para alcançarmos o reino do céu, não nos pede uma vida de clausura material, mas para que vivamos apenas para cumprir nossa jornada, sem querer avaliar a jornada dos outros.

“eleito, pois que encontrarão o Reino; porque dele vieram e a ele retornarão”

Aquele que deixar de avaliar a vida dos outros, decretando o certo e o errado nos atos que praticam, serão eleitos por Deus para auxiliá-Lo mais profundamente na Sua obra. A estes serão dadas as “missões” mais difíceis, mas que trarão maior glória.

Não é porque um espírito não possui mais conceitos que ele não mais passará por situações onde exista um aparente “sofrimento”. As situações que hoje julgamos de sofrimento, continuarão acontecendo mesmo na vida de quem abrir mão do poder de julgamento das coisas. Ele espírito ainda será alvo de críticas, de atos que espelhem o sentimento de raiva, cobiça, inveja, etc.Entretanto, ele não escolherá sentimentos negativos para reagir aos acontecimentos e por isso não mais encontrará sofrimento.

Assim, aquele que não mais possuir conceitos reagirá com alegria, compaixão e igualdade em tudo. Aquele que tiver o amor universal continuará recebendo palavras de críticas, mas não “sentirá” estas palavras desta forma, constatando somente o uso de sentimentos negativos por aquele que os emitiu. É a sua “solidão” que não permite que o espírito mantenha os sentimentos negativos para reagir àqueles acontecimentos.

Quando reagir apenas com o sentimento do amor, o espírito positivará os sentimentos negativos recebidos, auxiliando aquele que ainda não conhece o “reino do céu”. Como Já explicado na logia 03, o reino do céu não é um lugar físico, mas um estado onde o espírito conhece apenas o amor e por isso vive em paz, harmonia e felicidade.

Reagindo com o amor aos acontecimentos movidos por sentimentos negativos o espírito estará doando mais deste sentimento àquele que ainda não o utiliza, aumentando o “estoque” à disposição do outro para servir como base futura de seu raciocínio.

Utilizar apenas o amor universal como base para a reação aos acontecimentos da vida é o futuro de todos os espíritos.

116 – Há espíritos que permanecerão perpetuamente nas ordens inferiores?

- Não; todos se tornarão perfeitos. Eles mudam de ordem, mas lentamente; porque como já dissemos de outra vez, um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente seus filhos.

Aquele que já conseguiu a sua evolução se torna, portanto, um eleito de Deus para que, com a doação do amor universal, forneça “bases” para que os seus irmãos possam também alcançar a sua evolução. Assim ele estará ajudando Deus e trazer de volta os filhos pródigos que se desgarram do reino do céu.

Todos evoluirão e retornarão ao lar paterno e o eleito por Deus os auxiliará nesta evolução. Mas, para ser eleito, é preciso que o espírito se torne ”solitário”.