O evangelho segundo Tomé

Logia 46 - Maior no Reino

“046. Disse Jesus: de Adão a João Batista, não há quem, entre eles, nascido de mulher, haja sido maior que João Batista, para que seus olhos não sejam danificados. Mas eu disse que dentre vós quem se tornar criança conhecerá o Reino, e se tornará maior que João”.

“de Adão a João Batista , não há quem, entre eles, nascido de mulher, haja sido maior que João Batista”

Adão representa o “primeiro espírito que encarnou neste planeta”. Portanto, Jesus está afirmando que entre todos os espíritos que encarnaram desde o início do planeta até a chegada daquele que ficou conhecido como João Batista, este foi o “maior” para o reino dos céus. Isto se confirma com a fala “nascido de mulher”, que significa ser humano, ou seja, espírito encarnado.

Pouco nos chegou até o dia de hoje sobre João Batista. A história revela que ele era primo de Jesus e que seu nascimento também foi obra de um “milagre”, como o do seu primo. De sua infância e juventude pouco se sabe e ele só aparece posteriormente batizando os fiéis no rio Jordão. Também ficou conhecido por seu envolvimento (críticas) à família do rei pois acabou sendo decapitado.

Entretanto, a história espiritual revela muito mais sobre este elevado espírito. Ele foi o precursor de Jesus na missão da divulgação da Boa Nova.

“João afirmou com toda a clareza: Eu não sou o Messias.

Eles tornaram a perguntar: Então quem é você? Você é Elias?

Não, eu não sou! – respondeu João.

Você é o Profeta que estamos esperando?

Não! – respondeu ele.

Aí disseram a João: Diga quem é você. Precisamos saber o que diz a respeito de você mesmo, para podermos levar a resposta aos que nos enviaram.

João respondeu, citando o profeta Isaías: Eu sou aquele que grita assim no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar.” (João – 1, 20)

João foi um enviado de Deus que preparou o campo para a semeadura de Jesus. Ele, como o Mestre, não deixou ensinamentos escritos, mas iniciou a difusão da Boa Nova. Era um espírito superior que conhecia as Verdades Universais e as praticou durante toda a sua existência.

Arrebanhou discípulos, mas entregou-os ao verdadeiro Messias quando este chegou. Praticou o despojamento e viveu para Deus. Foi um “líder religioso” de sua época, mesmo não tendo religião.

“para que seus olhos não sejam danificados”

Jesus alerta para esta condição de João, para que nossos olhos não se danifiquem, ou seja, para que vejamos em sua vida o exemplo a ser seguido. O verdadeiro líder não é aquele que se coloca no pedestal da sabedoria suprema, mas aquele que sabe que é apenas um humilde servidor de Deus.

O exemplo de João deve ser seguido por todos aqueles que tiverem, de alguma forma, a posição de líder.

“Naqueles dias, Jesus foi da Galiléia até o rio Jordão a fim de ser batizado por João Batista. Mas João tentou convence-lo a mudar de idéia, dizendo assim: Eu é que preciso ser batizado por você, e você está querendo que eu o batize?

Mas Jesus respondeu: Por enquanto deixe que seja assim, pois faremos tudo o que Deus quer” (Mateus 3,13)

João submeteu-se a Jesus para que a vontade de Deus fosse cumprida. É para que vejamos esta realidade que Jesus nos fala da posição de João no reino do céu. Não danificar os olhos, significa não interpretar, entender, ver, as coisas de forma diferente do que realmente aconteceram.

Jesus nos diz que João foi superior a qualquer outro homem nascido no planeta até então, justamente porque ele alcançou a compreensão de que sua vida era integralmente dirigida por Deus. Isso nos é mostrado para que aprendamos a não idolatrar nossos líderes e nem estes devem buscar a idolatria para si. O primeiro mandamento da lei nos afirma: amar a Deus acima de todas as coisas.

Idolatrar santos, entidades ou o próprio Jesus acima de Deus Pai, é não praticar o mandamento Dele. Toda vida de Jesus, bem como a de João no planeta foi dirigida por Deus. Eles se submeteram ao comando divino do Pai.

Quando Jesus nos mostra a real posição de João não é com a intenção de engrandecê-lo, mas nos mostrar que não devemos idolatrar outro ser no Universo que não o próprio Deus. Todos os seres humanos, não importando a função que ocupem dentro do planeta, devem ser entendidos como agentes de Deus e não como superiores uns aos outros.

Não danificar os nossos olhos é não termos esta idolatria. É amarmos Deus acima de todas as coisas e pessoas existentes. Por isto Jesus afirmou que aquele que não renegar pai e mãe não serve para ser seu discípulo. Ninguém pode receber maior dedicação do que Deus.

Todos servimos a Deus, pois o primeiro propósito da encarnação de um espírito é auxiliar Deus na Sua obra. Fazemos este trabalho quando estamos praticando nossas provas e missões e cumprindo nossas penas. A vida do espírito em coletividade é justamente para que desta forma o seu trabalho particular possa auxiliar Deus na coletividade espiritual.

Quando um espírito auxilia outro é porque Deus mandou que ele agisse daquela forma: um mereceu ser auxiliado e o outro a se tornar auxiliador. Portanto, quem recebe o auxílio não deve idolatrar o auxiliador, pois o verdadeiro determinante do auxílio foi o Pai. A quem nos auxilia devemos a gratidão e o respeito, mas o amor sublime deve ser sempre endereçado Àquele que enviou o socorro.

Creditar aos santos o auxílio recebido é imaginar que estes são superiores a Deus e agem por conta própria... Devemos agradecer aos santos o auxílio, mas saber que eles apenas foram instrumentos de Deus para que se realizasse a Sua obra. Isto é “não danificar seus olhos”.

“Mas eu disse que dentre vós quem se tornar criança conhecerá o Reino, e se tornará maior que João”

Mesmo o espírito que estiver repleto de sentimentos negativos, ainda assim auxiliará a Deus na Sua obra. Se alguém precisa receber uma agressão física como um recado de Deus para seus próprios sentimentos, o Pai utilizará quem possui tais sentimentos para dar origem ao ato necessário para que o outro o receba. Quem escolhe os caminhos é o próprio espírito quando escolhe os sentimentos para reagir aos acontecimentos.

É conhecido entre os encarnados que Deus sempre orienta seu filho, seja pelo amor ou pela dor. Deus utiliza aqueles que têm sentimento negativo para levar a outros filhos o ensinamento que possa auxiliá-los a promover a reforma íntima.

Por isto Jesus afirma que qualquer um que seja como uma criança será maior do que João, ou seja, será, entre os nascidos de mulher, o maior. Entretanto, para isso é necessário que o espírito conheça o reino, ou seja, o amor.

A comparação com as crianças já foi explicada na logia 4. Para Jesus espírito é quem não possui conceitos, ou seja, vontades próprias que possam ser impostas aos outros. Aquele que vive desta forma encontra o amor universal, pois estará em perfeita harmonia (igualdade) com todos, viverá na glória de Deus (felicidade universal) e não causará sofrimento aos outros.

Este é o maior para Deus, pois Ele pode utilizá-lo para levar ao irmão o ensinamento pelo amor.