O evangelho segundo Tomé

Logia 45 - A crítica

“045. Disse Jesus: não se colhem uvas de espinheiros nem se apanham figos de cardos, pois que eles não dão frutos. Um bom homem faz sair o bem de seu tesouro, um homem mau faz sair coisas más de seu tesouro mau, que está em seu coração, e fala coisas más. Pois da abundância do coração ele faz sair coisas más”.

“não se colhem uvas de espinheiros nem se apanham figos de cardos, pois que eles não dão frutos”

Jesus começa este ensinamento mostrando-nos que as conseqüências dependem sempre das causas. As uvas não podem nascer dos espinheiros, pois são frutas que nascem da parreira, os figos não podem surgir do cardo, pois esta é uma planta espinhosa, considerada como “praga” na lavoura.

Para que possamos colher frutos como as uvas ou os figos, precisamos plantar as árvores que dão estas frutas.

“Um bom homem faz sair o bem de seu tesouro”

O tesouro que um espírito pode ter são os seus sentimentos. Assim, Jesus afirma que o homem para ser bom é necessário que possua bons sentimentos. Para se agir com amor, é necessário ter amor.

Não pode um homem querer considerar-se bom, se ele não possui bons sentimentos, pois o sentimento é a base que vai gerar o ato. Como já vimos, o espírito escolhe o sentimento que vai utilizar para reagir às situações da vida. É este sentimento que vai espelhar a sua real intenção.

Não adianta o ser humano dizer que está aconselhando o colega “para o próprio bem dele”, se a sua real intenção é subjugá-lo, ou seja, ensiná-lo como proceder. Não existe crítica construtiva, pois ela determina uma situação de superioridade de quem está criticando. Quando a igualdade acaba, encerra o amor e os atos bons não podem ser alcançados.

Praticar a bondade é reagir a tudo que acontece com o amor universal, ou seja, manter a sua felicidade universal, não causar tristezas aos outros e não quebrar a igualdade entre todos os filhos de Deus. Sem estas premissas básicas o ato é praticado com qualquer outro sentimento, mas nunca com amor.

Toda crítica nasce do julgamento do ato das outras pessoas. É a partir da avaliação do “certo” ou “errado” que surgem as críticas. Nestas avaliações (julgamentos) são levadas em consideração apenas o que o avaliador “acha” e acaba por ser um tribunal sem direito de defesa do acusado...

O homem ainda acredita na lei de Moisés pelo significado de seus termos, mas Jesus afirmou que veio para dar o real sentido a ela. Este sentido que o Mestre trouxe foi o amor. Com isto, onde se entendia “não adulterarás”, Jesus colocou o verdadeiro sentido: não se deve cometer o adultério porque se tem amor.

O homem bom troca a crítica pelo ensinamento da consciência do amor que devemos ter por todos.

“um homem mau faz sair coisas más de seu tesouro mau, que está em seu coração, e fala coisas más”

O homem mau faz sair de seu coração as coisas más: ele acusa, calunia, julga, critica. A acusação que sai da boca de um homem que critica é gerada por sentimentos “maus”, (contrários à lei de Deus), pelo egoísmo e a prepotência do ser humano de querer ser dono da verdade, pelo orgulho de achar que tem sempre a razão... São estes sentimentos que o espírito utiliza quando seu ato demonstra a crítica como consequência.

Para que se pratique o bem para as pessoas é necessário que se utilize somente o amor. A igualdade trazida por este sentimento não deixa ninguém agir “errado” (contra as leis de Deus) com o próximo. Por este motivo, para que o ato seja bom é preciso que ele dê a liberdade completa às outras pessoas.

Auxiliar o irmão é, antes de tudo, dar-lhe o direito de fazer o que ele bem quiser. O ser humano afirma que Deus lhe dá o livre arbítrio de praticar o que bem entende, mas quer tolher no seu irmão este mesmo direito.

O livre arbítrio (não do pensamento ou do ato mas do sentimento) é dado por Deus e ninguém pode tirá-lo de alguém. Criticar o outro é querer extinguir este direito que o próprio Deus deu. É querer saber melhor que Deus o que é o “certo” e o “errado”.

Deus, Supremo Administrador do Universo permite que um espírito escolha qualquer sentimento para reagir a um acontecimento e direciona para que o ato oriundo deste sentimento seja aplicado contra aquele que merece e necessita recebê-lo. Desta forma, mantém a Justiça Perfeita no Universo e age com o Amor Sublime dando a cada um o que merece e o que precisa para a sua evolução. É esta Verdade Universal que, aplicada, acaba com as críticas.

Se alguém consegue praticar algo contra você que esteja contrário ao que você considera “certo” ou “justo”, é porque Deus o escolheu para praticar isto contra você. Portanto, você merece receber este ato. Entretanto, não se trata de uma pena, um castigo, mas uma forma que Deus encontrou de fazer você “repensar” seus conceitos, ou seja, o que para você é certo ou errado. Eliminando seus conceitos e aceitando Deus como único causador das coisas universais você evoluirá espiritualmente.

Esta é a verdade universal da vida. Devemos, então, agradecer àquele irmão por ter servido ao Pai na Sua obra de nos ajudar na evolução espiritual. A crítica é feita por aquele que quer assumir o “controle” das coisas universais, achando-se o juiz supremo, capaz de dizer o que é “certo” ou “errado”.

“Pois da abundância do coração ele faz sair coisas más”

Através dos sentimentos de superioridade, da vontade de ditar o “bem” e o “mal” que o espírito é levado a praticar a crítica.

A crítica de um ato, ou seja, a acusação de que ali não houve justiça ou foi cometido um erro, denota falta de confiança em Deus, ou seja, de fé. Quando alguém acusa outro de ter lhe feito “mal” está afirmando que Deus é “fraco” e não o protegeu daquele ato...

Ter a fé em Deus é saber que todos têm livre arbítrio de sentimento, mas que Deus precisa “comandar” os atos decorrentes deste livre arbítrio para que a Justiça Perfeita mantenha-se sempre saber que Ele pratica este comando objetivando a evolução espiritual de cada um e não para espalhar sofrimento.