O evangelho segundo Tomé

Logia 44 - Perdão

“044. Disse Jesus: aquele que blasfemar contra o Pai será perdoado, e aquele que blasfemar contra o Filho será perdoado; mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, este não será perdoado nem na Terra nem no céu”.

Pecado

Aprendemos até hoje que pecado é tudo aquilo que é praticado contra a lei de Deus.

Aprendemos a julgar, porém só quem sabe o que é contrário às Suas leis é o próprio Deus e não nós seres humanos.

Quando utilizamos as leis de Deus para acusar os outros estamos blasfemando, ou seja, estamos dizendo “palavras que ultrajam a divindade, a religião, ou pessoa ou coisa respeitável” (Mini Dicionário Aurélio – 3a. Edição).

Portanto, acusar as pessoas é pecado nosso, pois estaremos na verdade acusando Deus que é o causador de tudo, inclusive dos atos das pessoas.

“aquele que blasfemar contra o Pai será perdoado”

Entretanto, Deus poderá nos perdoar por julgarmos as outras pessoas.

O perdão, para o ser humano, é a “remissão das penas”, ou seja, a não aplicação ou suspensão de uma pena a quem merecia ser penalizado. Só que este tipo de pensamento nada tem a haver com o amor universal. Quem aplica este “perdão” é porque se sente superior aos outros, ou seja, julga e acusa o “delito”, mas por “nobreza de sentimentos”, não aplica a penalidade merecida...

O perdão, para se encaixar nas bases do amor universal, tem que ter igualdade e, por isto, não pode acusar alguém de estar errando...

Perdoar verdadeiramente alguém, com amor, é dizer que não podemos julgá-lo, condená-lo ou penalizá-lo porque não encontramos erro no que ele fez.

CONCEDER O PERDÃO É, PORTANTO, ABRIR MÃO DE NOSSAS VERDADES PESSOAIS E SABER QUE TUDO ACONTECE SOB O COMANDO DE DEUS, acreditando que todos são iguais perante Ele e que devemos amar todas as pessoas como o Pai ama a todos.

Quando alguém blasfema ofende a Deus, mas Ele sabe que isto é feito porque a pessoa acredita que está “certa”, que possui razões para dizer a Deus que Ele não deveria ter agido daquela maneira.

Um caso típico desta ofensa a Deus pode ser encontrado na Bíblia Sagrada no livro de Jó.

Jó era um ser humano temente a Deus e que seguia as Suas leis. Possuía muitos bens e tinha uma família grande e harmonizada. Deus, a fim de comprovar sua fé, permitiu que o “diabo” tirasse suas propriedades, seus familiares e, por fim, desse fim à sua saúde. Jó então se revoltou contra Deus e blasfemou aos céus que ele sempre fora temente a Deus e não merecia passar por aquilo.

Para confortá-lo, amigos foram conversar com ele e tentar trazer-lhe novamente à razão. Durante o diálogo com os amigos, Jó fala o seguinte:

“Eu sei muito bem que as coisas são assim. Mas, como é que uma pessoa pode provar a Deus que ela está com razão?” (Jô – 9,1)

Todos os seres humanos são Jó, pois vivem tentando dizer a Deus o que Ele deveria fazer...

Deus, porém, não pune essas pessoas porque sabe que elas agem assim porque se consideram certas em seus atos, mesmo que com isso ofendam ao Pai.

“aquele que blasfemar contra o Filho será perdoado”

Se Jesus é a ação do amor, também Ele não poderia culpar os atos daqueles que se imaginam certos. “Pai, perdoa porque eles não sabem o que fazem”, ou seja, “Pai, não aplique pena nestes espíritos porque eles imaginam que o que fazem está certo”.

Quando Deus ou Jesus perdoam, não quer dizer que apenas não punem, mas quer dizer que Eles sabem que todos agem da maneira certa, que o que precisam alterar são os sentimentos e que são os seres humanos que encontram e apontam erros nos atos praticados.

Deus e Jesus não punem, mas também não permitem que os atos sejam praticados contra quem não merece ou não precisa deles.

Por isto DEUS É A CAUSA PRIMÁRIA DAS COISAS, ou seja, dá a quem merece o justo.

“mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, este não será perdoado nem na Terra nem no céu”

Deus não permite que um ser humano seja criticado se ele não merecer isto. Para que esta Justiça se mantenha é que Deus causa o ato de todos os seres humanos.

Para aquele que gosta de caluniar, por exemplo, Deus não aplica uma pena, pois reconhece o seu direito de querer ser um caluniador, mas direciona o seu ato contra aquele que merece ser caluniado.

Quem calunia os outros, recebe calúnias de alguém. Deus promove estes atos para que o caluniador, agora caluniado, sinta o quanto causa sofrimento quando faz a mesma coisa. Não se trata de uma pena, mas de dar do próprio “remédio” àquele que o receitou...

Por isto, aquele que blasfemar contra o espírito santo (todos aqueles que vêm de Deus), terá que receber na mesma medida aplicada aos outros.

Deus dá a cada ser humano o direito de escolher o sentimento com o qual irá reagir às situações da vida. Depois da escolha, Deus transforma este sentimento em “pensamentos” (argumentos) para que ele pratique o ato. Desta forma, todo ato acontece da maneira perfeita, pois os argumentos para a sua execução foram dados por Deus.

Aquele que encontra erro nos atos das pessoas, na verdade está dizendo a Deus que não devia acontecer o que aconteceu. Está negando à outra pessoa o livre arbítrio de escolher o sentimento para reagir, para que Deus então lhe dê os argumentos (“pensamentos”) que se transformarão em atos.

Esta é a ação de Deus baseada na lei suprema da ação e reação.

Se você critica os outros, também receberá críticas, ou seja, tudo o que fizer contra o “espírito santo, não poderá ser perdoado nem na Terra nem no céu”.

Isto é praticar a Justiça Perfeita.