O evangelho segundo Tomé

Logia 4 - Nascimento

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Logia 4

“004. Jesus disse: o homem carregado em anos não hesitará em perguntar a uma criança de sete dias a respeito de onde está a Vida, e ele viverá. Pois muitos que estão em primeiro lugar ficarão em último e se tornarão um só.”

“o homem carregado em anos não hesitará em perguntar a uma criança de sete dias a respeito de onde está a Vida, e ele viverá”.

Se não existe o processo “morte” para transformação do ser humano em espírito, também não existe o processo “nascimento” para que o espírito altere-se para ser humano. O espírito é um só durante a sua vida carnal e pode, desde o seu início, praticar atos espirituais. Aliás, nesta etapa da vida de recém-nascido, ele é mais capaz de executar atos espirituais do que quando estiver mais avançado na vida carnal.

O processo de crescimento do “ser humano” é balizado pelos pais, parentes e amigos que lhe transmitem todos os conceitos adquiridos durante toda uma existência como “seres humanos”. São eles os responsáveis por gerar a imagem “ser humano” no espírito que encarna.

A sociedade ensina o modo de viver, vestir, andar, comer, o que gostar e o que não gostar, o que fazer e o que não fazer, de acordo com as suas normas. Seu interesse é formar mais um “ser humano” com sucesso material em primeiro lugar, mesmo que este sucesso seja alcançado com o cumprimento de normas divinas. Mãe e pai sabem obrigar o filho a estudar para “ser gente”, mas não lhe transmitem o amor necessário para que ele se entenda como filho de Deus. Isto, porque eles também estão preocupados em “ser” alguém.

É a visão “ser humano” que estabelece as prioridades do novo ser: primeiro, os responsáveis pela criança preocupam-se em assegurar-lhe o seu sucesso material ou a sua subsistência, em segundo lugar, ocupam-se em mostrar-lhe a verdadeira trilha a ser seguida.

Por isto, Jesus afirmou que um homem cheio de conceitos para alcançar a sua vida, não deve hesitar em perguntar a um recém-nascido sobre como são as coisas no mundo espiritual menos denso. O espírito recém encarnado possui a lembrança completa destas coisas para ensinar àqueles que esqueceram.

Claro que uma criança não saberá falar para explicar tudo, mas o espírito também não se utiliza desta forma arcaica de comunicação. A “linguagem dos anjos” é formada por emissão de sentimentos. Olhe no olho de um bebê e encontre o amor, veja o seu sorriso e entenda a alegria, sinta seu toque e veja o que é carinho. São estes sentimentos que mostram como é a Vida e onde ela está.

Além disto, deve o “homem carregado em anos” observar o comportamento das crianças, pois eles são oriundos de um ser sem conceitos formados. A criança come quando quer, porque o estômago não tem relógio para determinar “horário para comer”. Este horário é fruto de um conceito, uma convenção para facilitar a vida, mas este conceito altera-se nos diferentes lugares do planeta, portanto não é verdade universal.

A criança dorme quando tem sono e não porque “está na hora”; a criança não se preocupa com o amanhã, pois sabe que ele será “como Deus quiser”; a criança é incapaz de guardar raiva, porque tem mais facilidade de achar dentro de si o amor.

A hora de dormir, por exemplo, é um conceito que o espírito cria: cada um tem a sua. A preocupação com o dia de amanhã provém do desejo de dominar a vida. O “homem envelhecido” preocupa-se com o futuro, pois quer que ele seja como ele deseja, ou seja, como ele acha (conceitua) que deve ser.

O “homem velho” se fere e guarda raiva e rancor das pessoas, pois estas foram capazes de fazer coisas que ele não acredita como certas, ou seja, feriram seus conceitos.

Para que o “ser humano” consiga transformar-se em espírito é necessário que ele abandone todos os seus conceitos, ou seja, as suas verdades pessoais. No Universo existe apenas uma verdade: amar a Deus, a si e aos outros. Apenas o amor é a verdade.

Para conseguir isto, o “ser humano” necessita ver-se como espírito participante de um mundo espiritual, onde Deus é o Comandante de todas as coisas que acontecem. Enquanto o espírito permanecer “ser humano” e quiser dominar a “sua vida” precisará ter verdades ou posses morais.

Muito já foi falado sobre isso, mas pouco foi entendido. Buda avisou que o ser humano deve jogar fora tudo o que ele acha que é, para que se reconheça como o espírito. O que deve ser atirado fora são os conceitos que os seres humanos utilizam para agir, ou seja, para “ser”.

Jesus disse: “... juntem posses no céu, onde as traças e a ferrugem não as comem”. As únicas posses de um espírito são seus sentimentos.

Além disso, Jesus afirmou e foi trazido pelo Evangelho de Maria Mágdala:

“O apego à matéria gera uma paixão contra a natureza. É então que nasce a perturbação em todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais em harmonia...”

“Se sois desregrados inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça”.

“Após ter dito aquilo, o Bem-Aventurado saudou-os dizendo: Paz a vós – que minha paz seja gerada e se complete em vós! Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui, ei-lo lá Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele: aqueles que o procuram o encontram”.

“Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino. Não imponhais nenhuma regra, além da qual fui o Testemunho. Não ajunteis leis às dadas por Aquele que vos deu a Tora, a fim de não vos tornardes seus escravos”. (O EVANGELHO DE MARIA MÍRIAM DE MÁGDALA – pág. 8 e 9)

O espírito que busca transformar outro que se encontra em um corpo de bebê, contribui para a desarmonia do Universo, pois gera uma paixão à carne, que é contra a natureza espiritual do Universo.

O único Evangelho do Reino é o amor universal, no qual Jesus resumiu toda a lei mosaica. Portanto, não devem os espíritos acrescentar a este texto mais nenhuma lei, pois só o amor pode ser o regulador das relações dos espíritos.

Quando o homem junta outras leis (códigos de etiqueta, bom gosto, leis religiosas, leis materiais) à lei do amor universal ele se transforma em escravo delas e afasta-se desse amor.

Aquele que ama não pratica nenhum ato errado aos olhos de Deus. Portanto, basta amar e não será preciso mais nenhuma outra atitude de um espírito.

“Pois muitos que estão em primeiro lugar ficarão em último e se tornarão um só”.

Os que se encontram em primeiro lugar (os mais velhos) na imaginada “lista de entrada no Reino do Céu”, certamente terão que esperar para lá entrar. Isto porque não é a morte que determina a entrada neste Reino, mas a prática do amor universal.

O espírito é sempre o mesmo. Tudo o que um “ser humano” pensa, acha e faz, continuará a pensar, fazer e agir após deixar a vestimenta carnal; se hoje o espírito na carne busca se transformar em um “ser humano” de muitas posses, logo após o seu desencarne continuará buscando a mesma coisa e agindo para isso.

É importante ao espírito entender esta visão. Não existe “compreensão instantânea” das coisas espirituais porque saiu da carne: se hoje ele não sabe, amanhã também continuará a não saber. É necessário que o espírito se veja como tal, para poder entender o desencarne.

A literatura espírita moderna mostra que muitos espíritos são atendidos após o desencarne, permanecendo desacordados e sendo levados a hospitais para tratamento. Na verdade, esta forma de proceder não é uma ciência para o corpo espiritual, mas para o próprio espírito. Durante o processo de “atendimento” no “hospital”, o espírito é levado a relembrar-se das coisas espirituais. Entretanto, isto só acontece a poucos que têm o merecimento, ou seja, aos que buscaram a reforma íntima, mesmo ainda não se reconhecendo como espíritos.

A grande maioria, aqueles que colocam os desejos e necessidades materiais acima da busca espiritual, não encontrará este conforto e continuará a viver a “vida” de “ser humano”, apesar de já estarem fora da matéria carnal. É muito comum encontrar-se espírito sem carne que continua “acordando” quando o sol nasce, alimentando-se, pegando ônibus ou carro e passando o dia inteiro no mesmo trabalho que tinha antes de desencarnar. Ao fim do dia, retorna para casa, assiste à televisão com a família e depois vai dormir. Este espírito, apesar de fora da matéria carnal, vê o perispírito que continua revestindo-o e, como este é semelhante ao corpo físico que possuía, acha que o perispírito é ele.

Com esta visão do espírito, podemos afirmar que aqueles que ficarem por último para entrar no Reino do Céu farão um só do seu corpo espiritual e de seu corpo físico.