O evangelho segundo Tomé

Logia 39 - Chaves do conhecimento

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Logia 39

“039. Disse Jesus: os fariseus e os escribas receberam as chaves do Conhecimento e as esconderam. Eles não entram e não deixam entrar aqueles que querem. Mas vós, tornai-vos espertos como as serpentes e inocentes como as pombas”.

NOTA: Todas as citações deste capítulo foram retiradas do Evangelho de Mateus, capítulo 23.

“os fariseus e os escribas receberam as chaves do Conhecimento e as esconderam”

Nesta logia, Tomé continua o mesmo tema iniciado na logia anterior. Jesus fala dos professores da lei (escribas) que receberam daqueles que viveram com os enviados de Deus os ensinamentos, mas os adulteraram com a intenção de manter o poder e a posição decorrente de suas “funções”. Fala, portanto, dos códigos de leis (doutrinas) criados pelas religiões.

Nos evangelhos canônicos, encontramos algumas destas restrições que Jesus coloca no proceder dos professores da lei e nas doutrinas.

“Amarram fardos pesados e põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos”. (4)

A primeira restrição é a da “culpabilidade”: as doutrinas, por se assemelharem aos códigos de leis que regulam as relações dos seres humanos, estabelecem normas e colocam “penas” para quem não as cumpre. Deus não é um juiz do Universo, mas um Pai na verdadeira acepção da palavra. Ele não quer punir o Seu filho, mas sim dar-lhe todos os subsídios para o seu crescimento.

Por este motivo Deus não condena, mas dá ensinamentos. As situações que o ser humano encara como fontes de sofrimento (contrariam os seus interesses) não têm a finalidade de punir o espírito, mas sim de que ele aprenda que não pode ter querer. As doutrinas religiosas utilizam-se desta providência de Deus para atemorizar os fiéis.

Fazem de tudo para serem vistos. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços! E olhem os pingentes grandes das suas capas. Preferem os melhores lugares nas festas e os lugares de honra nas casas de oração. Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de mestres.

Uma das bases do amor universal é a igualdade entre todos. Infelizmente, aqueles que utilização a doutrina como fonte de poder, querem se tornar superiores àqueles que lhe são confiados. Para não perderem a posição de destaque, mantêm a doutrina com complexidade e dogmas que apenas eles sabem decifrar. Procuram a ostentação do poder buscando posições de destaque em todos os campos da vida humana, quando na verdade deveriam apenas buscar a evolução espiritual auxiliando o próximo.

“atravessam os mares e viajam por todas as terras para procurarem converter uma pessoa à sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa mais merecedora do inferno do que vocês mesmos”.

Estudam os ensinamentos trazidos por alguns dos enviados de Deus, não com a percepção de que partem da mesma fonte, mas com a intenção de procurar “erros” que tornem a sua doutrina a única “certa”. Buscam provar que o seu Deus é único.

Ensinam a julgar e a condenar aqueles que aceitam os ensinamentos dos outros enviados e tornam-se “juízes” da humanidade. Ensinam e adotam uma superioridade que acaba com o amor universal.

“Pois ensinam assim: se alguém jurar pelo Templo, não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se alguém jurar pelo ouro do Templo, então é obrigado a cumprir o que jurou”.

Fixam suas atenções nos atos que os seres humanos praticam, mas não dão menor valia aos sentimentos que levaram àquele ato. Não se importam se a caridade está sendo praticada por amor ou como um “suborno” a Deus: o importante é doar coisas materiais.

“Pois lavam o copo e o prato por fora, mas dentro estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância”.

Preocupam-se em regular as atitudes e a moral dos seus fiéis apenas por sua aparência externa, mas não buscam ensinar a verdadeira essência do espírito: os sentimentos. Por isto aparentemente são fiéis a Deus, mas internamente vivem cobertos por sentimentos negativos.

 “Pois são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão”.

Preocupam-se com a beleza que as roupas podem dar, mas não ensinam que, por exemplo, “adulterar” é mudar alguma coisa, faltar com a verdade e não apenas adulterar no sentido sexual...

“Pois fazem túmulos bonitos para os profetas e enfeitam os monumentos dos que viveram de modo correto”.

Preocupam-se em enaltecer aqueles que trouxeram a mensagem de Deus como grandes homens, adorando-os mais que ao próprio ensinamento trazido. Enaltecem a pobreza, mas vivem na abastança, enaltecem a dedicação, mas afirmam não ter tempo para os pobres, pois precisam “dirigir” a religião.

“Eles não entram e não deixam entrar aqueles que querem”

Com este procedimento, estes “guias de cego” cerram as portas do reino do céu (a felicidade plena) para aqueles que os seguem.

Entretanto nem eles mesmos conseguem esta felicidade, pois estão em constante vigilância para que suas leis sejam seguidas. A estes, apenas as palavras de Jesus:

“Jerusalém, Jerusalém! Você mata os profetas e apedreja os mensageiros que Deus lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas você não quis! Agora a sua casa ficará completamente abandonada. Eu afirmo que você não me verá mais, até chegar o tempo em que dirá: Deus abençoe aquele que vem em nome do Senhor” (37)

“Mas vós, tornai-vos espertos como as serpentes e inocentes como as pombas”

Apesar do procedimento dos “professores da lei”, Deus, para a elevação dos que Nele cressem, deixou o ensinamento que segue:

“Os professores da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam” (2)

Os ensinamentos não podem ser mudados, pois Deus não permitiria que o espírito estivesse em provas, sem que tivesse os recursos necessários para vencer essas provas. Por isto, apesar de diversas tentativas de alterar os ensinamentos, este intento não foi conseguido.

Jesus nos alerta para que prestemos atenção à essência do ensinamento e não nos atos que os “professores da lei” comandam.

Para conseguir a elevação espiritual é necessário que aprendamos a não julgar. Porém este julgamento tem que ser entendido de uma forma mais ampla.

Aquele que quer buscar a sua elevação deve livrar-se de todo poder de querer analisar o procedimento de outros seres humanos, inclusive daqueles que são praticantes de outras religiões, ou quem não cumpre o código de leis de sua religião.

Ensinar que não deve haver julgamento, mas condenar ao “fogo do inferno” aquele que não segue as normas estabelecidas, é um conflito entre o que se prega e como se age.

É para este conflito que Jesus nos alertou sobre sermos “espertos como a serpente”. O espírito na carne participante de alguma religião, seguidor da doutrina imposta por ela, tem que estar sempre atento para verificar se as diretrizes baixadas por essa religião seguem as postulações de suas doutrinas.

É impossível se falar dos ensinamentos de Deus quando nos achamos detentores da verdade, proprietários de Deus.

Por isto o ser humano vem falando há muito tempo em ecumenismo, mas não consegue praticá-lo.

No ecumenismo não pode haver a convicção de que todos devem se converter para uma religião, como a única “certa”.

O verdadeiro ecumenismo deve ser aquele que considere os ensinamentos de todos os enviados de Deus como “águas da mesma fonte” e que, portanto, devem “se fundir para percorrer o caminho até o mar...”

A “serpente” está sempre atenta, vigilante para se defender de possíveis invasores. Neste momento, entretanto, devemos ser como as pombas: inocentes. A constatação da diferença entre a prática e o ensinamento não pode servir de base para ataques, acusações. O real seguidor de Jesus absorve a essência dos ensinamentos do Mestre, pratica atos que estejam de acordo com o amor universal, mas não acusa aqueles que ainda não interiorizaram este amor.

Por este motivo, este ensinamento não deve ser tomado como acusação às religiões do planeta. Todas elas são perfeitas, pois foram causadas por Deus, atento às necessidades do espírito para religar-se com Ele. Também não deve ser tomado como acusação àqueles que dirigem as religiões, pois estão usando do livre arbítrio para escolher o sentimento com que exercem a missão que receberam para esta encarnação.

A intenção do Espiritualismo Ecumênico Universal é apenas traduzir os ensinamentos de Jesus, levando o espírito a compreender a essência das Verdades Universais.

Não se trata de uma nova religião, mas o ecumenismo tão procurado pela humanidade. Entretanto, os ensinamentos do espiritualismo ecumênico não premiam os objetivos da vida carnal prometendo uma felicidade pessoal (material), mas ensinam a cumprir o determinado pelo Mestre quando Ele afirmou que devemos amealhar nossas riquezas no céu, onde a ferrugem e os vermes não as destroem.