O evangelho segundo Tomé

Logia 38 - Religiões

“038. Disse Jesus: muitas vezes desejastes ouvir estas palavras que eu vos digo, e não tivestes a quem mais recorrer para ouvi-las. Haverá dias em que me procurareis e não me achareis”.

“muitas vezes desejastes ouvir estas palavras que eu vos digo”

O ser humano tem um sentimento intuitivo que lhe afirma que existe no Universo alguma coisa mais do que aquilo que ele consegue captar com os seus sentidos.

05 – Que conseqüência se pode tirar do sentimento intuitivo que todos os homens carregam em si mesmos da existência de Deus?

Que Deus existe; porque de onde lhe viria esse sentimento se ele não repousasse sobre nada? (Livro dos Espíritos)

Esta procura dirige-se ao encontro da Causa Primária das Coisas.

Deus não é um ser que tem este nome, pois é conhecido em outras regiões do planeta com outros nomes: Jeová, Alá, etc. Na verdade, podemos entender que Deus é um “título” que se dá àquele que é a Causa Primária de todas as coisas.

A busca de Deus repousa na constatação do ser humano da sua completa impotência em causar os acontecimentos de sua vida, ou seja, de comandar o seu destino. O ser humano faz planos, preocupa-se em formar bases para um futuro planejado, mas geralmente nada do que foi planejado ocorre. Mesmo quando o futuro se encaixa nos planos do ser humano, não existe a completa adequação a estes planos, sendo necessário que ele faça concessões.

Esta impotência leva o ser humano a acreditar que deve existir algum ser superior a ele que “comande” os acontecimentos de sua vida e da vida das outras pessoas.

Desde o início da humanidade o homem busca esta Causa Primária. Primeiro atribuiu a este “ser” a forma dos elementos da natureza, que ele também não conseguia controlar. Depois, quando passou a conhecer alguns detalhes sobre estes fenômenos, procurou seres místicos que eram representados por junções de animais e seres humanos. Quando se deu conta da sua superioridade sobre os animais, passou a imaginar a Causa Primária de sua vida como um outro “ser humano super potente”.

Para poder “ligar-se” a este ser, os homens reuniram-se em grupos que passaram a se chamar “religiões” ou uma forma de se religar à Causa Primária das coisas.

O objetivo do ser humano com esta religação (religião) passou a ser mostrar uma aparente “subordinação” a Deus, mas com a real intenção de satisfazer seus desejos, como a única forma de ser “feliz”...

Para auxiliar o homem nesta religação, Deus sempre enviou a este planeta emissários especiais que transmitiram o que devia ser feito (modo de vida) por cada espírito. Estes emissários vieram sempre em nome de Deus e trouxeram sempre a mesma lição. Foi para isso que espíritos como Jesus, Buda, Maomé, Moisés, os apóstolos, os profetas, Allan Kardec e tantos outros tiveram uma existência carnal.

Das lições trazidas por estes emissários, o ser humano formou um corpo doutrinário que passou a reger o comportamento daqueles que participavam das suas religiões.

“e não tivestes a quem mais recorrer para ouvi-las”

Como braços de um rio que nasce de uma mesma fonte, todos sempre trouxeram a mesma mensagem. Entretanto, ainda como braços de um mesmo rio, cada um dos emissários de Deus teve que adaptar o seu “curso” de acordo com as “margens” que o cercava. Por este motivo, alteraram as palavras que explicavam as Verdades Universais de acordo com o entendimento de cada povo.

Porém, esta mensagem foi completamente deturpada pelo próprio ser humano que ainda não tinha vencido o seu “desejo” de ser o causador das coisas. Aqueles que não tiveram contato direto com estes emissários de Deus não conseguiram entender que a base do universo é Deus Causa Primária de todas as coisas. Somente aqueles que conseguiram “enxergar” no olhar dos enviados a sua submissão ao Pai é que puderam abrir mão do seu pretenso poder de ser o causador, para entregar novamente esse poder mãos de Deus.

Com medo de perder o “poder”, os seres humanos que assumiram a direção das religiões fundadas transformaram os ensinamentos dos enviados de Deus em um “código de leis”. Estes códigos foram elaborados visando balizar o comportamento do ser humano dentro de padrões que garantiriam causas mais agradáveis em sua vida.

Entretanto, aqueles que administraram as religiões transformaram estes códigos em ensinamentos de difícil compreensão e se auto denominaram “professores da lei”. Desta forma, conseguiram manter o poder sobre o grupo de participantes de sua religião.

A fim de não perder o comando sobre seus grupos, abominaram os ensinamentos de outros enviados, afirmando que “possuíam” a Verdade, ou seja, Deus. Com isto os grupos comandados por estes seres humanos ficaram cada vez mais presos e dependentes do poder daqueles. Na verdade, eles transformaram braços de um mesmo rio, em rios diferentes.

Por isto os evangelistas, com exceção de João, deixaram diversos ensinamentos onde o Mestre aponta o proceder dos professores da lei.

 “Os professores da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam” (Mateus – 23,1)

Para compreender os ensinamentos dos mestres enviados por Deus, o espírito deve ter como base de sua vida a intenção de servir ao Pai acima de suas “vontades pessoais”. Para isto é necessário que ele abra mão do seu pretenso poder de ser o “causador das coisas”.

Deus é o Pai e os enviados Dele são os messias, ou seja, os salvadores, aqueles que vieram transmitir o ensinamento salvador.

Todos os espíritos são mestres, pois têm o dever de auxiliar o seu irmão na caminhada. Para isto, têm que ser abrir mão do “poder” de julgar e condenar.

Mas, para colocar fim no julgamento é preciso acabar com os códigos de lei que foram criados pelas doutrinas religiosas.

Esta é a finalidade da Doutrina Espiritualista Ecumênica.

Reunindo os ensinamentos de todos os enviados de Deus e subordinando todos eles às Verdades Universais, a Doutrina Espiritualista traz a mensagem que cada um deve preocupar-se com seus próprios sentimentos. Não propaga leis de comportamento que devem ser cumpridas, mas afirma que todos têm os mesmos direitos.

Segundo os ensinamentos de Jesus, ninguém tem o direito de julgar, mesmo que seja sob os auspícios das leis divinas, pois todos nós temos um Pai que é o verdadeiro responsável por esta grande família.

Para alcançar esta plenitude de vida, no entanto, é necessário que o ser humano abra mão do seu poder de ser o “juiz” do universo.

Por isso o Espiritualismo Ecumênico Universal deixa de ser uma religião, ou seja, de determinar qual a melhor forma de se religar a Deus. A intenção deste grupo, determinada pelo Pai, é apenas formar um corpo doutrinário que restabeleça as Verdades Universais, dando a cada espírito o direito de se religar com Deus da forma que melhor lhe aprouver.

Os ensinamentos deste livro dão o perfeito entendimento dos ensinamentos dos mestres, alterados pelo corpo doutrinário das religiões, com a intenção de manter o “poder” do homem de ser o causador das coisas.

“Haverá dias em que me procurareis e não me achareis”

Por mais que o espírito estude e pratique as Verdades Universais jamais conseguirá atingir a perfeição. Isto acontece porque somente Deus possui todas os atributos elevados ao máximo. É preciso compreender que a perfeição jamais será atingida.

Por isto Jesus afirma que haverá momentos em que cairemos, ou seja, não conseguiremos praticar o amor universal. As Verdades Universais não podem ser consideradas um código de leis, mas sim um guia para orientar o espírito sobre a forma dele promover a sua reforma íntima. Porém, as Verdades Universais serão vivenciadas dentro da livre vontade do espírito.

No momento da “queda”, não deverá haver acusação de falhas, mas sim a continuidade da prática do amor. Aquele que possui o amor universal não pode condenar ninguém, nem a si mesmo.

Resumindo o ensinamento do Mestre:

“A vida é como uma estrada que se tem que caminhar. Ela está cheia de buracos e devemos ter a consciência que iremos cair em algum deles. Neste momento, devemos nos levantar rapidamente e continuar a caminhada com a uma única certeza: vamos cair novamente” (VELHO JOAQUIM – Preto Velho)