O evangelho segundo Tomé

Logia 35 - O ladrão

Reproduzir todos os áudiosDownload
Logia 35

“035. Disse Jesus: Não é possível que alguém entre na casa de um forte e o submeta; a não ser que lhe ate as mãos; aí, então, pode pilhar-lhe a casa”.

“Não é possível que alguém entre na casa de um forte e o submeta; a não ser que lhe ate as mãos”

Alguém que tenha intenção de subtrair bens de uma casa de outra pessoa quando esta esteja presente necessita, antes de alcançar o seu intento, eliminar a possibilidade de reação do proprietário. Para isto, terá que prender as mãos do dono da casa, impedindo a sua reação.

Mais uma vez, Jesus faz uma figura para trazer um ensinamento aos espíritos. A casa onde os espíritos residem é o seu “invólucro” material (corpo material mais denso e corpo material menos denso). É dentro destes invólucros que o espírito guarda os seus bens: os sentimentos.

Os sentimentos são matérias energéticas, ou seja, ondas eletromagnéticas que se propagam em forma não retilínea e possuem determinada faixa de amplitude e de velocidade. Estas ondas penetram nos invólucros através dos “chacras”.

Estes chacras espalham estas ondas eletromagnéticas por todo o corpo físico e perispiritual (invólucros) e posteriormente, chegam ao espírito, onde ficam armazenadas à disposição deste para escolha na hora da reação a uma percepção. Todos os espíritos possuem, dentro do invólucro material (perispírito), à sua disposição, todos os tipos de sentimentos. Como nos ensinou Buda Guautama, os sentimentos existem dentro do ser humano como sementes que ele rega para reagir às percepções.

Estas são as únicas posses que o espírito tem, pois elas ficam armazenadas dentro do invólucro material menos denso (perispírito) e acompanham o espírito após o desencarne do invólucro material mais denso (corpo físico). Por isto a sabedoria popular afirma que a única coisa que se leva desta vida são os “momentos” que passamos. Na verdade não são os momentos, mas sim os sentimentos que adquirimos nesses momentos.

Um ladrão que queira assaltar a “casa” do espírito para subtrair de lá suas posses (sentimentos), precisa antes eliminar qualquer possibilidade de reação do proprietário. Como já vimos anteriormente, a única reação positiva que o espírito pode ter sem prejudicar a sua residência é a escolha dos sentimentos que compõem o amor universal. Isto ocorre porque o sentimento que o espírito escolher para reagir ‘’ é o mesmo que será absorvido por ele mesmo em maior quantidade.

Quando um espírito escolhe um sentimento de mágoa para reagir a um acontecimento, ele colherá mais deste sentimento no universo. A mágoa, por sua negatividade, poderá causar desgaste à própria matéria física. A medicina hoje já aceita esta verdade quando atribui a muitas doenças um fundo “emocional”.

Portanto, um espírito que queira “roubar” os sentimentos de outro, necessita acabar com a chance de que este utilize os sentimentos que compõem o amor universal. Se ele é composto de felicidade, compaixão e igualdade, o ladrão deverá utilizar, para neutralizá-los, os seus opostos: a infelicidade, o sofrimento e a desigualdade. Estes três sentimentos se expressam através da crítica oriunda de um julgamento.

Quando um espírito critica o outro está levando para ele a infelicidade, pois estará julgando-o por ter cometido um “erro”. Por ver ferido seus conceitos, o espírito acusado se contraria, sofre e sente-se inferiorizado, pois aquele que faz a crítica, julga-se superior com isso, trazendo ao outro também o sentimento da humilhação.

Quando o “ladrão” critica está levando o proprietário da “casa” criticada, caso não tenha conhecimento dos ensinamentos de Jesus, a escolher estes sentimentos negativos para reagir. Desta forma, o “ladrão” elimina a possibilidade da reação positiva por parte do proprietário. Este é o ensinamento de Jesus nesta logia.

“aí, então, pode pilhar-lhe a casa”

Paz de espírito é um estado que leva o espírito a entrar no gozo da felicidade universal, ou seja, a eliminar a necessidade da satisfação pessoal (prazer) para alcançar a alegria.

Para que a paz de espírito exista é necessário que se reaja às situações com o amor universal.

O fim da utilização do amor universal para reagir às situações da vida acaba com a paz de espírito.

Paz de espírito é, então, o conjunto de sentimentos positivos que um espírito possui. Ela representa o bem maior que um espírito pode conseguir.

O crítico é o ladrão que rouba este bem de outro espírito.

Nas leis de Moisés está escrito não roube, mas Jesus disse:

“Não pensem que eu vim acabar com a Lei de Moisés e os ensinamentos dos profetas. Não vim acabar com eles e sim dar o verdadeiro sentido deles”. (Mateus – 5,17)

Dar o verdadeiro sentido à lei de Moisés é ensinar que ladrão não é só aquele que subtrai posses materiais dos outros, mas entender que aquele que rouba a paz do espírito, também contraria esta lei.

Quando um ser humano condena alguém ou alguma atitude é porque teve seus conceitos contrariados. Como estes conceitos são apenas seus, terá que transferi-los para a outra pessoa para que ela “concorde” com ele. Isto se chama “convencer”.

Convencer outra pessoa dos nossos argumentos é muito difícil, pois tudo que ela ouvir passará pelos seus conceitos já formados, que são diferentes dos nossos. Não existem duas pessoas iguais, porque não existem dois conjuntos de conceitos iguais.

Uma vez que não consigo convencer, preciso “roubar” a sua paz para poder fazer com que essa pessoa aja da forma que eu “acho” certo. Para isso é preciso primeiro “amarrar as suas mãos” (negativar seus sentimento positivos) para que ela não reaja.

Como o ser humano não consegue entender desta forma, continua praticando o “assalto” à casa de seus irmãos.

Àqueles que se acham no direito de poder invadir a residência de outro e roubar a sua paz de espírito, Deus ordena que outro invada a dele e faça a mesma coisa. Aqueles que gostam de criticar, serão criticados, quem gosta de julgar, será julgado... Jesus nos disse que com o mesmo critério que julgarmos, seremos julgados.

Entretanto Deus não faz isso como castigo ou pena, mas com a intenção que o espírito alcance a consciência do que provoca no seu irmão e o objetivo da Providência ao agir desta forma é que o espírito desperte para a realidade do que ele também está promovendo.

É a maior ação do Amor Sublime. Como um pai que coloca seu filho de castigo com a intenção de que ele se corrija, Deus nos dá as situações de sofrimento. Elas não devem ser recebidas como penas, mas devem ser encaradas como a ação de Deus para que o espírito alcance a evolução.

Ë por este motivo que devemos manter sempre a nossa alegria, sob quaisquer circunstâncias, mesmo aquelas mais penosas para nós, pois sabemos que é Deus nos auxiliando em nossa evolução. Sofrer é acusar a Deus de injusto.

Para alcançar esta visão das coisas universais é preciso eliminar os nossos conceitos ou nosso “achar” sobre as coisas e, neste momento, alcançaremos a Verdade Universal da presença de Deus de forma Perfeita (Inteligente, Justa e Amorosa).