O evangelho segundo Tomé

Logia 32 - MIssões

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Logia 32

“032. Disse Jesus: uma cidade que é construída no alto de uma montanha, sendo fortificada, não pode cair, porém não pode jamais ser escondida”.

Na logia anterior, falamos que todos os acontecimentos da vida e os atos praticados por terceiros contra nós são enviados por Deus como um auxílio para nossa evolução. Portanto, reagir a eles com o amor universal é conseguir provar a Deus que aprendemos este sentimento. Esta é a “prova” que foi informada como um dos objetivos da encarnação.

Entretanto, como vimos na logia 29, que trata desses objetivos, existem ainda as missões, que o espírito terá que se desincumbir durante a sua encarnação. Nesta logia, Jesus trata deste tema.

“uma cidade que é construída no alto de uma montanha, sendo fortificada”

Apesar da humanidade falar muito, atualmente, do estado de beligerância dos povos, isto não é fato novo no planeta. Desde a antiguidade os povos guerreiam entre si em busca de poder e bens materiais. Hoje, a diferença é que os conflitos são mais abrangentes, as comunicações mais rápidas e, por isso, chamam mais a atenção.

Antigamente os conflitos eram entre cidades vizinhas. Por este motivo, as cidades eram normalmente construídas sobre elevações. Permitia-se, assim, uma visão mais ampla do terreno em volta dela e podia ser vista com antecedência a presença do inimigo. Além disso, elas eram cercadas de muros altos que facilitavam a defesa e dificultavam os ataques.

É a isto que Jesus está se referindo: uma cidade construída em uma elevação e com muros altos é segura e, além disso, é constantemente guardada e vigiada (fortificada) para que não possa ser tomada pelos inimigos...

Claro que o Mestre não poderia estar ensinando como defender uma cidade, pois a sua missão era ensinar aos espíritos na carne a evoluir. Mais uma vez Ele falou por parábolas. A cidade somos nós, os espíritos que habitam o corpo físico.

“Construir sua cidade”, ou seja, sua encarnação no alto de uma montanha é viver a vida na carne seguindo as leis de Deus. Se o Pai rege nossas ações de acordo com nossas reações, devemos construir nossa cidade dentro das leis criadas por Ele. Seguir estas leis é utilizar sempre o amor universal.

Aquele que reage a todos os atos de Deus com o amor universal consegue ter uma vida segura e feliz, pois a constrói onde o inimigo, o sentimento negativo, não consegue atacar. Antes da chegada do inimigo o espírito consegue observá-lo de longe e preparar as suas defesas.

Para tanto é necessário que a cidade esteja sempre fortificada, ou seja, que mantenha a vigilância constante sobre a aproximação desse inimigo. Por isto Jesus nos ensinou: orai e vigiai. Vigiar a si mesmo, aos sentimentos pelos quais reagimos aos acontecimentos da vida, vigiar nossos pensamentos para que eles sempre reflitam a alegria universal, a compaixão e a igualdade.

Por isto o ensinamento de Buda Guautama, primeiro espírito nascido neste planeta que conseguiu grande elevação espiritual, nos convida a ter atenção plena no momento presente. O ser humano vive preocupado com o que poderá acontecer amanhã ou ainda amarrado aos conceitos (acontecimentos de ontem) e por isto não consegue viver o hoje.

O amanhã ainda não existe: ele será criado por Deus como reação aos sentimentos de agora. O ontem já passou, acabou e só serviu para gerar o hoje.

Um dos belos ensinamentos de Buda afirma:

 “Se você quer saber quem foi ontem, veja o que é hoje. Se quiser saber o que será amanhã, veja o que você é hoje”.

Aquilo que fizermos agora é uma reação do que fizemos ontem. Não adianta ficar preso a este passado tentando alterá-lo, pois ele já se encerrou e não poderá ser mudado. Não adianta querer prognosticar o que será o futuro, pois assim deixaremos de viver o “agora”. Quando não se vive com atenção plena no presente, não se consegue saber o que será o amanhã. Vivendo o agora, sabendo que sentimentos estão sendo utilizados para reagir ao momento atual, o espírito pode “programar”, de certa maneira, o seu futuro.

“não pode cair”

Aquele que vive com atenção plena no momento atual, em oração e vigiando os sentimentos que utiliza, consegue colocar em prática o amor universal. Por isto Jesus afirma que este espírito não “cairá”.

Não cair significa não ceder às tentações dos sentimentos negativos. Como todos os acontecimentos da vida são provas, eles vêm recheados por tentações para que o espírito possa escolher entre uma coisa ou outra. Estas tentações são como “respostas de múltipla escolha” que Deus coloca em cada ato. Depende do espírito escolher ou não a resposta dentro das leis de Deus.

Aquele que constrói a sua cidade no alto do morro consegue ver estas tentações que estão presentes nas respostas... Entretanto, além de construir a cidade na elevação e construir muros, é necessário fortificá-los, ou seja, manter a atenção plena sempre. O espírito que assim fizer conseguirá resistir às tentações e se manterá dentro dos princípios que regem as leis de Deus.

“porém não pode jamais ser escondida”

Reagir somente com o amor universal não quer dizer que só lhe acontecerão coisas que você deseja, ou seja, somente situações onde encontre o que hoje chama de felicidade.

Na verdade o ser humano não conhece a felicidade. Para ele, este estado de espírito só é alcançado quando lhe acontece aquilo que ele deseja. Isto não é felicidade, pois geralmente para isso acontecer, outras pessoas têm que se submeter ao seu desejo. Podemos dizer que isto é um prazer pessoal.

Felicidade é quando toda a comunidade espiritual a encontra no acontecimento, quando todos são beneficiados.

Prazer pessoal é aquele onde apenas um ou um grupo é beneficiado em detrimento de outros. Como o amor universal tem como um dos seus pilares básicos a igualdade, é necessário para que ele exista, que todos sejam afetados positivamente com o acontecimento.

Portanto, a prática do amor universal não garantirá a você que só lhe aconteçam fatos que hoje você considera como “bons”, ou que lhe dão prazer, mas continuarão acontecendo situações às quais você hoje diz que são “ruins”. É isto que Jesus afirma quando diz que a cidade construída sobre a montanha e fortificada não poderá ser escondida.

Não é porque você se utiliza apenas do amor universal que as pessoas não mais lhe caluniarão, lhe dirão palavras ofensivas: isto continuará acontecendo. Entretanto isto não mais acontecerá como prova, mas passará a ser agora uma missão para você auxiliar a Deus na Sua obra.

Quando Deus comanda um ato de uma pessoa que tem sentimentos negativos contra outra que já possui o amor universal, Ele sabe que esta última reagirá com o sentimento contrário e, desta forma, doará este sentimento positivo para quem a atacou. O doador do amor universal estará em missão de Deus para auxiliar o outro, neutralizando a negatividade de seus sentimentos através da “doação”.

Esta doação levará o sentimento positivo a penetrar, primeiro pelo corpo físico e depois pelos “chacras” (pontos de entrada e saída de energia do espírito) aumentando, desta forma, o “estoque” de sentimentos positivos daquele irmão, eliminando parte dos sentimentos negativos. Com isto ele terá à sua disposição mais sentimentos positivos para “escolher” na hora de reagir a um acontecimento. Podemos comparar esta forma de proceder com o passe aplicado pelas religiões espíritas.

Portanto, possuir o amor universal não é encontrar apenas felicidade nas situações da vida, mas sim, colocar felicidade em tudo o que acontece. É preciso que o espírito encare tudo com amor para a sua evolução espiritual.

Quando falamos que Deus comanda os atos dos seres humanos contra aqueles que merecem, não estávamos apenas nos referindo a merecimentos negativos, mas existem também os merecimentos positivos. O ser humano aprendeu a ver Deus como um “carrasco” que castiga os culpados e quando acontece uma situação onde ele reage com sentimentos de sofrimento, diz que foi ou está sendo um castigo de Deus.

Muitas vezes, entretanto, estas situações são geradas porque o espírito merece positivamente passar por aquela situação. Aquele que interiorizar o amor universal continuará merecendo receber tais atos, não mais como uma penalidade, mas sim como uma graça de Deus, para que cumpra sua missão, positivando os sentimentos negativos do outro, conforme já explicado.

Quando um espírito doa o amor universal sempre recolhe mais desse amor do universo, pois o espírito se abastece dos mesmos sentimentos que utiliza para reagir aos acontecimentos. Como dito por Jesus: aquele que tem muito a ele será dado mais, mas aquele que tem pouco, até este pouco será retirado. Portanto, a continuação dos acontecimentos considerados como sofrimento mesmo para aqueles que já aprenderam a reagir com o amor universal, passa a ser uma fonte e uma chance a mais de abastecimento deste amor.

Este é o merecimento positivo que o espírito adquire quando utiliza o amor universal. Para que isto aconteça é necessário que ele construa a sua cidade sobre um monte e que a fortaleça, ou seja, elimine as verdades individuais e os prazeres pessoais.