O evangelho segundo Tomé

Logia 31 - Preconceito

Reproduzir todos os áudiosDownload
Logia 31

“031. Disse Jesus: nenhum profeta é aceito em sua cidade, nenhum médico cura aqueles que o conhecem”.

Esta logia trata do preconceito, ou seja, um conceito anterior que o ser humano formou a partir de uma análise e julgamento de uma pessoa, um objeto ou ato.

Como já explicado nas logias 13 (Conceitos) e 26 (Percepções), todas as informações recebidas pelos órgãos sensoriais do corpo físico (audição, visão, tato, paladar e aroma), são repassadas ao espírito. É o conjunto destas informações que, após arquivadas, levam o espírito a reconhecer os objetos.

Por exemplo: alguma coisa com um determinado aroma, sabor, forma e cor é arquivada como uma “laranja”. Alterando-se qualquer dos seus componentes, o espírito criará um novo código ou acrescentará dados para identificar o que chamou e conheceu como “laranja”.

 Da mesma forma, se o espírito ainda não tiver tido contato com um objeto, não conseguirá imaginar o que seja. Por isto se diz que o ser humano raciocina por imagens e busca o conceito formado pelas sensações recebidas.

Este conceito é arquivado na memória do ser humano. Esta memória, então, funciona como um banco de dados onde se armazenam os conhecimentos recebidos durante a passagem carnal. A partir deste momento o ser humano diz que “conhece” o objeto.

A estas informações recebidas pelos órgãos sensoriais, o ser humano junta suas leis. No exemplo da laranja, o ser humano juntará a lei “gosto” ou “não gosto”, “satisfaz” ou “não satisfaz” ou outras ainda. Estas “leis” são arquivadas junto com as informações sensoriais criando o conceito sobre a coisa.

Podemos aplicar este mesmo raciocínio para o convívio com outras pessoas. O ser humano rotula as pessoas de acordo com as percepções que tiver tido delas, ou seja, das informações recebidas pelos órgãos do corpo físico, acrescidas da avaliação obtida pelo “julgamento” que foi feito de seus atos e de acordo com as suas “leis”.

Esta informação guardada é um conceito, ou seja, uma definição dada a determinada pessoa, fruto das percepções. É aquilo que o ser humano costuma dizer: “eu conheço tal pessoa”. Este “conhecimento” é o conceito arquivado sobre ela. Na verdade, no pensamento atual este conceito passou a ser um “pré-conceito”, pois já existia antes.

Porém, este “pré-conceito” sempre será falso, pois será formado com intervenção das leis individuais de cada espírito, ou seja, daquilo que ele acha “certo” ou “errado”, “bonito” ou “feio”etc. Como estes padrões são individuais e não universais, não refletem a verdade.

Uma verdade, para ser universal, tem que ser eterna e imutável.

As leis que o ser humano usa não seguem estes parâmetros, por isso não podem ser consideradas verdades universais, mas apenas verdades individuais.

“nenhum profeta é aceito em sua cidade”

Quando Jesus afirma que “nenhum profeta é aceito em sua cidade”, Ele quer dizer que o ser humano não aceita o que diz uma pessoa que ele “acha” que conhece. São seus conceitos formados anteriormente sobre aquela pessoa (preconceitos) que não o deixam dar crédito a ela.

Para que o ser humano acredite em uma pessoa é necessário que ainda não tenha conceitos formados sobre ela.

Isto fica melhor exemplificado quando conhecido o texto bíblico:

“Quando Jesus acabou de fazer essas comparações, saiu e voltou para a cidade de Nazaré, onde tinha morado. Ele ensinava na casa de oração, e os que o ouviam ficavam admirados e perguntavam: de onde vem a sabedoria dele? E os milagres que faz? Ele não é o filho do carpinteiro? A sua mãe não é Maria? Não é irmão de Tiago, José, Simão e Judas? As suas irmãs não moram aqui? Onde foi que ele conseguiu tudo isso?” (Mateus – 13,54)

Jesus retornou à sua terra depois de ter andado por toda a Judéia praticando a cura e levando a Boa Nova. Entretanto não pode fazer nada pelos seus patrícios, pois estes “conheciam” Jesus. Não aceitavam a sua orientação, pois o Mestre, para eles, ainda era a mesma criança que havia crescido naquele local, filho de um simples carpinteiro.

Todos os fatos da vida de Jesus antes do seu ministério, auxiliaram o povo de sua cidade a formar um “conceito” sobre Ele. O futuro de Jesus, para quem o conhecera, era certo: seria carpinteiro e trabalharia com os irmãos na carpintaria do pai. No entanto, Ele agora aparecia como o Messias, o Mensageiro enviado por Deus. Eles não podiam acreditar no que o Mestre falava, pois estavam sendo movidos pelos “pré-conceitos” que tinham sobre Ele.

Por isto Mateus afirmou:

“Jesus não pode fazer muitos milagres ali porque eles não tinham fé”. (13,58)

“nenhum médico cura aqueles que o conhecem”

Como vimos na logia 29 (Encarnação), um dos objetivos da vida do espírito na carne é auxiliar Deus na sua obra. O Pai utiliza-se dos espíritos encarnados e desencarnados para que, pela solidariedade, sirvam de mensageiros Dele, transmitindo os ensinamentos necessários para a evolução espiritual. Por isto Jesus afirmou que nós somos o “sal da humanidade”, ou seja, damos o sabor da vida dos outros.

Quando uma pessoa grita com você, fere ou magoa, não o faz porque quer ou porque está utilizando o seu livre arbítrio, mas sim porque Deus a direcionou para praticar isto frente a você. Ela é um “instrumento” de Deus para lhe mandar um recado. Foi escolhida porque possuía os sentimentos necessários (raiva, ódio, vingança) para a prática do ato, mas só conseguiu praticá-los contra você porque você merecia ou precisava receber aquele ato.

A intenção de Deus não é lhe ferir ou magoar. É mostrar o quanto sofre uma outra pessoa quando você tem sentimentos negativos, os quais serão utilizados por Deus para que você pratique determinados atos, decorrentes desses sentimentos, contra outras pessoas.

Deus está lhe dizendo, quando alguém grita com você: “altere seus sentimentos, pois você está colocando um “sabor” amargo na vida das pessoas”.

Esta é a quinta Verdade Universal:

Deus é quem escreve as questões da prova que o espírito vem fazer, pois Ele é a Causa Primária das coisas.

Portanto, todos os outros espíritos, encarnados ou não, que mantém contato com você, são como “médicos” que Deus utiliza para a sua cura.

No entanto, você não consegue enxergá-los desta forma porque possui conceitos formados sobre eles.

Para que o espírito consiga ser “curado”, é necessário que entenda a ação de Deus através dele, destruindo assim os preconceitos.

Aquele que sabe que é um espírito, entende esta verdade e por isto não julga ninguém.

Quem se vê como espírito, apenas forma o conhecimento sobre as pessoas pelas sensações recebidas através do corpo humano: reconhece a forma, o odor e os sentimentos, mas não os “qualifica”, não julga se são pessoas boas ou más, bonitas ou feias, cultas ou incultas, etc.

Quando o ser humano destrói seus preconceitos, alcança a Deus, ou seja, a Perfeição em todas as coisas. O imperfeito (“certo ou errado”) é oriundo do julgamento que o espírito faz sobre as pessoas, objetos ou atos com base em suas próprias leis, guardadas junto com seus preconceitos.

Somente sem julgar, sem preconceitos o espírito conseguirá ser ajudado. É preciso que se acabe com os “adjetivos” sobre as outras pessoas e se entenda que elas nada mais são do que emissárias dos ensinamentos de Deus.

Deus é a Inteligência Perfeita do Universo e por isso Jesus se maravilha tanto com a perfeição da encarnação. Entretanto o ser humano (espírito na carne) não se aproveita desta providência que Deus concede, pois ainda se imagina capaz de “qualificar” as coisas...

Aquele que consegue sentir raiva, ódio ou mágoa por atos alheios, não vê o Amor Sublime em ação. Quando você escolhe outro sentimento que não seja o amor para reagir a um ato está negando sua origem. Ver-se como espírito é trocar todos os seus conceitos pela presença de Deus a cada segundo de sua vida.

Quando uma pessoa consegue sentir-se magoada ou ferida com o ato de outra, julga-se injustiçada. Sente isso porque não consegue entender que ali foi aplicada a Justiça Perfeita e transforma Deus em um ser impotente, que só pode agir depois que o ato acontece. Entretanto, o Pai é Onipresente, Onipotente e Onisciente. Deus a tudo vê e de tudo sabe e se não causasse todas as coisas não seria onipotente, pois estaria se submetendo aos desejos dos espíritos.

Somente com Deus agindo como causador das coisas, ou seja, a origem, inclusive dos atos, Ele passará a ser o Pai que ajuda e orienta seus filhos e não mais um “juiz impotente” que se senta em um trono e espera os atos acontecerem para depois julgar...