O evangelho segundo Tomé

Logia 29 - Encarnação

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“029. Disse Jesus: se a carne veio a existir por causa do espírito, isto é uma maravilha; mas se o espírito veio a existir por causa dela, é a maravilha das maravilhas. Mas o que me maravilha é como essa grande riqueza fez morada em tal pobreza”.

“se a carne veio a existir por causa do espírito, isto é uma maravilha”

O nascimento de um ser humano faz parte do processo espiritual chamado “encarnação”.

Para Jesus, este processo é uma “maravilha”. Isto porque a encarnação é uma dádiva que Deus concede aos espíritos em evolução para que consigam provar que são capazes de colocar em prática o Amor Universal, mesmo sem a lembrança espiritual. Somente com esta comprovação é que o espírito evolui.

“Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição. Para alguns é uma expiação, para outros uma missão. Todavia, para alcançarem essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação. A encarnação tem também outro objetivo que é o de colocar o espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação. Para realizá-la é que, em cada mundo, ele toma um aparelho em harmonia com a matéria essencial desse mundo, cumprindo aí, daquele ponto de vista, as ordens de Deus, de tal sorte que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”. (O Livro dos Espíritos – Perg. 132)

Neste trecho transmitido a Kardec encontramos os objetivos da encarnação, que tanto maravilham o Mestre.

O primeiro objetivo é chegar à perfeição, ou seja, viver apenas com o Amor Universal. O espírito se encarna em uma matéria densa não com objetivo de ser uma pessoa famosa, rica, cortejada, mas sim para provar a Deus que é capaz de amar a todos como gostaria de ser amado.

Para que a encarnação tenha sucesso, é necessário que o espírito:

- viva a sua vida com alegria, sem procurar ou encontrar motivos para tristeza, infelicidade. Não importa o que aconteça, o espírito deve positivar o ato aplicando nele a felicidade de participar do mundo de Deus;

- não ofenda seus companheiros de jornada carnal. Para isto ele precisa utilizar-se sempre da compaixão, ou seja, da consciência do sofrimento que pode causar aos outros, abstendo-se de julgar e condenar seus irmãos por atos que pratiquem;

- nunca se sinta superior ou inferior a ninguém quer em posses materiais, sentimentais ou intelectuais. Não importa o que o outro faça ou possua, o espírito deve ver a igualdade que existe entre todos: ser filho de Deus. O Pai nos ama tanto que trata cada filho seu como se fosse o único. Aplicar o Amor Universal é agir como o pai do filho pródigo.

São estas as provas que o espírito faz durante a encarnação. Elas maravilham tanto Jesus porque somente quando o espírito está encarnado pode executá-las. É o véu do esquecimento das coisas espirituais que é aplicado à memória do espírito quando está encarnado que garante a “prova” que tem que ser feita. Quando o espírito está fora do processo encarnatório, possui toda lembrança dos ensinamentos que já recebeu e, desta forma, não pode provar que interiorizou os sentimentos.

O segundo objetivo é passar pelas expiações, ou seja, “as vicissitudes da existência corporal”, como explicou Kardec. Não existe ser humano mal feito ou em situação ruim: sua forma e os acontecimentos de sua vida fazem parte da sua missão na carne.

Por isto no Evangelho de Tomé é citado constantemente por Jesus que o espírito na carne deve abster-se de procurar bem ou mal, certo ou errado, feio ou bonito. Quando o ser humano constata que alguma coisa lhe causa mal e sofre, está reagindo negativamente a uma expiação que veio passar. Cada um é da forma que é, passa pelas situações que acontecem, tem as doenças que tem, porque merece ou necessita como expiação ou prova da sua encarnação.

Esta expiação, no entanto, não deve ser só atribuída a fatos ocorridos em encarnações anteriores, mas muitas são causadas por utilização de sentimentos negativos nesta própria existência. “Aqui se faz, aqui se paga”, diz o ditado popular.

Existem expiações que transcendem uma encarnação e necessitam de reparação em outra, mas o sentimento utilizado em um segundo servirá também como base para que Deus determine o próximo segundo de sua vida. Você se casa, tem filhos, possui amigos que vêm de outras encarnações cumprir expiações junto com você, mas se estes relacionamentos serão tormentosos ou não, depende dos sentimentos que tiver nesta vida.

Você tem como expiação casar-se com determinada pessoa (espírito na carne): isto será cumprido dentro do prazo determinado por você e por esta outra pessoa no planejamento da encarnação. Entretanto, se você passará este tempo feliz ou não, vai depender dos sentimentos que tiver nessa encarnação. O certo é que se unirá ao outro espírito no momento pré combinado e também se afastará em um momento já estabelecido de comum acordo.

Juntando-se os dois, podemos afirmar que uma encarnação serve como expiação de faltas passadas, mas também já elimina débitos da encarnação atual. Por isto Jesus se maravilha tanto com uma encarnação: é a Inteligência Suprema agindo sem “perder tempo”.

O terceiro objetivo da encarnação são as missões que o espírito assume de auxílio ao próximo. Todas as atitudes que um ser humano toma são designadas por Deus para serem direcionadas a uma determinada pessoa que merece ou precise que aquele ato lhe ocorra. Neste ponto, Deus utiliza-se de outros espíritos na carne para que possa aconselhar os seus filhos sobre seus sentimentos.

Todos nós somos enviados de Deus para trazer ensinamentos aos outros. Por isto Jesus diz que somos o “sal da humanidade”. Ele aproveita os sentimentos do espírito para comandar o ato a ser praticado por ele para quem necessite ou mereça receber aquele ato (sentimento).

É isto que maravilha Jesus: a Justiça Perfeita sendo aplicada!

Desta forma, quando alguém grita com você é porque ele tem sentimentos negativos, mas é necessário que entenda que se ele conseguiu gritar é porque você merecia ou necessitava. Este entendimento nos leva a não acusar os outros, nem a reagir com sentimentos raiva, mas a manter a nossa felicidade e agradecer a Deus por utilizado este portador para nos avisar do sentimento que também estávamos nutrindo...

“A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo, mas Deus, em Sua sabedoria, quis que, por essa mesma ação, eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximarem Dele. É assim que, por uma lei natural de Sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza”.

“mas se o espírito veio a existir por causa dela, é a maravilha das maravilhas”

Para que tudo isto aconteça, o ser humano deve abrir mão do seu “poder” e, entendendo as coisas sob este prisma, encontrar a sua essência espiritual.

Isto para Jesus é a maravilha das maravilhas.

Enquanto o ser humano não fizer sua reforma íntima, não conseguirá compreender estas verdades universais.

Para Jesus a maravilha é tudo isto acontecer, mas a maravilha das maravilhas é o espírito aproveitar-se de todos estes mecanismos que Deus criou e evoluir espiritualmente.

“Mas o que me maravilha é como essa grande riqueza fez morada em tal pobreza”.

O espírito é um ser incorpóreo formado de matérias energéticas (energia eletromagnética) que resplandece em virtude de sua emanação de sentimentos. Quando ele se incorpora a uma matéria mais densa não consegue ver estas emanações, necessitando de luz artificial para poder “enxergar” as coisas.

“E Adão disse a Eva: olha para teus olhos e para os meus, que dantes viam anjos no céu louvando; e eles, também sem cessar. Mas agora nós não vemos como víamos; nossos olhos são de carne; não podem ver da mesma maneira como viam antes”. (Evangelho Apócrifo “Primeiro Livro de Adão e Eva – Cap. IV – Itens 8 e 9)

Estes sentimentos que emanam do espírito são a riqueza que um espírito pode ter. Por isto Jesus, que se manteve como espírito mesmo estando na carne (Ver “Apresentação” neste livro) se maravilha tanto em ver como um espírito (essa grande riqueza) consegue ocupar uma carne.

Só a Inteligência Suprema do Universo pode criar um sistema tão eficaz para que o espírito retorne à sua riqueza; só a Justiça Perfeita pode administrar todos os efeitos das reações dos relacionamentos no Universo de tal forma que a igualdade seja mantida; só o Amor Sublime pode aplicar esta providência sem acusar ou penalizar Seus filhos.

Por isto Jesus se maravilha tanto com o processo de encarnação.