O evangelho segundo Tomé

Logia 27 - Jejum do mundo

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Logia 27

“027. Jesus disse: se não fizerdes jejum do mundo não encontrareis o Reino; se não guardardes o Sabbath como Sabbath, não vereis o Pai”.

“se não fizerdes jejum do mundo não encontrareis o Reino”

Nesta logia, Jesus nos adverte sobre o que fazer para encontrarmos o “Reino”. Conforme já vimos na logia 03, o “Reino do Céu” não se trata de um local físico, mas sim uma condição na qual o espírito encontra-se em paz vivendo em harmonia e felicidade.

Para que isto aconteça é necessário “fazer jejum do mundo”.

JEJUM – Abster-se de algo. (Mini-Dicionário Aurélio)

Conhecendo o sentido da palavra jejum, podemos entender a mensagem do Mestre: temos que fazer abstenção das coisas do planeta Terra, ou seja, “abstenção da materialidade”. Para Jesus, a vida em harmonia e a felicidade só serão alcançadas quando não mais vivermos em função das coisas materiais.

Todas as coisas existentes possuem duas características: a forma e a essência. A primeira é a figura ou estampa de cada coisa, enquanto que a segunda é a finalidade que damos a ela, a qual chamamos de essência. Para Jesus, o importante não é a forma que as coisas possuem, mas sim a essência que aplicamos às coisas materiais.

Por exemplo, uma mesa pode ter várias utilidades: pode servir como local de refeição, apoio para escrita, estética, operações cirúrgicas, etc. Estas finalidades são a essência que damos a uma mesa.

Aplicamos estas finalidades a partir da forma que esse objeto tem, ou seja, observamos o seu desenho para depois aplicarmos uma essência. Quem assim procede é porque não se “alimenta” da essência, mas sim da forma, pois necessita de um determinado “desenho” para encontrar a finalidade da coisa. Quando este “desenho” não está presente, não consegue atingir a essência da coisa...

Quando se quer uma mesa só para embelezar um ambiente, certamente nos desfaremos da que estiver mais velha, cuja “forma”, por estar riscada ou quebrada, não mais nos satisfaz. Muitas vezes assim procedemos com sofrimento, pois, apesar de gostarmos muito daquele objeto, ele não servirá mais para a sua “finalidade” que era apenas a estética. Isto é não fazer jejum do mundo...

Para se viver em harmonia é necessário que o ser humano compreenda que as coisas possuem a “finalidade” que ele der a elas, independente da forma que tiverem. Não é o estado da coisa que determina a sua finalidade, mas ela será determinada de acordo com quem a vê e como a vê. Uma mesa riscada e quebrada pode muito bem embelezar um ambiente caso o ser humano coloque “beleza” nela. Isto é fazer “jejum” do mundo.

Quem faz jejum do mundo não se importa com a forma que as coisas têm. Para se alcançar este estado é importante que o ser humano alcance a consciência de que é ele quem deve aplicar uma essência nas coisas e não esperar pela essência aplicada por outras pessoas.

“se não guardardes o Sabbath como Sabbath, não vereis o Pai”

O Sabbath é uma tradição religiosa dos judeus,que advém das leis de Moisés: o 4o quarto mandamento.

“Guarde o sábado, que é um dia santo. Faça todo o seu trabalho durante seis dias da semana, mas o sétimo dia é o dia do descanso, dedicado a mim, o seu Deus. Não faça nenhum trabalho nesse dia, nem você, nem os seus filhos, nem os seus escravos, nem os seus animais, nem os estrangeiros que vivem na terra de vocês”. (Êxodo – 20,8)

Pelo teor desta lei, os judeus no sábado devem permanecem sem fazer trabalho algum. Esta tradição foi, inclusive, o motivo da maior acusação que os judeus fizeram contra Jesus: praticar cura no sábado. Quando questionado sobre o seu modo de proceder, o Mestre respondeu:

“Se vocês soubessem o que as escrituras sagradas querem dizer quando afirmam: “Eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais”, vocês não condenariam os que não têm culpa”. (Mateus – 12,7)

Estar preso à forma da lei (suas palavras) leva ao ócio, mas entender a essência do ensinamento, leva ao cumprimento perfeito da lei. A essência de Deus é o Amor Universal, ou seja, a alegria, compaixão e igualdade.

Por isso, ao afirmar que os seres humanos desconhecem o significado da palavra de Deus que pede a bondade e não o sacrifício, Jesus ensinou que eles não entenderam a essência da lei de Deus.

Guardar o sábado para Deus nunca poderia ser cair no ócio, pois a primeira lei do Pai é a do trabalho: todos temos que trabalhar.

Guardar o dia para Deus é “viver o dia em seu nome”, ou seja, vivenciar o Amor Universal.

Devemos todos ter um dia no qual não escolheremos a tristeza para colocar como essência nos acontecimentos, onde não iremos causar sofrimento a outras pessoas e nem nos considerarmos superiores ou inferiores a qualquer coisa. Isto é guardar o Sabbath como o Sabbath e por isso Jesus fazia curas e alimentava-se nesse dia.

Claro está que deveríamos viver todos os dias desta forma, mas enquanto estivermos no processo de evolução, buscando o aprendizado, temos que praticar esta forma de viver pelo menos um dia na semana. Aquele que assim agir encontrará a essência de Deus e por isso “verá o Pai”.

Entretanto, a colocação desta informação na mesma logia onde se ensina o “jejum do mundo” tem mais um significado.

Na primeira parte, Jesus nos diz que não devemos observar as formas materiais das coisas, mas sim a essência que aplicamos a elas. Na segunda, nos mostra qual sentimento devemos utilizar como essência para todas as coisas: o Amor Universal.

Para se alcançar o “Reino” não basta entendermos que as coisas devem valer por sua essência, mas também é necessário que apliquemos a elas o Amor Universal. Não importa o fato que está acontecendo ou a coisa que se está observando, mas é necessário que sempre se encontre neles a alegria, compaixão e igualdade.

A tudo o que acontece devemos aplicar o sentimento de felicidade. Não importa a forma, as palavras ou gestos, não podemos reagir a elas com tristeza ou sofrimento, pois desta forma não alcançaremos o Reino, ou seja, a paz, harmonia e felicidade.

Para se encontrar a felicidade nos fatos é necessário que se aplique felicidade a eles...

Enquanto as pessoas perceberem apenas a forma do acontecimento, encontrarão infelicidade, injustiça e desamor, pois estes são, normalmente, os sentimentos que estão dentro de todos nós. O ser humano gosta destes sentimentos, pois acredita que esta é finalidade de sua vida, a maneira de alcançar a evolução.

Sempre que formos reagir a algum acontecimento, devemos refletir se não estamos ferindo alguém. Quando acusamos os outros de nos terem feito o mal, é porque nós escolhemos este sentimento para reagir ao acontecimento. Quando existe a acusação ao que serviu de instrumento de Deus para nos trazer um ensinamento, existe também um distanciamento do Pai e de Sua Justiça Perfeita. Por isso, para se chegar ao Reino e ver o Pai é necessário aplicar e entender sempre a igualdade e a compaixão em tudo o que acontece e não culpar ou ferir as outras pessoas. Não importa o que nos façam, temos que encontrar sempre nas ações ou coisas um “recado” de Deus.

Deus é o Amor Sublime e por isso tudo que nos acontece é fruto de Seu amor.

Viver dentro desse ensinamento é fazer jejum do mundo e descobrir o caminho para a paz, a harmonia e a felicidade: o Reino do Céu.