O evangelho segundo Tomé

Logia 25 - Ação e reação

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Logia 25

“025. Disse Jesus: Ama teu irmão como tua alma, protege-o como a pupila dos teus olhos”.

Este, de acordo com os ensinamentos de Jesus, é o segundo maior mandamento da lei de Deus.

“Um professor da lei que estava ali ouviu a discussão. Viu que Jesus tinha dado uma boa resposta e por isso perguntou: Qual é o mais importante de todos os mandamentos?”

“Jesus respondeu: É este: Escute, povo de Israel! O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor seu Deus com todo o coração, com toda alma, com toda mente e com todas as forças. E o segundo mais importante é este: Ame os outros como você ama a você mesmo”. (Evangelho de Marcos – Cap. 12 – Vers. 28)

Nesta lei está estampada a engrenagem básica da vida na carne: os sentimentos que um espírito emana para outros é o mesmo que gostaria para si. Baseado nesta lei, que pode ser considerada parte da lei da ação e reação, Deus determina a vida dos espíritos na matéria carnal. Se um espírito deve dar a outro apenas o que gostaria para si, quando ele emana sentimentos negativos contra alguém, quer dizer que espera receber este mesmo sentimento de retorno e, como Deus é justo, faz a sua vontade.

Por este motivo, quando um espírito gosta de nutrir mágoa ou raiva contra outro, Deus conclui que ele gosta destes sentimentos e que espera recebê-los. Para que isto aconteça, Deus coloca à sua frente outros espíritos que nutram os mesmos sentimentos e dá o raciocínio para que eles os transformem em atos.

Portanto, quando alguém consegue, frente a um ser humano, praticar atos que materializem sentimentos negativos, na verdade não é este espírito que o faz por vontade própria e sim Deus que o coloca ali, diante daquele que gosta de nutrir o mesmo sentimento. Isto é Justiça, isto é Deus Onipotente.

Deus dá a cada um de acordo com o que ele pratica com o seu irmão. Aquele que não vê desta forma, não tem a consciência do sofrimento que causa aos amigos de caminhada, acha-se sempre dentro das leis e acusa Deus de injustiça.

Para alcançar a elevação espiritual e conseguir colocar o amor universal em prática, o espírito precisa compreender que todas as coisas que lhe acontecem são frutos de seus próprios sentimentos emanados contra outros espíritos e não obra do “acaso”, “sorte” ou “azar”. Deus utiliza-se daqueles que possuem sentimentos idênticos para que um mostre ao outro todo sofrimento que está causando. Quando um espírito recebe um ato proveniente de um sentimento negativo, é porque praticou esse mesmo ato (ou nutriu esse mesmo sentimento) contra outro espírito e este outro também merecia, pois também nutria os mesmos sentimentos.

Trata-se de uma “engrenagem” que faz funcionar a máquina chamada vida humana. Uma engrenagem perfeita, pois é comandada pela Inteligência Suprema do Universo.

Todos recebem conforme as suas obras e por isso sempre estará sendo alcançada a Justiça Perfeita.

Quando o ser humano se transformar em espírito e começar a vigiar seus sentimentos, não mais será merecedor de receber atos que sejam embasados em sentimentos negativos, doando, portanto amor e recebendo amor.

Enquanto o ser humano achar que alguma coisa possa estar “errada”, o “errado” será ele por acreditar apenas em seus conceitos. Deus sempre encontrará alguém que mostre a ele como está “errado”. Enquanto o ser humano gritar com outro, receberá gritos; invejar receberá inveja; magoar receberá mágoas.

Tudo começa na própria reforma íntima e não na reforma dos demais. O espírito que imaginar que não pode “ficar sem dar uma resposta à altura”, é porque ainda não aprendeu que receberá a mesma resposta que der aos outros. A vida espiritual é um eco de tudo o que se faz.

É preciso alterar a si mesmo para que o mundo se altere. Somente quando o espírito alcançar o amor universal, que lhe trará o desprendimento do “certo” ou “errado”, “bem” ou “mal”, ele conseguirá encontrar a verdadeira felicidade.

Por isto Jesus afirma que este é o segundo mais importante mandamento das leis de Deus: é preciso que o ser humano não espere sempre ser contentado para que alcance a felicidade, mas contente-se com o que receber de Deus, sabendo que foi o que plantou.

“Ama teu irmão como tua alma”

Ame o outro como você ama a si mesmo, ou seja, aceite sempre que as outras pessoas estão certas, como assim elas se imaginam.

Não julgue e Deus não o julgará; não acuse e Deus não o acusará.

Queira para seu irmão tudo aquilo que deseja para você. Se busca a fama, não o faça difamando os outros, se busca o contentamento, não o faça desagradando aos outros, se quer o elogio, não o consiga através da crítica.

O espírito ampliará qualquer sentimento, quando aplicá-lo sobre os outros. O amor só será o sentimento primaz de um espírito quando for colocado em prática com outros espíritos.

Não há espírito que consiga amar a si mesmo, sem que antes ame os outros; não existe ninguém que consiga estar “certo” sem que dê a razão aos outros. O “certo” é aquele que não possui certezas, mas admite as “certezas” alheias. Enquanto o espírito procurar manter a posse moral sobre as coisas (“ter razão”), ele “perderá” a verdade (a razão). Perdendo a verdade, poderá encontrar a única certeza: nada sabe.

Enquanto procurar achar alguma coisa, estará perdendo o amor ao próximo e a si mesmo.

Para poder amar ao próximo é necessário que ame a si mesmo. Para amar a si mesmo é necessário ver a igualdade plena em todas as coisas. Esta igualdade não permitirá que o espírito se sobreponha em momento algum.

Esta forma de proceder, porém, não pode levar à submissão. O espírito deve dar a cada um o direito de “achar” o que quiser, mas não pode fazer do “achar” de cada um o seu próprio. Deve doar a razão a estes, mas não compartilhá-la.

O não achar deve permanecer sempre. Quando um espírito estiver frente a outro que ainda imagina-se capaz de “achar” alguma coisa, deve entender esta forma de proceder e deixá-lo imaginando-se certo, mas não pode absorver esta convicção como sua para não se indispor com ele. Isto é não ter conceitos: a única forma de se alcançar o amor universal.

Não ter conceitos não pode passar pela formação de um novo conceito: “ninguém deve ter conceitos”.

O espírito que tem o amor universal aceita que todos ajam da maneira que acham “certo”, sem buscar corrigi-los. Isto é amar aos outros como a si mesmo: respeitar qualquer posição contrária, mesmo que esta não esteja de acordo com as leis de Deus. O espírito que invoca o conhecimento das leis de Deus para obrigar outros a agir como ele “acha”, está incorrendo no mesmo erro que está querendo evitar.

Aquele que se diz conhecedor de verdades superiores às dos outros, está utilizando um sentimento de superioridade, que extingue o amor. Portanto, amar os outros não é corrigi-los, mas aceitá-los como são.

“protege-o como a pupila dos teus olhos”

É a esta proteção que Jesus se refere: o espírito tem que proteger seu irmão para que “viva” da forma que bem entender, do modo que “achar” que deve e não obrigá-lo a fazer o que ele “acha”.

A pupila dos olhos é o local onde se formam as imagens, ou seja, por onde o espírito imagina que “entende” as coisas; é através das imagens captadas que o espírito imagina como as coisas são.

Portanto, para amar seu irmão, o espírito deve dar-lhe o direito de imaginar que as coisas são da forma que ele “acha” que são. Proteger as suas pupilas é proteger a sua forma de “enxergar” as coisas. Proteger o seu irmão como proteger a pupila dos olhos, é deixar que cada um “enxergue” as coisas como quiser.

Amar seu irmão é, antes de tudo, respeitar o direito que ele tem de ver as coisas dentro de seu próprio individualismo. Amar o seu irmão é desobriga-lo, conferindo-lhe a liberdade de sentimentos e conhecimentos.

Amar desta forma é colocar em prática a lei que diz que os espíritos devem se amar mutuamente, conforme Deus os ama, pois o Pai, dá a cada um o direito de sentir o que quiser.