O evangelho segundo Tomé

Logia 24 - Morada de Deus

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Logia 24

“024. Seus discípulos disseram: mostra-nos o lugar em que estás, pois é necessário que nós te busquemos. Respondeu-lhes ele: aquele que tem ouvidos que ouça. Dentro de um homem iluminado há luz e ele ilumina o mundo todo. Quando ele não brilha, há trevas”.

 “mostra-nos o lugar em que estás, pois é necessário que nós te busquemos”

O Evangelho de Tomé não é um evangelho histórico. Os ensinamentos não seguem uma ordem cronológica, mas foram dispostos de tal modo que o entendimento das Verdades Universais seja alcançado tema a tema.

O ensinamento desta logia, por exemplo, foi passado na reunião citada pelos evangelistas após o desencarne de Jesus.

“Por fim Jesus apareceu aos onze discípulos enquanto estavam comendo. Ele os repreendeu por não terem fé e por teimarem em não acreditar no que disseram os que o tinham visto ressuscitado”. (Evangelho de Marcos – Cap. 16 – vers. 14).

Nesta reunião os discípulos aflitos, por encontrarem-se agora sem a palavra de Jesus e sua presença física, buscam o Mestre para que antes de “subir aos céus”, lhes mostre um lugar onde pudessem fazer contato. O objetivo dos discípulos era buscar uma confirmação de seus atos na divulgação da Boa Nova.

“Dentro de um homem iluminado há luz”

Entendendo-se esta “luz” como aquilo que clareia a visão, Jesus pode ser considerado a “luz” do planeta. Foi a sua missão que trouxe a Boa Nova (o amor universal) que clareou a forma de se “ver” as coisas de Deus.

Antes de Jesus, o relacionamento espírito/Deus se baseava no temor, no medo da reação divina aos atos praticados pelo espírito. Este medo gerava infelicidade, sofrimento. Deus era visto como um juiz severo, um carrasco que punia a todos aqueles que descumprissem seus mandamentos.

Jesus veio trazer o amor universal, a luz que transforma este relacionamento. O Mestre ensinou que Deus não julga nem condena os espíritos, pois compreende o patamar de evolução de cada um. Aqueles que ainda não vêem Deus desta forma e o colocam na posição de juiz é porque aplicam ao Pai a mesma forma de agirem. São aqueles que costumam procurar sempre o “certo” ou o “errado”, o “bom” ou “mau” nas atitudes de seus irmãos. Estes, não são iluminados.

O iluminado é aquele que utiliza a luz de Jesus, o amor universal. Ele tem este sentimento como base única para entender as coisas que acontecem à sua volta.

Por isto, quando os discípulos pedem para que Jesus diga onde conversar com Ele para buscar confirmações dos seus atos na divulgação da Boa Nova, pode-se entender que o Mestre lhes pede que não o procurem em um lugar físico, mas voltem-se para dentro deles mesmos.

Para que o espírito divulgue o amor universal é preciso que ele saiba que sentimentos estão sendo utilizados em todos os momentos de sua existência. Como pode um espírito falar de amor utilizando a crítica?

Enquanto o espírito tiver conceitos, conhecerá o “certo” e o “errado”, o “bom” e o “mau”. Estes conceitos são sempre formados a partir de sentimentos negativos e, portanto, para se tornar divulgador da Boa Nova, o espírito precisa encontrar dentro dele o amor que Deus lhe dá.

Abstendo-se dos conceitos, o espírito poderá utilizar o amor universal que está dentro dele e iluminar o planeta. Na verdade, a luz não será ele e sim o amor que existe dentro dele, o Jesus que existe dentro de cada um.

“ele ilumina o mundo todo”

Aquele que possui o amor universal não causa sofrimento aos outros, pois tem dentro de si a compaixão. Não condena ou absolve, porque sabe que na sua essência, cada um tem o amor universal.

Quem possui o amor só espalha alegria, não critica, não ofende, não magoa, pois entende que se assim o fizer, estará transformando a caminhada de seu irmão em trevas. O espírito que tem dentro de si o amor clareia o caminho dos irmãos, conduzindo-os para alcançar a felicidade universal, pois serve como guia para a humanidade e será conclamado pelo Mestre a servir, em nome de Deus, na evolução dos outros espíritos.

“Vocês são a luz para o mundo todo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lamparina para por debaixo de um cesto. Ao contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa. Assim, também a luz de vocês deve brilhar para que todos os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem ao Pai que está no céu”. (Evangelho de Mateus – Cap. 5 – vers. 14)

Aquele que serve como luz para a humanidade é o que ensina a Justiça, a Perfeição e o Amor de Deus; é aquele que transforma o relacionamento dos espíritos com Deus em uma relação de entrega e confiança absoluta (fé) e destrói a visão do Deus autoritário, carrasco.

Quem ilumina a vida dos irmãos com o amor universal, ensina que tudo o que acontece é justo, não como punição, mas como reação a uma ação espiritual (sentimento) dele próprio. Ensina que todos os acontecimentos são perfeitos, não para punir erros, mas para que sejam compreendidos com a visão do amor universal, que transforma o descontentamento em uma graça do Pai.

É no Amor de Deus por seus filhos, que o espírito possuidor do amor universal vai buscar a origem dos acontecimentos. Ele entende e ensina que tudo o que o Pai dispõe não tem a intenção de punir, mas que deve servir como lição para a evolução do espírito e deve ser entendido como um ato de amor e não como um apenamento.

Os espíritos não necessitam procurar “imagens” de Jesus para isso, mas sim o “Jesus” que vive dentro de cada um: o amor universal. Não necessitam de um lugar físico para que encontrem este amor, pois ele está espalhado pelo Universo e está dentro de cada um.

“Quando ele não brilha, há trevas”.

Quando o espírito não nutre o amor universal espalha as trevas, a infelicidade, pois entende que a única forma de guiar os outros é impondo a obrigação, o medo.

Para isto ele criou leis que refletem os seus conceitos e gerou a obrigação de que elas fossem cumpridas. Para aqueles que não as cumprem, criou as punições, os castigos. Quando criou estas leis, o espírito dividiu o Universo nos cumpridores e nos não cumpridores, gerando a desigualdade e chamando quem recebeu o descumprimento destas leis de “vítima”. Com isto, criou a “injustiça” e para quem causa as injustiças, inventou as penas.

Esse espírito não entende que a base dos atos está no sentimento e que o espírito não é capaz de praticar ato diferente do que sente. Acha que a intimidação e o medo são sentimentos positivos, pois não conhece a alegria de participar da vida espiritual.

Aquele que tem o amor universal, não coloca lei alguma para que seja cumprida, pois reconhece apenas uma: amar a Deus, a si e aos outros. Por ela, o espírito descobre que amar o próximo não é obrigá-lo a nada (compaixão), mas dentro de uma igualdade promover a felicidade de todos. Por isto não ameaça outros espíritos com penas, mas busca conscientiza-los da prática do amor universal.

Somente quando o espírito tiver a luz dentro de si, ou seja, conscientizar-se da necessidade de amar a todos e, principalmente, a si mesmo, conseguirá amar a Deus. O medo da reação de Deus é um sentimento que afasta o espírito do amor universal.