O evangelho segundo Tomé

Logia 22 - Néctar da vida

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Logia 22

“022. Jesus viu criancinhas que estavam sendo amamentadas. Disse aos seus discípulos: essas criancinhas que estão sendo amamentadas são semelhantes àqueles que entrarão no Reino. Disseram-lhe: Poderemos então, como crianças, entrar no Reino? Jesus disse-lhes: quando fizerdes de dois um e quando fizerdes o interno tal qual o externo e o externo tal qual o interno, e o de cima tal qual o de baixo, e quando tornardes o homem e a mulher em um só, de tal forma que o homem não seja homem e a mulher não seja mulher, quando dispuserdes olhos no lugar de olhos e a mão no lugar da mão, e o pé no lugar do pé, uma imagem no lugar de uma imagem, aí, então, entrareis no Reino”.

“essas criancinhas que estão sendo amamentadas são semelhantes àqueles que entrarão no Reino.”

Não é o primeiro ensinamento no qual Jesus afirma que, para o espírito entrar no reino do céu, necessita ser como uma criança. Neste mesmo Evangelho existem outros avisos de Jesus neste sentido (logias 04 e 15), mas agora o Mestre está falando de uma criança que está sendo amamentada.

Para compreender este ensinamento temos que relembrar a logia 15, onde Jesus nos afirmou que a mãe e o pai de um espírito é Deus. Todo espírito é gerado pelo Pai Supremo e não provém de uma mulher. Portanto, quem está “amamentando” este espírito que entrará no reino do céu é o próprio Deus.

A criança quando se amamenta no seio materno, retira de lá o néctar de sua vida, o alimento básico para sua sobrevivência. Quanto faz a comparação Jesus afirma que o espírito para entrar no reino do céu deverá retirar o néctar da sua vida, o alimento básico para sua sobrevivência, diretamente de Deus e não buscar o alimento externamente a Ele.

Para que o espírito na carne consiga alcançar o reino do céu é necessário que ele entenda que toda a sua vida provém de Deus e que é o Pai que provê tudo o que ele necessita para subsistir e que nada pode advir de coisas materiais.

O salário recebido pelo espírito na carne não é pago pelo patrão porque ele prestou bons serviços, mas é dado por Deus de acordo com o merecimento de cada um (merecimento positivo ou negativo). O filho não é resultado da união do espermatozóide com o óvulo, mas sim da ordem de Deus para que esta união acontecesse.

O carro que bate não foi por imperícia do outro motorista, mas Deus que colocou os dois no mesmo espaço físico no mesmo momento. O ladrão que rouba seus pertences materiais não o fez porque quer, mas porque Deus lhe mandou fazer isto (um merecia roubar ou estava em prova ou missão e o outro, o roubado, precisava, estava em missão ou merecia passar pelo roubo).

A pessoa que lhe contraria não o faz porque quer ou por quaisquer outros motivos, mas porque Deus direcionou os sentimentos negativos dela contra você. O espírito que se vicia não o faz por fraqueza ou problemas emocionais, mas porque Deus lhe conduziu ao vício, de acordo com seus sentimentos, missões ou merecimento.

O assassino que consegue tirar a vida carnal de um espírito não o faz por premeditação, mas porque Deus o fez apertar o gatilho para que o tiro fatal acontecesse ( missão, prova ou merecimento de quem matou e de quem morreu). Uma bala perdida nunca esteve perdida, mas acertou o alvo que Deus direcionou.

Todos os acontecimentos da vida de um espírito são produzidos por Deus e não podem ter causa na matéria ou nos desejos dos seres humanos. Aquele que não entende esta verdade universal tira o néctar da sua vida das coisas materiais e não de Deus.

Não importa o que Deus faça acontecer estará certo, pois Deus é a Inteligência Suprema do Universo. Não importa o que seja, o acontecimento será justo, pois Deus é a Justiça Suprema e tudo o que acontece tem como objetivo a evolução do espírito, pois Deus é o Amor Infinito.

Enquanto o espírito na carne sorver o néctar de sua vida da materialidade não encontrará estas verdades. Verá injustiças, erros e sofrerá. Por este motivo não poderá entrar no reino do céu, pois lá não existe lugar para sofrimento ou injustiças.

Entretanto, por suas características, Deus dá o néctar da vida para os espíritos de acordo com a lei da ação e reação. Conforme o sentimento que o espírito escolhe para reagir a determinado acontecimento, Deus lhe dá o próximo acontecimento.

Enquanto o espírito possuir sentimentos de posse de bens materiais, Deus estará sempre lhe enviando situações que provem que ele não tem controle nenhum sobre esses bens. Somente quando o espírito desprender-se das posses, Deus afastará os acontecimentos que possam afetar estes bens.

O desencarne pode acontecer por dois merecimentos: positivo ou negativo. No merecimento positivo, o espírito já cumpriu tudo ou boa parte do que veio fazer com sucesso e por isso é chamado a auxiliar de outra forma os seus irmãos; o negativo é quando Deus verifica que este espírito continua afastado da procura do amor universal e isto poderá prejudicá-lo ainda mais.

Em ambos os casos é Deus quem escolhe o agente causador do desencarne do espírito. Se o desencarne tem que ser violento ou traumático, para servir de prova ou pena a outros espíritos, Deus utiliza-se de quem tem muito sentimento negativo (ódio) e o penaliza, transformando-o em um assassino.

Sorver o néctar da vida de Deus é estar sempre atribuindo a Ele a causa primária de todos os acontecimentos e reagir a eles com o sentimento do amor universal: alegria, compaixão e igualdade.

Jesus, então, não poderia apenas dar o aviso, mas precisava ensinar como o espírito deveria agir para viver no reino do céu.

“quando fizerdes de dois um e quando fizerdes o interno tal qual o externo e o externo tal qual o interno”

Para se viver no reino do céu é necessário que o ser humano saiba que é um espírito vivendo em uma carne. Fazer de dois, o que está dentro (espírito) e a imagem externa (ser humano) um só: o espírito filho de Deus.

“e o de cima tal qual o de baixo”

Entender que este espírito deve viver dentro desta matéria densa como vivem os espíritos fora dela, ou seja, viver como aqueles espíritos que acreditamos que estejam acima, ou seja, reagindo a todos os acontecimentos com fé e o amor universal.

“e quando tornardes o homem e a mulher em um só, de tal forma que o homem não seja homem e a mulher não seja mulher”

A luta pela igualdade de direitos entre sexos quer transformar a mulher em homem e vice-versa, mas Jesus afirma que não é este o procedimento correto do espírito para poder viver no reino do céu. Não basta apenas atribuir direitos iguais: é preciso que não haja distinção entre eles.

O espírito que vive no reino do céu não reconhece diferença sexual, pois sabe que o espírito não possui sexo. Reconhecer que possa existir diferença, mesmo que material, é prender-se à imagem do corpo físico. Aquele que sorve o néctar de Deus não se atenta a formas, pois estas sempre trarão traços físicos diferentes. Para que o espírito entre no reino do céu ele tem que alcançar a igualdade plena: não só nos direitos, mas também na essência espiritual.

“quando dispuserdes olhos no lugar de olhos e a mão no lugar da mão, e o pé no lugar do pé”

São os sentidos do corpo físico que captam as percepções que levam o espírito a dar “valores” às coisas. Quando Jesus afirma que para entrar no reino do céu é preciso alterar a fonte de percepção, está ensinando que o espírito deve alterar os seus “valores”.

Estes “valores” ou conceitos são determinados pelo sentimento que o espírito utiliza para raciocinar. Aquele que sorve o néctar de sua vida diretamente de Deus e não da matéria sabe que a única essência que deve “enxergar” nas coisas é o amor universal.

Para se viver no reino do céu é preciso alterar a “visão” que se tem de todos os acontecimentos, buscando sempre a Justiça Perfeita, a Inteligência Suprema e o Amor Sublime como fonte de todas as coisas. Com esta visão, encontra-se sempre a alegria e a igualdade que geram a compaixão.

“uma imagem no lugar de uma imagem”

Todo ser humano é um espírito que mora dentro de uma forma constituída por uma massa carnal: esta é a imagem que deve ter aquele que quer entrar no reino do céu.

O espírito não possui forma (“é se quiserdes, uma chama, um clarão ou uma centelha etérea”. – Livro dos Espíritos – perg. 88): é apenas a massa material que ele ocupa, que tem.

Para que o espírito possa viver no reino do céu é necessário abolir toda e qualquer forma e entender que ele é apenas uma chama ou um clarão que é gerado por Deus e que vive para auxiliar este Pai na Sua obra.