O evangelho segundo Tomé

Logia 21 - Discípulos de Jesus

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“021 – Disse Maria a Jesus: A que se parecem teus discípulos? Ele lhes respondeu: Eles são como crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo aparecerem e lhes disser: devolvam nossos campos, eles se despojam de suas roupas e diante deles lhes devolvem os campos. Entretanto, eu digo: se o dono da casa souber que o ladrão vai vir, ficará de vigia e não o deixará entrar na sede de seu reino para levar seus haveres. Deveis, então, tomar cuidado com o mundo; cingi fortemente vossos rins para que os salteadores não encontrem uma forma porque encontrarão o proveito que imaginais. Deixai que haja entre vocês um homem compreensivo; quando a fruta amadurece, ele vem depressa, com a foice na mão e a colhe. Aquele que tem ouvidos que ouça”.

(Os discípulos de Jesus) “são como crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence”

Jesus não está falando de todos os habitantes do planeta Terra, mas apenas de seus discípulos. Também não está se referindo apenas àqueles que se encontravam na carne junto com ele, mas a todos aqueles que aprenderam os seus ensinamentos e estão buscando viver uma vida espiritual, mesmo ainda presos à matéria carnal.

O Mestre diz que esses compreendem que o planeta Terra não lhes pertence, ou seja, que residem aqui apenas para uma etapa da sua evolução espiritual. Eles entendem que todas as coisas do universo pertencem a Deus (Senhor das terras) e que são colocadas à disposição do espírito como instrumentos de sua prova.

Esta consciência é alcançada com a compreensão e aplicação das Verdades Universais (ver “Apresentação” – “Doutrina Espiritualista Ecumênica”) na vida carnal. Discípulos de Jesus são aqueles que não se prendem à forma das coisas materiais, mas sabem que essas coisas são provas para que alterem a essência que aplicam a elas para o amor universal.

 Ser discípulo de Jesus é colocar em prática as Cinco Verdades Universais.

“Quando os donos do campo aparecerem e lhes disser: devolvam nossos campos, eles se despojam de suas roupas diante deles e lhes devolvem os campos”

O dono do campo (planeta Terra) é Deus, mas aqueles que não buscam a elevação espiritual consideram-se donos do planeta, ou seja, os detentores da verdade. É a estes que Jesus está se referindo neste texto.

Para que um espírito consiga colocar em prática as Cinco Verdades Universais (ser discípulo de Jesus) é preciso que ele não possua mais conceitos. Buscar a elevação espiritual é se despir de seus conceitos.

No entanto, esta busca não deve levar a um novo conceito: “ninguém pode ter conceito”.

Buscar a sua elevação espiritual e achar que todos também devem fazê-lo, é um novo conceito, pois Deus deu a cada um o livre arbítrio, ou seja, a opção de escolher o sentimento que quiser.

Nenhum ser é obrigado a buscar a sua elevação espiritual, apesar de isto acontecer um dia. Portanto, para ser discípulo de Jesus o espírito não pode querer impor que os outros tenham que buscar a sua elevação espiritual.

Agir desta forma é dar àqueles que se sentem dono do campo o direito de sentirem-se assim. Por isso o discípulo de Jesus não reage quando o dono do campo quer a posse deste. Quando um ser humano afirma que ele está com a verdade (contraria os conceitos do outro), o discípulo de Jesus não discute, doa a razão.

É a este despojamento que Jesus está falando nesta logia. O discípulo de Jesus não exige que o ser humano não tenha conceitos, ou seja, abdique da verdade, mas pratica ele este ato.

“Entretanto, eu digo: se o dono da casa souber que o ladrão vai vir, ficará de vigia e não o deixará entrar na sede de seu reino para levar seus haveres. Deveis, então, tomar cuidado com o mundo”.

A elevação espiritual só é alcançada quando o espírito comprova os conhecimentos que recebe e não apenas pelo fato de ter entrado nesse conhecimento. Por isto, qualquer ensinamento que o espírito receber no sentido da sua reforma íntima será posto à prova por Deus.

Se um espírito está buscando eliminar seus conceitos, Deus providenciará acontecimentos onde a existência ou não destes conceitos será colocada à prova. Se alguém tem conceito negativo a respeito da cor vermelha, por exemplo, Deus fará aparecer esta cor na sua frente para ver se o conceito ainda está ativo.

O instrumento utilizado por Deus (ser humano ou objeto) é o “ladrão” que Jesus está se referindo neste texto: ele rouba a paz do espírito, pois o levará a escolher outro sentimento que não o amor para reagir aos acontecimentos.

Quando Jesus orienta aos seus discípulos para estarem vigilantes com o mundo, fala exatamente dos ladrões, ou seja, todos os outros seres. Como ensinado, todos são o “sal da humanidade”, ou seja, instrumentos de Deus para auxiliar os outros na sua elevação.

“cingi fortemente vossos rins para que os salteadores não encontrem uma forma porque encontrarão o proveito que imaginais”.

O espírito encarnado não sabe quando a sua intenção de evoluir será colocada à prova, mas sabe que será. Os discípulos de Deus compreendem que a vida carnal é uma constante prova onde Deus coloca as situações para o espírito responder com amor ou não.

Por isto Buda nos ensinou que devemos viver com atenção plena a cada acontecimento e Jesus avisou que para se conseguir a elevação espiritual é preciso viver em vigilância e oração. Não basta apenas a intenção de evoluir mas é preciso estar sempre preparado para comprovar esta intenção.

Muitos dizem que estão procurando a sua elevação, mas vivem a vida sem atenção plena e, por isso, não conseguem colocar em prática os ensinamentos. É desta desatenção que os mensageiros de Deus tiram proveito para conseguir acabar com a paz de espírito do ser.

Os discípulos de Jesus, além de procurarem conhecer os ensinamentos e colocá-los em prática, vivem com atenção plena para ver se os atos que praticam refletem o despojamento dos conceitos.

“Deixai que haja entre vocês um homem compreensivo”

A elevação espiritual não é um jogo onde é preciso haver um vencedor. Todos chegarão na elevação, mas cada um a alcançará dentro do seu tempo, no seu ritmo.

Esta aceitação é fundamental para a formação de um grupo ou Sangha, como definiu Buda, para que se viva com consciência e harmonia. Este grupo ou coletividade que busca o mesmo ideal é importante para auxiliar o ser na sua elevação, pois o trabalho para a eliminação dos conceitos e as provas são difíceis para o ser.

Assim, dentro deste grupo não pode haver disputas sobre quem é o melhor, quem conseguiu maior grau de evolução. Entretanto, como cada um alcançará a evolução em seu tempo, alguns poderão ser mais rápidos que o outro. Este não deverá ser o “vencedor” de uma competição, mas o participante da Sangha que mais colocará em prática os ensinamentos. Se isto é verdade, deverá então este espírito ser aquele o maior doador das verdades para os outros.

No próprio grupo de apóstolos de Jesus houve uma busca pela “vitória”:

O que é que vocês estavam discutindo no caminho?

Mas eles ficaram calados porque no caminho tinham discutido sobre qual deles era o mais importante. (Marcos – 9,33)

Os discípulos disputavam entre si o direito de ser o líder depois que Jesus houvesse desencarnado. A estes o Mestre ensinou:

“Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos”. (Marcos – 9,35)

 

“quando a fruta amadurece, ele vem depressa, com a foice na mão e a colhe”

O homem compreensivo que Jesus pede que deixe existir nesta logia é aquele que mais rapidamente consegue compreender os ensinamentos e os coloca em prática. Esta “velocidade” é determinada apenas pela dedicação que cada um tem na sua busca e não por fatores como inteligência ou cultura, pois Deus dotou todos os espíritos com igual capacidade.

No entanto, aquele que evoluir mais depressa não será o comandante do grupo, mas sim o mais simples, aquele que estará sempre à disposição para servir o próximo. É isto que Jesus diz quando fala que ele deve estar sempre com a foice na mão para colher as frutas que amadurecerem.

“Aquele que tem ouvidos que ouça”

Este é o ensinamento de Jesus para aqueles que querem se tornar seu discípulo:

1o – Buscar a compreensão das Verdades Universais;

2o – Buscar a prática dos ensinamentos;

3o – Viver com atenção plena para superar as provas que Deus coloca;

4o – Buscar viver em uma coletividade que apóie este processo;

5o – Viver servindo todos.

Quem tem ouvidos que ouça, pois Jesus já avisou:

“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não serve para ser meu seguidor. Quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não serve para ser meu seguidor. Só pode ser meu seguidor quem pega a sua cruz e me segue. Quem se esforçar para conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perder a sua vida por minha causa vai achá-la”. (Mateus – 10, 37)