O evangelho segundo Tomé

Logia 20 - O abrigo

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Logia 20

“020 – Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos com que se parece o Reino dos Céus. Ele lhes disse: é como a semente da mostarda, a menor de todas as sementes. Mas quando ela cai na terra arada, produz grandes galhos e se torna um abrigo para os pássaros do céu”.

“diz-nos com que se parece o Reino dos Céus”

Na logia 03, Jesus nos ensinou que o “Reino dos Céus” não é um espaço físico, mas que a sua essência é o amor universal.

Neste ensinamento os apóstolos pedem a Jesus que compare este amor com alguma coisa existente para que eles possam compreender melhor a importância deste sentimento.

“é como a semente da mostarda, a menor de todas as sementes”

Jesus compara o amor universal com a semente da mostarda: a menor de todas. Com este menor Jesus não fala de tamanho físico, pois o sentimento não o possui, mas ensina que o amor universal é o mais simples dos sentimentos. Para se aprender sobre o amor universal não são necessárias fórmulas mágicas, leis pormenorizadas, estudos profundos, mas uma única coisa: amar. Para se encontrar o amor universal é necessário praticá-lo.

Não há estudo que ensine a um espírito o que é felicidade, enquanto ele não a sentir. É necessário que se compreenda a diferença entre satisfação e felicidade, mas enquanto o espírito não se propuser a sentir a felicidade, eliminando os conceitos que apenas o satisfazem, não conseguirá entender o que é o amor.

Nada pode ensinar um espírito a não causar sofrimento aos outros, a não ser que ele se proponha a vigiar-se constantemente. Porém, ele também não pode sofrer neste processo e, por isto, tem antes que reconhecer que nada sabe sobre as outras pessoas e nada pode “achar” ou querer entender, para que possa encontrar o amor universal. Isto ninguém ensina ou prepara: é necessário que se pratique constantemente.

A igualdade não pode vir a partir de leis que obriguem o seu cumprimento e sim da observação da ação de Deus sobre todas as coisas. Ninguém pode obrigar ou ensinar a igualdade, pois o próprio “professor” já será superior ao aluno... Por isto Jesus afirmou que Deus “ensina aos simples (aqueles que não procuram ensinar nada) o que esconde dos sábios (os professores)”.

Enquanto o ser humano for buscar ensinamentos profundos e por eles pautar a sua vida, não alcançará o amor. Enquanto estiver na procura esquecerá uma coisa: de amar. Os simples, por não conhecerem obrigações e leis a seguir e ritos a praticar, apenas sentem o amor, e por isso amam.

Todas as leis, obrigações e ritos que os seres humanos inventaram para poder se unir a Deus são frutos do sentimento do poder. A vida foi dificultada criando-se regras apenas para que alguns possam ser considerados sábios e exercerem seu poder sobre os outros.

O espírito necessita aprender que o amor é simples. O amor não impõe regras, não cobra atitudes, não necessita de nada para ser sentido. Ele sequer necessita ser correspondido para existir. Enquanto o ser humano esperar motivos para amar, ele estará necessitando que seus conceitos sejam satisfeitos, entretanto o verdadeiro amor não pode se submeter às vontades pessoais das pessoas.

Já os sentimentos negativos necessitam de uma estrutura complexa para serem sentidos. Para que um espírito acuse o outro de errado, é necessário que ele tenha leis que indiquem o que é certo e o que é errado. É necessária uma observação profunda do ato de outro espírito, uma comparação com as regras estabelecidas, um julgamento para, então, poder afirmar que uma pessoa está errada.

Como já explicado na logia 08, este sentimento só não satisfaz, não mata a “fome” espiritual. Por este motivo o espírito tem que “descobrir” novos motivos para continuar se alimentando de sentimentos negativos. O sentimento é como a “droga” do mundo material: o espírito necessita sempre aumentar a dose de ingestão. Por isso precisa de mais observações, mais raciocínios, mais acusações, para poder alimentar-se de novos sentimentos negativos.

Os sentimentos negativos são complexos porque precisam constantemente de exercícios de raciocínio que busquem captá-los no universo. Já o amor não tem esta necessidade, pois quando se instala, satisfaz o espírito. Não existe necessidade de se buscar razões para se amar, pois quem tem o amor universal, ama sem motivos.

Para se chegar ao ódio é necessário passar por outros sentimentos negativos. Tudo começa com uma ofensa, depois o espírito tem que encontrar motivos para chegar à mágoa. Mais raciocínios são necessários para que a mágoa evolua para raiva e finalmente possa chegar ao ódio.

Para tudo isto o espírito precisa de motivos, ou seja, precisa “criar” histórias (pensamentos) que sirvam de subsídios para dizer que ele está certo em pensar assim. O amor não necessita de nada disso. Quando ele se instala definitivamente se multiplica sempre, mesmo que não haja motivos para isso.

“Mas quando ela cai na terra arada, produz grandes galhos”

Quando o amor se instala em um espírito, ele se expande. Emana-se por todo o seu corpo espiritual e se propaga pelo universo. Aquele que tem o amor dentro de si espalha a felicidade para todos os outros. É uma pessoa que mantém constantemente sua alegria, não importando se está frente a um fato onde ele ganhe ou perca.

O espírito que ama não causa sofrimento a ninguém, pois o amor que sente não o deixa praticar atos desta espécie. Ele está sempre preocupado em auxiliar o próximo, em trazer a alegria onde há a tristeza, a harmonia onde existe a desarmonia.

O amor traz ao espírito o sentimento de igualdade plena entre ele e os outros. Quem ama não desrespeita, não procura comandar, não julga, não se submete. A igualdade plena que o amor universal traz não o deixa cometer nem sentir injustiça nas coisas da vida.

Quem ama não procura satisfação, mas busca sempre a felicidade coletiva. Não tem medo de ficar insatisfeito, pois se não possui conceitos, o que acontecer para ele estará perfeito. Não busca elogios, pois sabe que tudo que acontece provém de Deus e por isso o único que pode ser elogiado é o Pai. Para quem ama não existe a preocupação se os outros espíritos concordam ou não com ele, pois sabe que trabalha para Deus e que apenas Dele espera o reconhecimento.

O poder não faz parte de quem ama. O espírito que ama não busca liderar nada, ser reconhecido, pois se reconhece na sua própria humildade. Entretanto ele também não se humilha, pois sabe que ninguém é superior a ele.

Este amor do espírito contamina todos aqueles que convivem com ele.

“e se torna abrigo para os pássaros do céu”

Os pássaros do céu citados por Jesus nesta comparação são os espíritos, encarnados ou não. Assim sendo, Jesus afirma que o amor universal abriga os espíritos que chegam perto dele.

Quando um espírito exala o amor universal os outros o procuram, como fonte de novo ânimo. Não importa se estes espíritos estão na carne ou não, todos procuram aqueles que “brilham” por possuir o amor universal.

Por isto Jesus avisou que não se acende uma lamparina para se esconder debaixo do armário, mas que ela deve ser colocada no ponto mais alto para que possa servir de orientação àqueles que estão nas trevas.

Aqueles que possuem o amor universal serão sempre requisitados por Deus para auxiliar seus irmãos, tornam-se focos de luz que devem servir para guiar quem não conseguem senti-los. São sempre chamados para missões de auxílio aos irmãos. Recebem acusações, críticas, ou seja, são alvo dos sentimentos negativos dos outros, mas não perdem sua felicidade, pois reconhecem o seu papel na obra de Deus.

Os espíritos fora da carne que sofrem na escuridão dos sentimentos negativos, se aproximam dos espíritos que têm amor, não para prejudicá-los, mas com o sentido de banharem-se nas irradiações do amor. Aqueles que têm dentro de si o amor universal são emissários de Deus para ajudar a humanidade.