O evangelho segundo Tomé

Logia 2 - Reforma íntima

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“002 - Jesus disse: Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e quando encontrar ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo”.

“Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar”

O primeiro recado de Jesus é que os espíritos na carne não devem parar de procurar a vida espiritual, a Verdade Universal.

Será que as pessoas estão realmente procurando a vida espiritual ou estão cedendo às tentações que Jesus enumerou para o planeta? Hoje os seres humanos enumeram diversas necessidades antes de procurar as suas verdades universais.

Todos precisam “fazer a sua vida”, necessitam estudar, trabalhar, para que possam conquistar coisas materiais. Esforçam-se em progredir materialmente, mas esquecem que estes valores materiais terminam com o fim da encarnação.

É preciso que o ser humano altere seus objetivos, premiando a vida espiritual em primeiro lugar, pois esta é consistente e eterna enquanto que a primeira é efêmera e curta.

Para evoluir espiritualmente e alcançar a visão espírito, o Mestre deixou como primeiro ensinamento a necessidade da procura incessante.

Para fazer isto, há a necessidade de que o ser humano esteja vigilante o tempo inteiro nos seus valores espirituais e tenha persistência para não ceder às tentações materiais. Entre estas tentações está a da omissão ("eu não consigo...").

Todo espírito tem que “brigar” consigo mesmo e verificar que a forma que está pensando nada mais é do que hábito. Tem que mostrar claramente a si mesmo que os pensamentos nada mais são do que conceitos enraizados dentro de si, voltados à satisfação material e não espiritual.

O “ser humano” não sabe a realidade das coisas que acontecem, apenas "acha" que elas são de uma determinada forma. Como então pode se pronunciar sobre ela? Utilizar o “achar” e confundi-lo com o “saber” é cessar de procurar a vida espiritual: pára de procurar a Verdade Universal para utilizar o poder de “mandar” nas coisas.

Os “seres humanos” querem comandar a sua vida e a vida dos outros, mas não possuem base para tanto, pois possuem uma visão limitada dos sentimentos com os quais os atos são praticados. Quantas vezes acham que estão sendo amados e na verdade são alvos de outros sentimentos? Ao contrário, muitas vezes identificam ataques onde está havendo compaixão.

Assim, a procura do entender-se como espírito, que encerrará com o processo de transformação “morte”, começa pelo fim do "achar" as coisas, ou seja, utilizar parâmetros próprios para julgar o que está acontecendo. Isto só é conseguido vigiando constantemente a si mesmo.

É necessário estar vigilante para saber se o que se está fazendo está trazendo alegria para todos ("será que deixei alguém triste com este meu pensamento?", "será que eu fiquei triste com ele?"). É também preciso verificar se está sempre presente a compaixão ("será que o meu pensamento está ferindo ou magoando alguém?").

É importante esta consciência, pois ninguém tem o direito de ferir ou magoar outra pessoa, sem que com isso esteja ferindo ou magoando a Deus, que é o Pai, não só seu, mas de todos.

Ninguém tem o direito de dizer aos outros o que quer, o que "acha", obrigando-o a ouvir o que quer dizer. Seu direito acaba onde começa o dos outros.

Enquanto o espírito se vir como “ser humano”, ou seja, o centro de um universo que ele chama de "minha vida", não há como se conscientizar de que é parte de uma coletividade que vive para o Pai.

Além dos sentimentos alegria e compaixão, tem que haver a igualdade. Não há condições de se obrigar as pessoas a fazer as coisas de determinada forma e nem podemos submetê-las às nossas vontades. Cada uma tem o direito de fazer o que quiser, na forma que achar melhor, desde que não fira e nem tire a alegria de ninguém.

A vigilância constante destes três sentimentos traz o mundo de Deus para cada um e, portanto, leva a alcançar a visão de espírito.

 Não pode haver a cessação da vigilância e da procura da vida espiritual, pois se houver a interrupção, o espírito certamente cairá no "pecado", ou seja, nos sentimentos contrários ao amor universal. Quando isto ocorre, o espírito começa a merecer que Deus lhe dê situações negativas e aí, no sofrimento, é muito mais difícil manter este amor.

Não pare nunca de procurar o amor universal

“e quando encontrar, ficará perturbado”

Quem encontrar este amor universal, esta vida espiritual, vai ficar, inicialmente, perturbado, pois a sua vida se alterará completamente. Todas as coisas que estão à sua frente mudarão completamente: deixarão de ser o que eram e terão outro sentido...

A vida mudará completamente porque a vida material, vivida pelos “seres humanos”, nada tem a ver com a espiritual. A vida material é ilusão, não existe.

Os seres humanos, para se sentirem felizes, necessitam que os seus conceitos sejam atendidos para que eles alcancem a “felicidade”. Isto não é felicidade, mas sim satisfação que cessa quando cessam os motivos.

O espírito, por não ter conceitos, vive a felicidade universal, aquela na qual apenas participar das maravilhas do mundo de Deus já satisfaz.

Por não conhecer esta vida, o espírito quando sai da carne pelo processo “morte” fica preso a este planeta, procurando alcançar seus conceitos e a felicidade.

Não está sendo dito que em outros mundos menos densos não existam coisas materiais, mas o que está sendo afirmado é que o espírito vê essas coisas de forma diferente. O ser humano vê as coisas materiais por sua forma, mas o espírito entende o "sentido" de cada uma delas, ou seja, a sua essência.

Tomemos como exemplo uma cadeira. Para o ser humano, ela nada mais é do que pedaços de madeira, espumas e panos reunidos sob uma determinada forma. Para os espíritos que se reconhecem como tal e vivem no mundo espiritual, essas informações são sem importância. Para eles, o que importa é o sentido da existência da cadeira, ou seja, a sua essência.

À cadeira podem ser atribuídos diversos sentidos ou essências: conforto, segurança, descanso, beleza, luxo, orgulho etc. Entretanto, para o espírito pouco importa de que é feita a cadeira, mas sim o sentido para o que ela existe. É a escolha entre estas essências que é a prova que o espírito vem fazer na carne.

Para o mundo espiritual a forma das coisas não tem importância, pois qualquer que seja ela, o sentido ou a essência será sempre a mesma. Não importa se a cadeira é feita de ouro ou de tábua de caixote, ela sempre poderá proporcionar uma essência positiva.

“e ao perturbar-se, ficará maravilhado”

Quando o espírito entender que as coisas valem por sua essência, encontrará o mundo espiritual mesmo nesta densidade de matéria que vive hoje. Ao descobrir este mundo, encontrará o mundo de Deus. Ao ver-se nele, maravilhar-se-á com a sua justiça, beleza e amor!

O mundo de Deus é perfeito pela Perfeição que o criou. No mundo de Deus não existe lugar para injustiça, pois Deus é a Justiça Suprema; não existe lugar para erros, pois Deus é Inteligência Suprema do Universo. No mundo de Deus não existe lugar para tristeza ou infelicidade, pois Deus é o Amor Sublime.

Quando o “ser humano” se transformar em espírito penetrará neste mundo e maravilhar-se-á com todas estas coisas.

O “ser humano” não consegue entender a justiça, pois entende o mundo apenas pelas suas verdades pessoais (“achar”) e não pelas Verdades Universais das coisas. Encontra a injustiça porque acha que ele é que está certo; sofre porque suas verdades não são contentadas e vê o erro, porque não conhece a essência das coisas.

Todo o Universo é regido pela lei da ação e reação: tudo o que ocorre é uma reação a uma ação. Como o “ser humano” imagina-se sempre certo, espera que a reação seja sempre ao seu contento. Quando isto não ocorre, não procura a reação em alguma ação sua, mas acusa Deus de estar cometendo uma injustiça.

O espírito não possui “verdades” individuais e por isso aceita as Verdades Universais. Para ele, tudo o que ocorre é porque ele merecia, ou seja, procura cada ação que originou uma reação dentro de si mesmo e não externamente.

Entendendo a ação de Deus sobre as coisas (Deus Causa Primária), o espírito se maravilha com a perfeição da vida universal e alegra-se por participar dela.

“e reinará sobre o Todo”.

O espírito que conhece as Cinco Verdades Universais não tem verdades individuais que possam ser menosprezadas e por isso não se fere nem se sente injustiçado.

Aceita tudo que lhe acontece como ato de uma Inteligência Suprema, ou seja, não encontra erro; vê sempre a Justiça Suprema em ação e por isso não encontra injustiça; entende que em todos os momentos está presente o Amor Sublime, que busca a igualdade entre todos e a manutenção da alegria universal.

Quando alcançar esta visão, o espírito não mais perderá sua alegria, pois ela não dependerá da satisfação de verdades individuais, não causará sofrimento aos outros, não precisará defender a “sua verdade” e verá como todos são iguais, apesar das diferenças físicas.

Aquele que se considerar espírito, estará apto a conduzir o seu irmão nesta mesma busca, pois aceitará que cada um tenha o seu próprio patamar de evolução e não buscará impor suas verdades aos outros.