O evangelho segundo Tomé

Logia 18 - Vida espiritual

“018 – Os discípulos disseram a Jesus: diz-nos como será nosso fim. Jesus lhes disse: descobristes então o princípio para que possais perguntar sobre o fim? Bendito aquele que se mantiver no princípio, pois que não provará da morte”.

 “diz-nos como será nosso fim.”

Os apóstolos, assim como todos os seres humanos, estavam preocupados com o que aconteceria após a morte carnal e questionaram Jesus como seria a vida espiritual após esta transformação.

“descobristes então o princípio para que possais perguntar sobre o fim?”

Aquele que se entende como ser humano imagina que seu “início” se dá com o nascimento no parto. Ele não consegue ver que já existia anteriormente como espírito. Foi o que Jesus perguntou: se eles reconheciam este seu princípio.

 O ser humano, para poder entender a vida depois da carne tem que se ver como espírito e viver a vida material como tal, ou seja, com valores espirituais. Aquele que não aprender durante a vida carnal esta verdade espiritual, não conseguirá entender a vida depois da carne e por isso acabará vivendo da mesma forma que vive na matéria mais densa. O espírito que desencarnar imaginando-se ser humano, ou seja, vivendo pelos seus conceitos, continuará a aplicá-los no plano espiritual. Como não existe “mágica” de transformação com o desencarne, o espírito continuará a achar que é o mesmo, ou seja, continuará a se sentir um “ser humano”.

Como já afirmamos, o espírito é a “inteligência” que habita o corpo denso e se comunica com o mundo exterior pelo processo raciocínio. Esta “inteligência” conterá os mesmos elementos, fora ou dentro da carne. Não existe depuração de “entendimentos” porque houve alteração na matéria densa.

Por isto é necessário que o espírito se altere já, ou seja, passe a compreender a vida dentro da visão espiritual, ou seja, a busca da essência e não da forma. Enquanto o espírito estiver apegado à forma permanecerá com esta mesma visão das coisas, mesmo fora da carne. O espírito que necessita de coisas materiais (forma) irá buscá-las depois do desencarne. A literatura espírita nos mostra exemplos disto com espíritos desencarnados que permanecem dentro de suas casas para protegê-las dos assaltantes e que continuam levando uma vida “normal” como encarnados...

Este também é o motivo das obsessões. Um espírito obsedia outro quando se sente ofendido por ele. Imagina que foi cometida uma injustiça e, quando desencarna, continua com este conceito. Procura então, o “inimigo” e aplica nele sentimentos negativos, como fazia na carne, através do mesmo processo: o raciocínio. Porém, isto ocorre porque o espírito não entende que ninguém pode fazer “mal” a outro, mas que tudo que acontece tem uma origem: Deus. Assim sendo, os atos que foram praticados “contra” ele, foram determinados por Deus na sua forma e intensidade, porque ele merecia ou precisava e não pelo livre arbítrio do ofensor.

É necessário compreender que tudo que acontece conosco é ordenado pelo Pai, como um ato de justiça. Esta compreensão não se alcança apenas pelo desencarne, mas através da reforma íntima.

A reforma íntima que todos os espíritos são convocados a fazer é a troca dos seus sentimentos. Esta troca só poderá ocorrer quando os conceitos que levam ao conhecimento do certo/errado, feio/bonito, bom/mal forem eliminados. O espírito redimido não possui mais estes conceitos e consegue viver na plenitude da felicidade universal.

Mas, como se formam estes conceitos de certo/errado, feio/bonito, bom/mal, etc.?

Todas as regras que formam os conceitos são transmitidas ao espírito recém encarnado a partir do “nascimento” pelos seus pais, família, sociedade, amigos, professores, ou seja, por aqueles que os possuem. O homem é o fruto do seu “meio”, diz o conhecimento atual, ou seja, o homem é fruto dos conceitos do seu “meio”.

Quando a mãe ensina ao filho que existe “hora de comer”, está passando um conceito. A única hora certa para se alimentar é quando chega a fome. Por comodismo ou conforto, o ser humano cria uma hora certa para comer e nem se preocupa se naquela hora está com fome ou não: isto é um conceito.

Este ser humano não se alimenta, mas ingere alimentos, o que é diferente. Alimentar-se é dar ao corpo o que ele precisa na hora que ele precisa. Como o homem não espera este momento, ingere alimentos que muitas vezes sobrecarregam a digestão. Como o seu sentimento ao alimentar-se não foi fome, mas obrigação de comer por estar na hora, este sentimento irá causar problemas digestivos.

O filho aprende que tem hora para dormir, para brincar, para passear, para tudo, mas não consegue fazer isto na hora que os pais querem porque, como espírito não conceituoso, não tem o sentimento que o leve a praticar o ato. Então os pais transmitem para ele o sentimento de obrigação, que, se não cumprido, gerará uma “pena”. Neste momento o espírito recém encarnado aprende que deve possuir conceitos para não sofrer...

Crescendo, a sociedade lhes ensina que para ser homem ou mulher tem que seguir alguns conceitos. O homem tem que brincar de carro e menina de boneca, o homem deve vestir azul, a menina rosa. Desta forma ele estará recebendo os conceitos que “montarão” um mesmo ser humano conceituoso, como o que o ensinou. Com isto, os seus sentimentos vão se alterando.

Esta forma de proceder altera a compreensão que o espírito tem da essência das coisas, pois muda o sentimento que ele possui. Aquele espírito que recém encarnou, cheio de amor, passa a ter como base de raciocínio a obrigação. Aprende que apenas quando os conceitos são satisfeitos existe a felicidade. Por este motivo começa a praticá-los de forma espontânea e habitual. “Morreu” o espírito e nasceu o ser humano...

É a isto que Jesus se refere quando questiona os seus discípulos se eles “descobriram o seu princípio”. Quando o espírito se transforma em ser humano esquece da espontaneidade com a qual praticava as coisas quando era “criança” e só compreende a obrigatoriedade.

É necessário que o ser humano retome aquela forma de ser (sem conceitos), para que possa saber como viverá depois do desencarne.

O espírito quando encarna permanece ainda por um bom tempo (aproximadamente sete anos) sendo assistido diretamente por outro espírito que lhe acompanhará durante toda a jornada na matéria densa: o amigo de encarnação ou anjo da guarda. Por esta assistência, o espírito encarnado encontrará mais facilmente os sentimentos mais puros para que deles possa alimentar-se. Eis a razão pela qual a criança até esta idade, geralmente, não guarda raiva, rancor, frustrações. Ela está sempre de bem com a vida, encontrando a felicidade em todas as coisas.

A partir da idade de sete anos, o espírito começa a sua independência na vida carnal e o livre arbítrio da escolha dos sentimentos se inicia. É neste momento que todas as “regras” colocadas começam a gerar a busca dos sentimentos negativos e os conceitos são formados. Hoje esta idade já é menor, mas o processo ainda é o mesmo.

Por este motivo Jesus afirmou na logia 04 que o homem envelhecido, o ser humano, deve perguntar a um recém nascido sobre o lugar da vida.

“Bendito aquele que se mantiver no princípio, pois que não provará da morte”.

O ser humano que conseguir entender a verdade que ele é um espírito que existia antes do seu “nascimento”, será bendito por Deus. Este sim conseguirá manter-se “criança” até o fim de sua encarnação e, por isso, não passará por um processo de transformação: saberá viver como espírito agora e após o desencarne.

Este é o objetivo inconsciente do ser humano quando sonha com a “juventude eterna”. Não se trata de buscar a juventude da forma, mas a juventude da sua essência: o espírito.

O homem que se reconhece como espírito será eternamente uma criança. Para ele não existirá lugar para certo ou errado, pois compreenderá que tudo provém do Pai. Não terá obrigações, mas fará tudo de uma forma consciente. Não imporá normas nem leis, mas respeitará a individualidade de cada um. Não participará de competições porque reconhecerá a igualdade entre todos e não precisará possuir as coisas. Não buscará ter, mas fará por merecer.

Esta é a vida depois da carne: uma vida igual à do princípio.