O evangelho segundo Tomé

Logia 17 - Vida de Jesus

“017. Disse Jesus: dar-vos-ei o que os olhos jamais viram e os ouvidos jamais ouviram e as mãos jamais tocaram, e o que nunca brotou do coração do homem”.

Jesus fala de sua missão, ou daquilo que veio ensinar aos espíritos na carne. A melhor descrição desta missão pode ser encontrada em dois trechos do Evangelho Canônico de João:

“Ele (Jesus) tinha a vida em si mesmo, e essa vida trouxe a luz para os seres humanos. A luz brilha na escuridão, e a escuridão não conseguiu apagá-la”. (1, 4-5)

“A Lei foi dada por meio de Moisés, mas o amor e a verdade nos vêm por meio de Jesus Cristo”. (1, 17)

A missão de Jesus, também chamada de Boa Nova, foi trazer a luz para o planeta. Esta luz João chama de “amor e verdade”. Podemos, então, dizer que Jesus veio trazer o amor e a verdade sobre as coisas. Entretanto, como o próprio Mestre afirma, este amor não pode quebrar as leis existentes transmitidas por Moisés. Todos os dez mandamentos continuam valendo, mas Jesus nos trouxe a verdade de como cumpri-los.

A lei mosaica é um conjunto de normas que buscam indicar caminhos para os atos praticados pelos espíritos, porém Moisés apenas relacionou as atitudes que deveriam ou não ser tomadas, não ensinou aos espíritos como fazer ou não fazer. Jesus trouxe a verdade, ou seja, o que deve ser feito para não se praticar os crimes contra as leis de Deus: AMAR.

De nada adianta criar uma lei que proíba matar, pois esta lei já existe há muito tempo e, mesmo assim, os assassinatos não acabaram. Isto acontece porque, para não matar é necessário amar e isto foi o que Jesus veio ensinar: a Boa Nova, o amor, que é a verdade de todas as coisas, ou seja, a ação verdadeira que impede que o espírito cometa erros perante as leis de Deus.

Aquele que possui o amor universal não mata, pois sabe que assim acabará com a alegria de muitos outros espíritos. Tem consciência do sofrimento que pode causar aos outros com o seu ato. Entende que este ato seria uma prova de superioridade, pois demonstraria o poder sobre o destino do outro espírito.

Só com o sentimento do amor universal o espírito pode deixar de cometer “crimes”. Enquanto existir apenas uma lei que determine que o ato não pode ser praticado, mas não leve o espírito a tomar consciência de que não pode praticá-lo, ele não entenderá. O sentimento nutrido pelo espírito é que o levará ao ato, e enquanto ele tiver qualquer outro sentimento que não o do amor universal, os atos praticados corresponderão ao seu “desejo”.

Esta é a verdadeira Boa Nova, a verdade de todas as coisas. Quem ama não adultera, não mata nem rouba, pois tem a plena consciência do sofrimento que causará. Por isto Jesus afirma:

“Não pensem que eu vim acabar com a Lei de Moisés e os ensinamentos dos profetas. Não vim acabar com eles e sim dar o verdadeiro sentido deles”. (Mateus – 5,17)

Os sentimentos básicos (alegria, compaixão e igualdade) do amor universal explicam ao espírito porque ele não deve apenas praticar os atos contidos na lei mosaica, mas entender o verdadeiro sentido dela, trazendo a verdade para o planeta. Depois de Jesus, estas leis continuaram e continuam válidas, mas o Mestre trouxe a verdade, os sentimentos necessários para que se alcance a consciência que leve à prática do amor universal.

O amor universal conscientiza o espírito a não praticar determinados atos para não ferir a alegria universal, para não disseminar a tristeza e para não impor ou submeter vontades a outros.

“dar-vos-ei o que os olhos jamais viram e os ouvidos jamais ouviram e as mãos jamais tocaram, e o que nunca brotou no coração do homem.”

Mas, Jesus não só ensinou: Ele praticou. Como disse João, Jesus é o “verbo”, ou seja, a ação. Todos os atos que Ele executou durante a sua passagem na carne foram baseados nos alicerces do amor universal.

Quando Pilatos e os membros do Sinédrio perguntaram a Jesus se Ele era o rei dos judeus, Ele respondeu: “você o está dizendo”. Isto não foi apenas humildade, mas a consciência de que não adiantaria discutir, pois o conceito já estava formado...

Ao alimentar e curar aos sábados Jesus estava provando que os homens não entenderam a lei de Deus, pois afirmou: “se vocês soubessem o que as Escrituras Sagradas querem dizer quando afirmam: - Eu quero que sejam bondosos ...”.

Os seres humanos transformam a lei em conceito, mas se esquecem que acima dela está o amor. Jesus veio exatamente para mostrar que lei alguma pode causar sofrimento para ser cumprida, mas que deve ser seguida com a consciência de praticar ou não o ato.

Na aparente negação de sua mãe e irmãos, Jesus nos ensinou a igualdade. Quando afirma que todos são seus irmãos, Ele mostra que todos somos filhos do mesmo Pai. Com isto ensina a igualdade entre todos.

Quando Jesus afirmou a Judas no momento do beijo: “amigo, o que vai fazer faça logo”, exemplificou o seu próprio ensinamento sobre o sal da humanidade, pois entendeu que estava na carne em missão e que era necessário acontecer o que estava acontecendo, para que a vida de muitos outros espíritos na carne fosse temperada com bom sabor. Isto não foi só desprendimento, mas acima de tudo, um ato de fé, de entrega a Deus. Quando Jesus entregou-se ao calvário sem resistência, submeteu-se à vontade de Deus. O espírito que luta para dominar o seu destino não possui fé, pois não se entrega ao Pai.

Ao expulsar demônios que estavam obsediando espíritos na carne, Jesus nos deu uma prova de que todos podemos expulsar o mal que aflige os outros e a nós mesmos, mas para isso é preciso ter “autoridade”. Esta autoridade, segundo Jesus, provém de Deus, do “Espírito de Deus”. Somente quando o espírito nutrir o amor universal e estiver nas graças de Deus, poderá livrar-se dos sentimentos negativos. Estes sentimentos (“demônios”) são atraídos para o espírito porque ele mesmo os possui e os utiliza.

No templo, Jesus expulsou os comerciantes e nos provou que a compaixão deve ser a consciência do sofrimento causado, mas não pode passar pela benevolência de não alertar aqueles que estão com sentimentos “errados” (negativos). Quando Jesus expulsou o “demônio”, deu um alerta, causando um sofrimento momentâneo, mas evitando, futuramente, um sofrimento maior. Sempre que um espírito conseguir perceber que outro está utilizando um sentimento negativo, deve alertá-lo.

Já na cruz Jesus pediu ao Pai que perdoasse os seres humanos que o negaram e mandaram para a crucificação e, ao afirmar que pedia isto porque eles não sabiam o que faziam, Jesus ensinou o verdadeiro perdão. Perdoar não pode ser um ato baseado na superioridade, de uma forma magnânima. Perdoar não pode ser afirmar que aconteceu um erro que será relevado, porque isto já pressupõe um julgamento (para achar um erro é preciso antes julgar o ato). Jesus disse que eles não sabiam e, assim, entendeu que os homens não haviam cometido erro algum. Este é o verdadeiro perdão: não ver erros.

Curando o filho de um oficial romano, Jesus exemplificou que o espírito não pode ser separado por raças, cor, sexo ou religião, mas que todos são filhos de Deus.

Nada disso tinha ainda sido feito sobre o planeta e por isso nenhum ser humano tinha presenciado ou ouvido. Jesus veio para transmitir e exemplificar a Boa Nova e para que o espírito passa a viver com o mesmo amor que Jesus viveu, é necessário que ele pratique as mesmas coisas e sinta o mesmo sentimento.

Por isto o Mestre afirma que Ele veio para ensinar o que jamais brotou do coração do homem. É necessário que exista o sentimento para que o espírito possa praticar a Boa Nova. Não adianta o ser humano ser um seguidor de leis se esta forma de proceder lhe traz sofrimento. De nada adianta não adulterar com a mulher do próximo, mas desejá-la, não roubar as coisas dos outros, mas ter cobiça, não matar, mas odiar.

Os sentimentos são atos espirituais assim como a fala é um ato material, pois se expandem no universo a partir do momento que são sentidos. As ciências humanas podem não alcançá-los, pois não os conhecem, mas Deus que a tudo vê, sabe que eles foram emitidos. A Boa Nova não é um conjunto de leis ou obrigações de um espírito, mas sim um sentimento. Através desse sentimento o espírito se conscientiza para a necessidade de se vigiar para não mais emitir determinados sentimentos que poderão provocar o sofrimento ou a desigualdade entre todos.

Jesus ensinou a Boa Nova, mas também a exemplificou. O que aconteceu é que até hoje os seres humanos ainda utilizam o nome de Jesus para praticar atos que ferem frontalmente seus ensinamentos. Isto acontece porque sempre entenderam a Boa Nova como um “conjunto de leis” e não buscaram a sua essência: o AMOR UNIVERSAL.