O evangelho segundo Tomé

Logia 16 - Paz

“016. Disse Jesus: os homens possivelmente pensam que vim para derramar a paz sobre o mundo, e o que eles não sabem é que vim para derramar a discórdia na terra, fogo, espada, guerra. Haverá pois cinco em uma casa: três estarão contra dois e dois estarão contra três, o pai contra o filho e o filho contra o pai, e eles serão solitários”.

“os homens possivelmente pensam que vim para derramar a paz sobre o mundo”

O ser humano não conhece a verdadeira paz.

“PAZ – Ausência de lutas, violências ou perturbações sociais, ou de conflito entre pessoas”. (MINI DICIONÁRIO AURÉLIO – 3a. Edição)

Para que essas ausências possam ser alcançadas, o ser humano exige que os seus conceitos sejam satisfeitos, pois só assim consegue viver em paz. Porém, sempre que um ser humano consegue ver realizados os seus conceitos, é porque outros não o conseguiram.

Desta forma, podemos dizer que para um ser humano estar em paz é necessário que outros se submetam aos seus desejos. A contrariedade oriunda desta submissão pode até ficar apenas “dormente”, mas em determinado momento voltará a crescer e, mais uma vez, a paz terminará até que haja submissão de alguém.

Por isto Jesus nos diz que Ele não veio trazer a paz. O amor universal não pode servir para submeter os outros e sim para eliminar os conceitos de cada um para, então, atingir a verdadeira paz: aquela na qual todos serão vencedores.

Jesus não veio para contentar grupos ou correntes e sim para trazer o instrumento de que todos os espíritos devem se utilizar para eliminar os seus conceitos para alcançar a paz. Quando não há conceito que exija que as coisas aconteçam da forma que o ser humano quer, ele aceita pacificamente que todos façam o que bem quiserem.

É o fim da posse da terra, da posse moral sobre os outros (certo/errado). Viver com o amor universal passa necessariamente pelo fim de qualquer posse que o ser humano possa ter. Nada mais sendo propriedade, as lutas cessarão.

A paz sempre é quebrada quando alguém quer possuir alguma coisa. Todas as beligerâncias entre povos ou pessoas, são com a intenção de manter a posse exigida pelo conceito existente. A paz real não necessita de vitória de qualquer dos lados para ser conquistada, pois não há nada a ser conquistado.

“e o que eles não sabem é que vim para derramar a discórdia na terra, fogo, espada, guerra”.

Para eliminar conceitos existentes, os espíritos precisam guerrear, não contra outros, mas consigo mesmos. Precisam estar vigilantes em seus sentimentos para que não caiam na tentação de possuir coisas. Por isto Jesus disse que veio para derramar a discórdia e trazer o fogo, a espada e a guerra.

Para sentir o amor universal é preciso que o espírito discorde dele mesmo, ou seja, do que ele “acha” que é, pois todos os conceitos são opiniões pessoais que o espírito tem que combater ferozmente para aceitar que outros pensem de forma diferente.

 Jesus não veio para trazer a discórdia entre os homens, mas sim entre o espírito e ele mesmo. É preciso que o espírito discorde de si mesmo, dos seus conceitos, para que alcance a verdade universal das coisas. Enquanto ele estiver atrelado às suas opiniões não conseguirá ver que todos estão certos, pois ele imagina que só ele está correto.

É o fogo do amor universal que deve queimar todos os sofrimentos oriundos dos conceitos que determinam o que é certo ou errado. Esta alegria deve servir de espada para ferir mortalmente todos os sofrimentos ou angústias que advêm quando o conceito não é premiado. Para isto é necessário que o espírito esteja vigilante e tenha a consciência de que aquela forma de entender as coisas não passa de um conceito.

Esta é guerra que Jesus vem trazer: a guerra íntima que levará à reforma.

A compaixão, que é um dos sentimentos básicos do amor universal, tem que servir como base para que o espírito discorde de si mesmo e assim não cause sofrimento aos outros. Esta consciência deve servir como “fogo para queimar”, ou espada para eliminar todos os conceitos que possam ferir os seus semelhantes.

Estar em guerra consigo mesmo é vigiar, não permitindo que sentimentos negativos possam servir de base para raciocínios que causem sofrimento aos outros.

Aquele que nutre o amor universal possui a visão que leva à igualdade entre todos. Esta igualdade tem que servir ao espírito para discordar quando perceber que os seus conceitos estão querendo transformá-lo em superior ou inferior aos outros. Quando isto acontecer, a igualdade deve “queimar” este sentimento, eliminando o conceito que busca ganhar algo para manter a sua satisfação pessoal, através de um elogio que o torne “famoso”, “conceituado”. Utilizando a igualdade entre todos, o espírito pode acabar, com um “golpe mortal”, com o conceito de superioridade.

Foi isto que Jesus trouxe ao planeta e seus ensinamentos não devem servir para que o espírito julgue e condene os outros, mas sim para que se vigie e promova consigo mesmo as batalhas necessárias para a sua reforma íntima. Só desta forma o espírito encontrará a paz.

O ser humano, aquele que dá vazão aos seus conceitos, necessita transformar os conceitos dos outros para que estes passem a entender e agir como ele, pois só assim ele encontrará a paz. Como isto não acontece, ele subjuga, pela força, os conceitos alheios e pensa que foram alterados. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, a necessidade dos outros de satisfazerem seus próprios conceitos subjugados voltará e, então, nova imposição acontecerá...

Por este motivo a “guerra” não acaba entre os povos e as pessoas do planeta. Esperam que o fim seja sempre uma vitória de uma das partes, mas o amor universal não pode dar vitória a ninguém, pois sabe que assim estará causando sofrimento ao perdedor e tornando-o inferior.

“Haverá, pois cinco em uma casa: três estarão contra dois e dois estarão contra três, o pai contra o filho e o filho contra o pai.”

Só quando o espírito se cansa de nutrir os sentimentos de sofrimento é que ele procura alterar-se para parar de sofrer. Por isto é que Jesus se encarrega de aproximar pessoas com conceitos diferentes para que elas se ataquem até entender que nunca haverá vencedor ou vencido, pois não há superior ou inferior.

Sempre em um mesmo grupo serão reunidos espíritos que possuem conceitos diferentes e a reforma íntima estará em se consagrar o amor universal entre eles e não em procurar o domínio do conceito dos outros.

Esta é uma situação que o espírito tem que passar para provar que já possui o amor universal, para que alcance a evolução espiritual e possa auxiliar seus irmãos na escalada. Jesus disse que somos o sal para a humanidade, ou seja, o tempero da vida dos outros!

Compete ao espírito aprender a abrir mão de seus conceitos para poder temperar a vida dos outros com um bom sabor, mas enquanto ele quiser que a vida dos outros seja regida pelos seus conceitos, o espírito estará temperando essa vida com sabor diferente do que realmente deveria ter.

Isto ocorre em todos os grupamentos de espíritos, inclusive no familiar. Como já transmitido aos espíritos na carne, este é o maior campo de provas de um espírito. É aí que estão reunidas pessoas com conceitos opostos para que uma aprenda a aceitar a outra da maneira que ela é.

O pai deve educar o filho, mas não para o que ele acha que deve ser e sim para que esse espírito evolua sem conceitos, nutrindo o amor universal. O filho deve protestar contra os argumentos paternos baseados no conceito “eu acho que deve ser assim”. Entretanto todos os dois devem percorrer este processo sem se ferir. Para que isto aconteça é necessário que não existam conceitos pré-definidos. Tudo sempre estará “certo” desde que feito com alegria, sem “ferir” os outros e mantendo a igualdade entre todos e tudo estará sempre “errado” quando causar sofrimento e for imposto pela superioridade oriunda do exercício do poder.

“e eles serão solitários”

O espírito que nutre o amor universal é um solitário. Isto não quer dizer que ele sofra de solidão, mas sente-se desta forma porque entende que ninguém lhe acompanha nesta jornada.

A quebra dos conceitos é uma luta solitária, que o espírito tem que travar consigo mesmo. O “fogo” do amor universal deve ser colocado no que o espírito tem de mais íntimo: o seu pensamento; a “espada” do amor universal deve exterminar o pensamento que julga atos, fatos e pessoas, pois sabe que neste julgamento o código usado é formado pelos conceitos pré-existentes.

 Por tratar-se de uma luta íntima, apenas o próprio espírito poderá travá-la, pois ninguém pode alterar os seus conceitos, a não ser você mesmo...

Para esta batalha foi que Jesus nos ensinou o amor universal.

É necessário vigilância nos pensamentos para afastar todos os sentimentos que causem sofrimentos, sabendo que eles provêm de conceitos não contemplados; é necessário que se eliminem todos os pensamentos que possam provocar sofrimento aos outros, sabendo que isto acontece porque os outros não concordam com você; é preciso “queimar” os pensamentos que tragam uma visão de superioridade ou de inferioridade, uma vez que estes dois sentimentos são apenas conceitos,

Este é o amor universal que Jesus trouxe e praticou e continua vigilante para que ele continue “ardendo” e “queimando” todos os conceitos.