O evangelho segundo Tomé

Logia 13 - Conceitos

“013. Disse Jesus aos seus discípulos: fazei uma comparação e dizei-me com quem me pareço. Simão Pedro respondeu-lhe: és como um anjo justo. Mateus lhe disse: és como um sábio. Disse-lhe Tomé: Mestre, meus lábios são totalmente incapazes de dizer-te com quem te pareces. Jesus disse: não sou teu Mestre porque bebeste e te tornastes ébrio com a fonte borbulhante que te desvelei. E ele o tomou, levou-o à parte e lhe disse três palavras. Quando Tomé tornou para junto dos companheiros, perguntaram-lhe: que te disse Jesus? E Tomé respondeu-lhes: se vos disser uma só das palavras que ele me disse, pegareis pedras e me apedrejareis; e sairá fogo delas e sereis queimados”.

“Fazei uma comparação e dizei-me com quem me pareço. Simão Pedro respondeu-lhe: és como um anjo justo. Mateus lhe disse: és como um sábio. Disse-lhe Tomé: Mestre, meus lábios são totalmente incapazes de dizer-te com quem te pareces”.

Ao questionar sobre com quem se parecia, Jesus estava fazendo um teste com seus discípulos: queria saber se eles ainda se imaginavam com capacidade de fazer julgamentos.

O espírito, que é a inteligência, possui um sistema através do qual exterioriza seus sentimentos: o raciocínio ou pensamento. Este sistema consiste em analisar as percepções recebidas através dos órgãos do sentido do corpo físico, chegando a uma conclusão que direcionará os atos a serem praticados.

No processo de análise, os espíritos recorrem a informações anteriores que se encontram armazenadas no que é conhecido como memória. Assim, a percepção de agora será analisada com base em decisões já tomadas em raciocínios anteriores que ficaram armazenadas nesta memória. A estas conclusões anteriores chamamos “conceitos”.

Os conceitos são, portanto, decisões que o espírito já tomou sobre determinados assuntos e que ficaram à sua disposição para futuras análises. Desta forma, quando um espírito experimenta, por exemplo, pela primeira vez uma fruta, promove uma análise de sabor, forma e cheiro, chegando a uma conclusão: gosto ou não. Quando novamente esta fruta for percebida pelos órgãos dos sentidos do corpo físico, o espírito recorrerá a esta decisão para saber se comerá ou não a fruta.

Podemos, então, afirmar, que os conceitos refletem o entendimento ou juízo que cada espírito faz sobre determinada coisa. São, portanto, verdades individuais e não exprimem a verdade universal.

Quando o espírito não gosta de alguma coisa ele diz que aquilo é “ruim” ou que “não presta”. Ao tomar esta decisão, ele está apenas se baseando em conceitos seus, ou seja, se o gosto o satisfaz ou não.

Mas a fruta que é boa para uns, também pode ser ruim para quem não gostou do seu sabor, forma e cheiro. Assim sendo, quem está certo: quem achou a fruta boa ou quem a achou ruim? Nenhum dos dois. A fruta não é boa nem é ruim, é apenas um alimento. O adjetivo que o ser humano coloca nas coisas é somente fruto de seus “conceitos”, do seu “achar” e não a verdade universal.

Para que o ser humano compreenda e se veja como um espírito que habita uma carne, é necessário primeiro que ele acabe com seus conceitos, com seu “achar”, com o seu “querer”. Só assim ele conseguirá entender o mundo de Deus, ou seja, a verdade universal sobre as coisas, pois, para tanto, é necessário que o espírito não adjetive nada. Uma fruta não é boa ou ruim, mas apenas uma fruta; uma pessoa não é feia ou bonita, mas apenas uma pessoa. Quando o espírito deixar de colocar seus conceitos sobre as coisas, poderá alcançar a essência que lhe revelará a sua verdade universal.

Por isto Tomé disse que seus lábios eram totalmente incapazes de dizer com quem se parecia Jesus. Ele era apenas Jesus e nada mais. Quando os outros apóstolos o compararam a outras coisas, utilizaram seus conceitos e julgaram Jesus. Sempre que um espírito utiliza-se de um conceito, ele está praticando um julgamento. Este modo de proceder não é compatível com um espírito elevado que reconhece em tudo obra de Deus e, por isso, sabe que ele mesmo não possui condições para analisar ou julgar.

Mesmo quando o resultado de um julgamento é positivo (certo, bom, bonito), ele não estará compatível com um espírito elevado, pois ainda refletirá o resultado de uma análise anterior. Se um espírito consegue ver que algo está certo, é porque ele comparou com outra coisa que imaginou estar errada. Só existirá o bom enquanto se conhecer o mal e o bonito por causa do feio.

“Jesus disse: não sou teu Mestre porque bebeste e te tornastes ébrio com a fonte borbulhante que te desvelei”

Este é o ensinamento de Jesus sobre o amor universal: não existe nenhuma outra verdade a não ser a verdade universal das coisas.

Quem quer manter a sua alegria e a dos demais não pode deixar de entender que todas as coisas vêm de Deus e por isso são justas, corretas e bondosas. Enquanto o espírito não se afastar dos seus “conceitos”, ele estará preso a uma verdade individual que criará a injustiça, o erro, a maldade, etc.

Só quando o espírito declarar que nada sabe, poderá alcançar a verdade universal das coisas, pois como Jesus ensinou na logia o5: “nada há de oculto que não haja de ser manifestado”.

Eliminando seus conceitos, o espírito não mais sofrerá, pois não haverá desejos próprios para serem contrariados. Quando ele aceitar todas as coisas que existem como provenientes de Deus, encontrará a alegria universal de participar de um universo justo, bondoso e correto.

Enquanto o espírito souber o que é certo ou errado, agirá com base nestes conceitos que certamente não serão os mesmos dos outros. Acabará ferindo os conceitos de seus irmãos, trazendo a eles o sofrimento. Sempre que o espírito colocar seus conceitos em movimento, estará ferindo outros espíritos. Por achar que está certo, acabará se sentindo superior aos outros e dessa maneira terminará a igualdade necessária entre todos para que se possa colocar em prática o verdadeiro amor.

Esta é a fonte borbulhante que Jesus disse que Tomé bebeu e se inebriou.

“E ele o tomou, levou-o à parte e lhe disse três palavras”.

Como Tomé havia bebido desta fonte, Jesus a revelou: alegria, compaixão e igualdade. Estas são as três palavras que Jesus falou a Tomé.

“Quando Tomé tornou para junto dos companheiros, perguntaram-lhe: que te disse Jesus? E Tomé respondeu-lhes: se vos disser uma só das palavras que ele me disse, pegareis pedras e me apedrejareis; e sairá fogo delas e sereis queimados”.

Depois que Tomé ouviu as três palavras de Jesus que designam os sentimentos de quem tem o amor universal, voltou aos seus companheiros e estes quiseram saber o que o Mestre tinha dito. No entanto, eles eram espíritos que ainda possuíam conceitos e, por isso, não teriam condições de compreender este amor.

O amor universal não pode ser alcançado através de palavras, mas deve “brotar no coração” de cada um.

De nada adianta ensinar aos espíritos que devem ter alegria, se para eles este sentimento só é alcançado quando tudo está de acordo com os seus conceitos. Na verdade, os espíritos que ainda possuem conceitos não conhecem a alegria, mas, apenas a satisfação pessoal e temporária. Eles dependem de que seus conceitos (achar, querer) sejam satisfeitos para que fiquem alegres. Por isto buscam sempre alterar as coisas do mundo para que elas satisfaçam seus conceitos e não procuram alterar seus conceitos para buscar a essência da verdade universal em todas as coisas.

É preciso que o espírito se altere para encontrar Deus e não fique apenas esperando que Ele se manifeste por meio de “milagres”. É preciso encontrar Deus nas coisas para poder sentir a Sua presença em tudo, suplantando a visão individual.

Se Tomé falasse aos outros discípulos o que tinha aprendido com o Mestre, os seus companheiros não aceitariam e a negatividade criada, voltaria a eles mesmos, (as pedras) e não atingiriam Tomé.

Enquanto o espírito possuir conceitos, ele próprio se “queimará” com os adjetivos que aplicar nas coisas. Sempre que houver um julgamento, seu resultado será também aplicado contra o acusador. É necessário que o espírito abandone seus conceitos para não se “queimar” com os julgamentos emitidos por ele próprio.

Entretanto, a verdade de que não se deve ter conceitos não pode criar um novo conceito: ninguém pode ter conceitos. O espírito que alcança a verdade universal das coisas reconhece o raciocínio conceitual e não obriga o emissor a se mudar, mas se altera para não ofendê-lo. O espírito que não possui conceitos aceita que todos possam tê-los, pois aceita a verdade de todos, sabendo que para cada um existe uma verdade...