O evangelho segundo Tomé

Logia 12 - Justiça e livre arbítrio

“012. Os discípulos disseram a Jesus: sabemos que te apartarás de nós. Quem será aquele que nos vai chefiar? Jesus disse-lhes: No presente estágio, dirigi-vos a Tiago, o Justo para que os assuntos do céu e da terra incorporem-se no ser”.

“Os discípulos disseram a Jesus: sabemos que te apartarás de nós. Quem será aquele que nos vai chefiar?”.

Os discípulos de Jesus, após a afirmação Dele de que em breve retornaria para a pátria espiritual, estavam preocupados em saber quem iria liderar a transmissão da Boa Nova trazida por Ele.

“No presente estágio, dirigi-vos a Tiago, o Justo”.

Jesus referia-se a Tiago, também seu irmão, filho do primeiro casamento de José e pedia aos seus discípulos que seguissem as suas instruções.

Tiago deixou escrito, então, um evangelho com todas as informações que Jesus lhe transmitiu.

Infelizmente, este evangelho ainda não está disponível para que possamos compreender perfeitamente os ensinamentos do Mestre, mas o dia chegará em que toda a verdade aparecerá. Enquanto não temos esse texto podemos, pelo menos, entender nesta passagem a essência da denominação dada por Jesus ao seu irmão: o justo.

Jesus com a Boa Nova, com o amor universal, veio ao planeta ensinar a justiça aos espíritos na carne e Tiago foi quem melhor a revelou.

Os seres humanos não conhecem o que é justiça, pois ela não existe no planeta Terra. O que é conhecido como “justiça”, na verdade pode ser chamada de “reparação” ou “punição”.

Fazer justiça de verdade é não deixar acontecer o que não deve acontecer. A “justiça” terrena só entra em ação depois que um fato aconteceu, obrigando o seu causador à reparação do ato através de uma punição.

Um exemplo comum do que o ser humano chama de “justiça” é quando alguém desencarna “vítima” de uma bala “perdida”, atingido “contra a sua vontade”. A justiça, nesse caso, para o ser humano, será tentar identificar um culpado para punir e lamentar a morte “injusta” de quem não precisava morrer daquele jeito... Ninguém consegue ver nessa “bala perdida” a justiça Divina, a “morte” de alguém que precisava desencarnar nesse dia, daquele jeito!

Analisando o conceito de “justiça” terrena, encontraremos a imagem que quase todas as religiões fazem de Deus: um Pai em um mundo isolado, longe, espiritual, que a tudo assiste sem poder interferir, aguardando o ato ser cometido para julgar o infrator e lhe impor uma reparação (reencarnação) ou uma punição (vida espiritual no umbral ou inferno). Atribuir a Deus a função reparadora e punitiva é compará-lo aos seres humanos que adotam essa “justiça”, é aplicar a “justiça” terrestre ao mundo espiritual...

Entretanto, existe um conhecimento que sempre foi transmitido por todas as religiões: Deus é JUSTO.

No “Livro dos Espíritos”, Allan Kardec nos traz o seguinte texto:

“É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite duvidar da sua justiça, nem da sua bondade”. (Livro dos Espíritos – Comentários à pergunta 13).

É preciso entender que Deus age antes da ação acontecer, ou seja, Ele causa os acontecimentos. Este é o Deus que se revela nas menores e nas maiores coisas: Ele é a Causa Primária de tudo, inclusive dos nossos atos.

Somente com Deus causando as coisas, ou seja, agindo sobre as coisas materiais e os atos dos seres humanos, podem os espíritos alcançar um mundo realmente justo, onde só acontecem coisas perfeitas, pois a fonte destas coisas é a Inteligência Suprema do Universo.

Aparentemente, sem conhecermos todos os conhecimentos transmitidos pela Doutrina Espiritualista Ecumênica, chegamos à conclusão de que o ser humano é apenas um “fantoche” nas mãos de Deus...

Na verdade, Deus é tão magnânimo que concede ao espírito o livre arbítrio, não de atos, mas de sentimentos.

Todo espírito tem o direito de sentir o que quiser, mesmo que não use o amor universal. Com base no sentimento que o espírito busca para reagir a um determinado acontecimento é que Deus lhe dará um pensamento que o levará a praticar um ato. Se um ser humano nutre raiva por outro, Deus lhe dará um pensamento para que ele pratique atos que espelhem esta raiva.

Porém, para manter esta justiça suprema, Deus fará com que os pensamentos sejam canalizados para seres humanos que, por nutrirem sentimentos iguais, mereçam receber este sentimento de raiva e o ato conseqüente dele.

Aquele que nutre raiva não conseguirá praticar atos contra quem não mereça ou não precise recebê-los não havendo, assim, a injustiça.

Assim é a ação de Deus para promover a justiça suprema em todas as coisas.

Se um espírito merece, pelos seus sentimentos, receber atos que espelhem estes sentimentos, Deus providenciará para que os espíritos se encontrem e um dê ao outro o que merecem. Isto é justiça, mas como o ser humano não vê a ação de Deus e imagina que o pensamento é seu, acredita também que pode fazer o que quer, quando quiser...

 “Imaginamos injustamente que a ação dos Espíritos não deve se manifestar senão por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem ajudar por meio de milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é assim; eis porque sua intervenção nos parece oculta e o que se faz com seu concurso nos parece muito natural. Assim, por exemplo, eles provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão reencontrar por acaso; eles inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; eles chamarão a atenção sobre tal ponto, se isso deve causar o resultado que querem obter; de tal sorte que o homem, não crendo seguir senão seu próprio impulso, conserva sempre seu livre arbítrio”. (Livro dos Espíritos – Comentários à pergunta 525).

O ensinamento é antigo, mas o ser humano ainda continua esperando que os espíritos apareçam apenas para realizar coisas “sobrenaturais”. Na verdade, os espíritos estão constantemente ao lado dos espíritos encarnados transmitindo, por ordem de Deus, um raciocínio compatível com o seu sentimento e direcionando este pensamento para praticar os atos decorrentes dele em quem precise e mereça sofrer estes atos.

“Para que os assuntos do céu e da terra incorporem-se no ser”

Os seres humanos não conseguem perceber esta ação da espiritualidade, pois apenas se preocupam em enxergar com a visão do corpo físico, que permite “ver” somente as coisas na densidade material que ocupam. Por este motivo os espíritos encarnados separam o que é do “céu” e o que é da Terra.

Para o ser humano, a espiritualidade existe apenas no mundo espiritual e não na superfície densa do planeta. Aqui no planeta acredita-se que os assuntos são só daqui e que Deus nada interfere ou tem a ver com eles. É esta distinção entre o que é da Terra e o que é do “céu” que acarreta a sensação de injustiça que o espírito encarnado nutre neste planeta.

Para que os “assuntos do céu e da Terra” incorporem-se, é necessário que o espírito quebre esta barreira que separa o mundo espiritual do mundo material. Somente compreendendo em sua profundidade as “Cinco Verdades Universais” é que ele conseguirá visualizar a ação de Deus sobre o planeta, incorporando os dois mundos em um só. Para isto é preciso que o espírito compreenda e veja a justiça suprema de Deus em ação: tudo que acontece é justo, foi executado da forma correta e poderia ser pior, pois foi amenizado pela bondade suprema de Deus.

Sem entender esta vida com estes preceitos, os espíritos não conseguem alcançar a justiça das coisas e, por isso, perdem-se em um mundo onde não permitem a entrada Deus, a não ser quando não conseguem mais ter o controle das situações.

Por isto Jesus afirma que devemos ser guiados por Tiago. Em seu Evangelho estão contidos todos os ensinamentos que levam o espírito a compreender perfeitamente as “Cinco Verdades Universais”. Somente da posse deste conhecimento o espírito poderá incorporar definitivamente os assuntos do céu e da Terra e viver em um mundo de Justiça.

Enquanto o espírito imaginar que ele pode ser capaz de ser a causa primária das coisas que acontecem, estará separando os locais de habitação espiritual, bem como seus “assuntos”.

Enquanto existirem acusações, críticas ou mágoas causadas pelos “outros”, o espírito não conseguirá ver a ação de Deus em tudo e em todas as coisas e ainda achará injustiça.