O evangelho segundo Tomé

Logia 11 - Mundo espiritual

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“011. Jesus disse: o céu passará e também passará aquele que estiver acima dele, e os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão. Nos tempos que comíeis o que era morto, vós os tornáveis vivos; quando vierdes à luz, que havereis de fazer? No dia em que éreis um, vós vos tornastes dois. Mas, quando vos tornastes dois, que fizestes?”.

“o céu passará e também passará aquele que estiver acima dele”

Hoje podemos entender que Jesus não se referia ao céu físico, mas ao chamado “paraíso” ou “mundo espiritual”. O Mestre inicia afirmando que existem dois modos de se entender esse lugar, mas que estes entendimentos acabarão.

O primeiro “céu” é o entendimento dado pelos cristãos não espíritas. Segundo eles, o paraíso é um local onde os espíritos, após saírem da carne, irão para “dormir”, aguardando o dia do juízo final. Este é o primeiro “céu”, que acabou quando Kardec nos trouxe o entendimento da existência de uma “vida” espiritual após o desencarne.

Enquanto os antigos cristãos entendiam o “céu” como um lugar de sono profundo, o plano espiritual, através de Kardec, nos ensinou que existe uma atividade constante neste lugar para auxiliar os espíritos na carne e também como forma de evolução espiritual. Entretanto este novo “céu” ensinado por Kardec e pelos espíritos que trouxeram a literatura espírita depois dele, se assemelha à vida na matéria mais densa, onde, ainda se contempla a forma das coisas. Neste céu ainda existem casas, museus, departamentos, hospitais, escolas, etc, como formas físicas.

Como Jesus afirma, também este céu (de formas físicas) passará, ou seja, este foi um conhecimento necessário como intermediário entre o primeiro “céu” e o que viria depois dele. Isto aconteceu porque as transmissões da espiritualidade não podem dar “saltos”, ou seja, não podem ir além do conhecimento que o espírito na carne pode alcançar e precisa em determinados momentos de sua evolução.

Kardec já nos ensinou que as informações espirituais recebidas em seu tempo foram apenas para aquele tempo e que, quando o conhecimento da humanidade aumentasse, poderiam ser revistas.

O século XX marcou a maior época de evolução dos conhecimentos científicos da humanidade e a preparou para entender melhor as coisas existentes em densidades menores. Por isto está na hora de se acabar com o céu de formas físicas e conhecer mais uma versão, que ainda continuará sendo apenas a que o espírito na carne consegue alcançar e não a verdade definitiva.

Como explicado na “Segunda Verdade Universal”, o mundo dos espíritos não se compõe de forma, mas de essência. No céu, local de vida espiritual em qualquer densidade de matéria, os valores são determinados pela essência que o espírito atribui às coisas materiais e não pela forma destas.

Uma escola não precisa ter paredes, salas, carteiras, mas deve ser um lugar onde se concentram ensinamentos, porque a sua essência é o ensino. Enquanto o espírito estiver preso às formas das coisas, precisará de um lugar específico para estudar onde existam as formas que ele acha necessárias; quando entender a essência, encontrará o ensinamento em qualquer lugar.

No novo céu o espírito não necessitará de uma escola para aprender, mas onde estiver alcançará os ensinamentos que estão espalhados pelo Universo. Por isto, neste céu não existe a necessidade de paredes, quadro negro, carteiras...

Esta é a diferença entre o céu atualmente conhecido (de Kardec) e o novo céu. As construções, as cidades, não mais serão necessárias. Estes locais, como descrito, foram plasmados, ou seja, criados pela espiritualidade superior porque o espírito que ali vivia desconhecia a verdade da essência e ainda precisava de formas.

Quando Jesus afirma que este céu acabará, está dizendo que os espíritos aprenderão a conhecer a essência das coisas e que não mais necessitarão de forma para poder executar atos.

Após esta descoberta, o espírito poderá então alterar as essências que coloca nas coisas para atender aos ditames de Deus: amá-Lo, amar a si e aos outros. Apenas uma essência pode ser colocada em todas as coisas: o amor.

“e os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão”

Mas este céu não poderá ser alcançado superficialmente: é necessário que o espírito pratique esta busca para alcançá-lo. É isto que nos ensina Jesus neste trecho.

Não é porque desencarnou, que o espírito conseguirá colocar a essência do amor nas coisas: é necessário já ter este amor para poder agir desta forma. Morto é todo aquele que não utiliza o amor como essência das coisas e não aquele que desencarna.

Os mortos não estarão vivos, ou seja, aqueles que não conhecerem o amor universal não conseguirão entrar neste novo céu. É preciso praticar os atos que Jesus praticou utilizando-se do amor universal, para poder entrar neste novo céu.

A vida na carne é uma prova, onde o espírito deve aprender a nutrir-se apenas do amor universal. A reforma íntima, ou seja, a alteração dos sentimentos que o espírito nutre, deve ser feita durante a vida carnal e não esperar para mudar-se depois do desencarne.

Somente alimentando-se do amor universal durante a vida carnal (estando vivo), o espírito conseguirá penetrar nesse céu (não morrer). Não existe transformação com a morte física: o espírito continua sendo o mesmo. Enquanto ele não alterar a essência que atribui às coisas durante a vida carnal, não conseguirá evoluir.

“Nos tempos que comíeis o que era morto, vós os tornáveis vivos; quando vierdes à luz, que havereis de fazer?”

A informação da existência da vida espiritual após a morte física acabou com a morte ou sono eterno do primeiro céu, tornando o espírito vivo depois da morte. Mas, como será que o espírito que não se reconhece como tal, ou seja, não entende que as coisas dependem da essência que cada um dá a elas e se vê como ser humano, preso à sua forma, reagirá quando se encontrar no céu? Naturalmente projetará uma vida material (o que sabe, está acostumado) para este lugar.

Ao criar as cidades espirituais, as casas, as ruas, os espíritos desencarnados agem como seres humanos em novo “lugar” de habitação, mas com todos os costumes da vida carnal. Entretanto, se analisarmos o comportamento dos espíritos superiores nestes locais conforme transcritos pela literatura espírita, estes se comportam de forma diferente. Eles não se sentem presos às formas das coisas, mas em tudo buscam essências ligadas ao amor universal.

É esta forma de agir que todo espírito tem que alcançar para poder encontrar-se no novo “céu”, pois se tudo depende da forma que se vê (essência das coisas), o “céu” será sempre igual àquilo que o espírito imaginar. Se um espírito imaginar que quando desencarnar irá adormecer, é justamente isso que irá encontrar: o sono profundo. Se ele imaginar que existem cidades, elas serão encontradas, mas se ele entender a essência destas coisas, encontrará apenas o sentimento e não a forma.

É o que Jesus pergunta neste ensinamento: o que você quer encontrar quando desencarnar? Não existe processo de transformação alguma com a morte física e, portanto, tudo aquilo que imaginar, certamente será encontrado, pois será plasmado pelo seu querer. Entretanto, enquanto o espírito não conseguir encontrar em todas as coisas a essência de Deus, o amor universal, não alcançará a evolução.

Esta é a verdadeira reforma íntima: saber dar a tudo que existe uma essência composta unicamente pelo amor universal.

“No dia em que éreis um, vós vos tornastes dois. Mas, quando vos tornastes dois, que fizestes?”

O espírito ao encarnar transforma-se em dois: um ser humano que tem dentro dele um espírito, que ele não sabe bem o que é.

Mas quando se transforma em dois, o que acontece? Ele se imagina dono da verdade, componente da raça comandante das coisas do planeta e se julga no direito de estabelecer normas através dos seus conceitos. Esta é a descrição do ser humano. É isto que o espírito faz quando se imagina um ser humano que reside em um mundo material, isolando-se de Deus, a quem prende nas igrejas e no “céu” para que não interfira na sua vida. Enquanto o espírito não trouxer Deus para o seu lado, a Ele creditando a causa primária de todas as coisas, não conseguirá encontrá-Lo.

Como encontrar Deus em um mundo que é tão “injusto”? Sempre acontecem coisas diferentes do que o ser humano deseja e, neste momento, ele acusa os outros de estarem errados ou serem maus e a Deus de deixar aquilo acontecer: Deus se torna a fonte da injustiça...

Como viver no “céu” vendo a vida desta forma? Para viver no “céu” é necessário que se encontre a Justiça Perfeita de Deus agindo sobre todas as coisas e isto só será possível quando o espírito abrir mão dos seus conceitos e entender que tudo o que acontece é perfeito e justo, mesmo que ele não entenda desta forma.

É a este isolamento que o espírito chegou em relação a Deus que Jesus se refere na pergunta acima. É isso que faz o ser humano, mesmo o religioso: vive isolado de Deus, levando uma vida independente, na qual se imagina capaz de fazer tudo sozinho. Assim, Deus foi “preso” nas igrejas, às quais recorre quando não consegue dominar a situação. Então, ali, pede a interseção do Pai, mas apenas para que aconteça o que ele quer e não que seja feita a vontade Dele...

De que adianta orar “seja feita a vossa vontade”, se quando Deus a faz o espírito não vê a Sua ação, mas acusa todo mundo de “calúnias”, “ofensas”? É necessário que o espírito entenda como ação de Deus tudo que acontece na sua vida que será, portanto, justo, perfeito e amoroso.

Isto é trocar a essência das coisas pelo amor universal. Apenas quando o espírito aplicar esta essência ele alcançará a visão espiritual, abandonando a cegueira material que confere essências diferentes às coisas. Apenas neste momento o espírito alcançará o novo “céu”, vivendo eternamente na felicidade universal!