O evangelho segundo Tomé

Logia 043 - Posse intelectual

“043. Seus discípulos disseram a ele: quem és tu que dizeis tais coisas a nós? Disse Jesus a eles: pelo que eu vos falo, não sabeis quem sou? Pois vos tornastes como os judeus que amam a árvore, odeiam seu fruto, e amam o fruto mas odeiam a árvore”.

“pelo que eu vos falo, não sabeis quem sou”

Kardec nos ensinou: “um espírito se reconhece pelos seus atos”. Os discípulos estavam procurando saber a origem de Jesus para obter a credibilidade do que Ele falava. Entretanto, um espírito não deve ser reconhecido por sua origem e sim por aquilo que ele pratica.

Como disse João, Jesus era o verbo, ou seja, a ação. Sua vida foi a ação do amor universal. Em todos os seus atos Jesus sempre manteve a felicidade, a consciência do sofrimento pelo qual outras pessoas poderiam passar e todos eram tratados com igualdade. Através da análise destes atos é que os discípulos devem buscar o reconhecimento de Jesus.

No entanto o ser humano não analisa as pessoas por estas características, pois imagina que sabe quais as intenções com que os atos são praticados. Baseia sua análise apenas no seu “parecer” sobre as coisas. É esta forma de proceder que não deixa que o espírito reconheça a procedência dos ensinamentos que recebem.

“amam a árvore, odeiam seu fruto”

Na Bíblia Sagrada a árvore representa o conhecimento das coisas e a fruta a prática deste conhecimento, ou seja, o ensinamento. Neste trecho, portanto, Jesus afirmou que os seres humanos seguidores de religiões (judeus) amam o conhecimento recebido dos enviados de Deus, mas odeiam a prática dos atos baseados nestes ensinamentos.

Todas as religiões foram criadas sobre um conjunto de ensinamentos de um enviado de Deus. Porém, estes ensinamentos objetivaram criar a “felicidade” material e não levaram em conta a atividade espiritual que existe durante a encarnação.

O objetivo do ensinamento das religiões é criar códigos de leis para que sejam seguidos com a intenção de realizar os “desejos” do ser humano durante esta vida: obter a “paz”, mesmo com o sacrifício da vontade alheia; a “felicidade”, mesmo com a infelicidade dos outros; a prosperidade material, mesmo que ela retarde a evolução espiritual; o conforto, mesmo que este não traga paz espiritual.

Quando um conhecimento é transmitido pelos enviados de Deus, deve objetivar sempre a paz espiritual, a felicidade universal, a prosperidade espiritual e o conforto da elevação espiritual. Para que se consiga isso é necessário que haja uma aspiração espiritual e não material. Aquele que realmente deseja a elevação espiritual deve compreender que esta vida é apenas uma ilusão e que as coisas materiais estão aqui para serem compreendidas pela sua essência.

Por isto muitas vezes o ensinamento (ato decorrente do conhecimento) tem que trazer renúncias a valores materiais. Só com a renúncia a estas coisas o espírito pode compreender a essência das coisas que acontecem e reagir dentro das leis de Deus.

Para alcançar o conhecimento trazido por Jesus e pelos outros enviados é necessário que o espírito renuncie ao “eu”, ou seja, ao ser humano. É preciso que sacrifique o seu “querer” em prol do “querer” coletivo (de Deus).

Aqueles que vivem dentro dos preceitos de uma determinada religião, normalmente o fazem porque acreditam que só eles estão certos. Ao agirem dessa maneira, estão contrariando o ensinamento de todas as religiões que afirmam que todos são iguais e o que fazem é amar o conhecimento, mas rejeitar o ensinamento.

Um conhecimento não pode ser aplicado apenas onde o ser humano acha conveniente, mas tem que regular todas as coisas do universo.

Todos os enviados de Deus trouxeram verdades universais e para que um ensinamento seja uma verdade ele precisa ter duas características: ser universal e eterno.

Por universal temos que entender que se trata de uma verdade que se aplica a todas as pessoas e coisas. Portanto, se todos são iguais, não pode existir religião “certa” ou “errada”.

Para se amar uma religião devemos, necessariamente, ter a consciência de que as pessoas podem ter qualquer religião, a que mais se adapte a elas, sem críticas aos que professam outras doutrinas. Amar o ensinamento é ter um ato condizente com ele em tudo.

As verdades universais também têm que ser eternas, ou seja, nunca se alteram. Afirmar que uma religião é a única fonte de salvação para o ser humano, a única detentora da verdade de Deus, é afirmar que antes dela existir, os espíritos não tinham salvação... Isto é acusar Deus de privilegiar os espíritos que vivem agora na carne, em detrimento daqueles que desencarnaram antes desta “verdade” chegar...

O ser humano aplica o conhecimento (transforma-o em ato) em seu próprio benefício, como base para o seu “querer”. O “querer” dos seres humanos se alterou com o passar do tempo, mas a verdade tem sempre que permanecer a mesma. Não pode existir uma “verdade” diferente para cada religião, mas o ser humano crê na que ele professa no momento e considera todas as outras erradas. Mas ao mudar de religião, a antiga é que passará a ser a “errada”... Porém, para uma religião ou outra coisa ser “errada”, isto deveria ocorrer desde o seu início e perdurar pela eternidade para ser uma verdade universal.

Isto acontece em todos os campos da vida. Jesus nos disse que devemos amar a tudo e a todos, pois somos iguais perante Deus. Entretanto o ser humano utiliza a própria lei de Deus, o conhecimento, para quebrar este ensinamento. Criminosos, ladrões, são acusados de quebrar a lei de Deus e são julgados, condenados e tratados de forma diferenciada, como se não fossem Seus filhos também. Jesus, porém, afirmou que devemos amar a todos e não apenas aqueles que cumprem a lei de Deus! A universalidade aplicada ao conhecimento vem nos fazer entender que devemos amar indistintamente.

Quando qualquer pessoa é acusada, o espírito se transforma em “ser humano”, aquele que “ama a árvore, mas rejeita o seu fruto”. Quando gostamos de uma árvore devemos saborear o seu fruto com prazer, ou seja, quando amamos o conhecimento transmitido pelos enviados de Deus, é necessário abrirmos mão do “querer” e do “achar” para conseguir colocar esse ensinamento em prática!

“amam o fruto mas odeiam a árvore”

O ser humano gosta mesmo é do que ele faz e pensa. Tem prazer em julgar os outros, em criar o certo e o errado, o bom e o mau, o bonito e o feio e, assim, demonstra toda a sua rejeição aos ensinamentos de Deus.

Jesus mandou amar a todos, mas “eu acho” que tirar a vida de uma pessoa é um “crime” e, por isso, não amo o assassino como amo minha mãe. Os professores da Lei (doutores das religiões) ensinam o amor incondicional, mas paralelamente dizem que fora da sua religião não há salvação...! Ensinam que todos devem ser iguais, mas acabam com a igualdade quando afirmam que sua religião é melhor que as outras; vivem procurando o ecumenismo, mas na verdade o que querem é a transformação das outras religiões ao que eles chamam de “verdade única”.

Amar a árvore e o fruto é praticar o ato decorrente do ensinamento de forma universal e eterna. Se todos somos iguais, sempre seremos iguais, mesmo quando praticarmos atos diferentes dos outros e quando a religião professada também for outra.

Amar o conhecimento “amar a todos” é colocá-lo na prática sem restrições. É dar a todos o direito de praticar o que acham que devem praticar, sem que haja julgamentos.

Quando Jesus explica porque faz cura aos sábados (logia 27) nos evangelhos canônicos, afirma:

“Se vocês soubessem o que as escrituras sagradas querem dizer quando afirmam: “Eu quero que sejam bondosos e não que me ofereçam sacrifícios de animais”, vocês não condenariam os que não têm culpa”. (Mateus – 12,7)